Eisenhower oportuno

No seu discurso de despedida da presidência dos Estados Unidos, o general Dwight Eisenhower declarou: “Nas esferas do governo, devemos nos proteger contra a influência injustificada exercida pelo complexo militar-industrial. A possibilidade do surto desastroso de um poder mal orientado existe e permanece. Não devemos nunca permitir que o peso desta coalizão ameace as nossas liberdades ou os processos democráticos.”
As palavras de Eisenhower tem muita atualidade.

Com o fracasso do super-comitê parlamentar em definir os cortes do orçamento necessários para reduzi-lo em 1,2 trilhão de dólares, surgiu um problema para o complexo industrial-militar.
Conforme o acordo entre governo e oposição, metade dessa quantia deverá vir de economias nos gastos da defesa entre 2013 e 2022.
Ora isso é inaceitável tanto para o Pentágono, quanto para a indústria de armamentos.
Parlamentares do chamado “war party” falam até em modificar o acordo, diminuindo a porcentagem dos cortes militares e aumentando a porcentagem dos cortes em despesas não-militares.
Desde o fim da Segunda Grande Guerra, o complexo industrial-militar e os políticos a eles ligados vem usando o medo para justifica a manutenção de grandes exércitos americanos e a modernização constante das forças armadas, com os mais avançados engenhos. Primeiro, foi o medo do comunismo, após o atentado de 11 de setembro, o medo dos terroristas.
Criou-se um estado de guerra permanente nos EUA. Começou com a Guerra Fria, depois as guerras da Coréia e do Vietnam. Em seguida, ao atentado de 11 de setembro, as guerras do Iraque, do Afeganistão e a Guerra ao Terror.
Com isso o orçamento militar dos EUA é de 700 bilhões de dólares anuais, correspondendo a 4,7% do PIB, a porcentagem mais alta desde 1992.

É igual aos gastos com defesa de todos os países do mundo juntos.
Os EUA são os maiores exportadores mundiais de armamentos e a indústria de guerra americana movimenta negócios num valor superior a 100 bilhões de dólares anuais.
Ela não quer ver seus lucros reduzidos pelos cortes que a crise econômica obriga o governo a fazer.
O Secretário da Defesa Leon Panetta e diversos generais do Pentágono tem vindo a público protestar contra os cortes militares. Alegam que  os EUA ficarão com as menores Forças Armadas desde o fim da 2ª Grande Guerra,  seriamente enfraquecidas, com grandes riscos para a segurança nacional.
Estão, é claro, exagerando. E muito.
Os analistas Todd Harrison do Center for Strategic and Budgetary Assesment e Russ Rimbaugh do Stimson Center, afirmam que se os cortes do governo de fato acontecerem, o orçamento militar do ano fiscal de 2013, somando-se aos cortes já decididos, será reduzido para cerca de 472 bilhões ou o equivalente ao orçamento fiscal de 2007, ajustado pela inflação.
A redução no orçamento atual não passará de 14%, modesta se comparada com a realizada no período posterior a Guerra Fria, que foi de 34% em relação ao ano de 1985, quando atingiu seu pico.
Mesmo com os cortes propostos, as Forças Armadas dos EUA seriam muito mais poderosas do que as do resto do planeta combinadas.
Pensando em aumentar seus lucros e seu poder, os generais e os empresários de armamentos vem planejando continuamente armas, cada vez mais letais e eficientes. A mais recente delas, já testada com sucesso, é o Advanced Hypersonic Weapon, um míssil que voa a uma velocidade 5 vezes mais rápida do que a do som. Pode cruzar o Oceano Pacífico em 1 hora. Esse míssil faz parte de um programa militar cujo objetivo é fornecer aos EUA condições de atingir alvos em qualquer parte do mundo.
Talvez os cortes de 14% inviabilizem o desenvolvimento de mais máquinas mortíferas desse calibre.
A alternativa, defendida pelos setores ligados ao complexo industrial-militar, de reduzir os cortes na defesa, compensando com mais cortes em despesas não-militares, é impensável. Seria desrespeitar um acordo firmado pelos dois partidos. Além disso, as chamadas despesas não-militares, ou seja, em educação, saúde e infra-estrutura, já foram objeto de um corte de 900 bilhões.
Apesar de tudo, ninguém duvida que os congressistas do “war party” tudo farão para conseguir seu objetivo. Já tem ao seu lado os presidenciáveis com mais chance do Partido Republicano – Mitt Romney, Newt Ginchr, Herman Cain e Rick Perry – todos exigem mais dinheiro para armamentos. Cortes, nem pensar!
E todos eles apóiam a permanência da Lei Patriota, que restringe muitas liberdades.
Vale lembrar as palavras de Eisenhower, que, por sinal, também era republicano: “ Nas esferas do governo, devemos nos proteger contra a influência injustificada exercida pelo complexo militar-industrial… Não devemos nunca permitir que o peso desta coalizão ameace as nossas liberdades.”

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