Não é de hoje que os EUA procuram apresentar Putin como um Stalin disfarçado.
Ele sempre foi um problema pois estava recuperando as grandezas da Rússia depois da desastrosa privatização do governo Yeltsin, concebida com participação do Ocidente.
E pior declarou-se independente das políticas externas dos EUA, opondo-se a várias delas.
Com as armas, a população e os recursos minerais russos, poderia até disputar a liderança mundial dos EUA.
Daí o empenho do establishment americano em sujar ao máximo a imagem do líder russo, apontando seu governo com ambições expansionistas na Europa.
Nas últimas semana, talvez pela negativa de Moscou em persistir exigindo paz na Síria com Assad e tudo e a Criméia anexada à Ucrânia, os estrategistas da Casa Branca resolveram passar dos limites.
Contaram com os bons serviços do seu grande aliado, o Reino Unido.
Primeiro uma comissão criada pelo governo Cameron para investigar o assassinato de um jornalista russo crítico do governo de Moscou, acusou dois agentes russos.
E, muito pior, afirmou ser provável que Putin tenha autorizado o crime por envenenamento, talvez inspirado pelos feitos dos Bórgias na Itália Renascentista.
Ora, “provável” não é culpado. Pelo menos nos países civilizados.
E a comissão liderada por lord Owen chegou a suas conclusões em audiências secretas, baseando-se em testemunhos anônimos.
Claro, não foi um julgamento, nem creio que o governo de Sua Majestade irá promover um processo ancorado em circunstâncias até agora por demais discutíveis.
Não entendeu assim a maioria da imprensa ocidental que já foi condenando Putin como um déspota assassino.
Mas o agit-prop de Washington, sem deixar a poeira assentar, deu continuidade à sua campanha de delenda Putin logo na semana seguinte.
Um subsecretário do Departamento do Tesouro dos EUA veio à BBC para apresentar o presidente da Rússia como um corrupto do mais alto nível histórico.
Daí sua imensa fortuna, a maior da Europa.
Como a acusação fora feita por uma autoridade pública passava a idéia ao mundo de que a Casa Branca estaria de acordo com ela.
Peskow, porta voz do Krenlin protestou e exigiu provas.
O Departamento do Tesouro respondeu que de fato as acusações eram aprovadas pelo governo dos EUA. Quanto a provas, nada informou.
Não vou negar que Putin tenha na certa sido mandante do assassinato, embora ache que “provavelmente” não foi.
Seria assumir riscos excessivos somente para punir um jornalista cujas denúncias de ações do Kremlin repercutem muito pouco na Rússia e ainda menos no Exterior.
Já quanto à de corrupção em alta intensidade, são obviamente exageradas, embora a imagem pública de Putin não seja exatamente a de um primor de valores éticos.
Mas enquanto não aparecerem provas sólidas contra ele, o presidente russo tem de ser considerado inocente.
É a lei.
Espera-se agora que a campanha vá em frente, depois que o Krenlin vem demonstrando o maior comprometimento com a reunião de paz na Síria, em Genebra. Já fez uma série de concessões e surpreendeu ao insistir na participação dos curdos, aliados dos americanos contra o ISIS, que a Turquia vetou.
Deve ser muito duro para Obama ver Putin transformado em anjo da paz.