Três eleições presidenciais se realizaram nos últimos meses.
O Ocidente saudou duas delas – na Ucrânia e no Egito – e condenou a eleição síria como uma farsa.
Todos estes julgamentos foram repetidos exaustivamente, como verdadeiros mantras, pelos governos e a grande imprensa dos EUA e Europa.
Acho que não custa nada verificar se estavam certos.
John Kerry, Secretário de Estado e alter ego do Presidente Obama, não hesitou em declarar a eleição egípcia como “um retorno à democracia”.
Para ele, a vitória de Porochenko na Ucrânia foi “uma vitória da democracia.”
Já o primeiro lugar de Assad mereceu do Secretário de Estado uma qualificação pitoresca: “um grande enorme zero.”
Isso por que: “Você não pode ter uma eleição onde milhões de pessoas não tem sequer possibilidades de votar.”
De fato, nas regiões ocupadas pelos rebeldes, não houve eleição.
Ei! Mas não foi o que aconteceu nas eleições ucranianas? Lá milhões de habitantes do leste do país não votaram, por terem assumido posições separatistas.
Bem, no Egito de Sissi, houve eleições em todo o país.
Mas conforme afirmou o Democracy International, grupo que monitorou as eleições: “O ambiente repressivo da política do Egito tornou impossível uma eleição presidencial democrática.”
Comparando a representatividade das três eleições, vemos que o estigmatizado Assad saiu-se melhor.
73% dos eleitores do seu país compareceram, sendo que o prazo de encerramento teve de ser adiado por cinco horas para atender às imensas filas de gente que queria votar.
No Egito, o prazo teve de ser adiado até por muito mais tempo.
Mas, por razões diferentes. A abstenção nos dias de votação fora tão grande que o governo resolveu dar mais um dia de prazo, para ver se conseguia mais eleitores.
E ainda pressionou o povo via imprensa oferecendo incentivos e brandindo ameaças.
Mesmo assim, somente uns esquálidos 47% do eleitorado votaram.
Poroschenko ganhou de Sissi, com um índice de 60% de comparecimento, mas perdeu para os 73% de Assad.
Nenhum deles teve adversários pra valer.
Aqueles políticos que representavam uma grande massa da população egípcia – a Irmandade Muçulmana – estavam na cadeia, no exílio ou na clandestinidade.
Poroschenko teve um rival com algum prestígio na Ucrânia: Julia Timoschenko. Mas, era uma política tradicional, sem chances num contexto totalmente adverso aos políticos tradicionais.
E Assad competiu contra opositores polidos, inseridos no establishment local, pouco conhecidos dos eleitores.
Como se vê, mais uma vez o Ocidente usou os “padrões duplos”, para condenar no adversário (Assad) o mesmo que os aliados (Poroschenko e Sissi) fizeram.
Isto sim é uma farsa.