Pressões de Trump podem perder o Paquistão.

Definitivamente o presidente dos EUA resolveu usar o dólar como arma para por na linha países insubmissos. Outros presidentes americanos já fizeram algo semelhante, mas nunca de forma pública e com tanta desfaçatez.

The Donald tentou comprar o voto dos membros da ONU contra a condenação do reconhecimento americano de Jerusalém. Depois cortou metade da ajuda dos EUA aos refugiados palestinos para forçar Abbas a submeter-se à mediação dos EUA na crise com Israel.

Agora, chegou a vez do Paquistão.

Quando Trump apresentou a nova política externa americana, ele criticou o governo de Islamabad por supostamente abrigar talibãs no seu território. Deixou claro que os EUA não continuariam a financiar países “desleais.”

No começo deste ano, The Donald concretizou sua ameaça, usando seu canal de comunicação preferido, o tuiter: “Os EUA ingenuamente já deu ao Paquistão 33 bilhões de dólares em ajuda nos últimos 15 anos, eles não nos deram nada a não ser mentiras e decepções, pensando que nosso líderes são idiotas. Eles deram abrigo aos terroristas que nós caçamos no Afeganistão, sem nenhuma ajuda (do Paquistão). Isso acabou!” E, de fato, os EUA não entregaram ao Paquistão 255 milhões de dólares em armamentos, como estava prometido. E o Conselho Nacional de Segurança americano informou que caso Islamabad não tome ações decisivas contra terroristas abrigados no país, adeus assistência militar.

Os paquistaneses, furiosos, negaram tudo.

Diversas personalidades se manifestaram como o general Asif Ghafor, portavoz das forças armadas que perguntou ironicamente: ”Que tipo de amigos somos nós a quem se faz ameaças?”

Impávido, Trump não ficou nisso. Seu  governo  informou que a suspensão da assistência militar ao Paquistão para o contraterrorimso chegará, pelo menos, a 900 milhões de dólares, podendo mesmo ir até 2 bilhões. Que somente voltariam a fluir se os paquistaneses entrassem em ação contra o Talibã afegão e a rede Haqqani (Reuters, 4-1-2018).

Segundo reporta o The Guardian de 5 de janeiro, o próprio primeiro-ministro, Shalid Khaqan Abbasi, juntou sua voz aos extremamente ruidosos protestos que vinham das ruas.

Ele ridicularizou as ameaças de cortes americanas, assegurando que os totais anunciados o deixaram perplexo pois a assistência militar dos EUA seria, na verdade “muito, muito insignificante.”

Para Abbasi o total de ajuda militar americana recebido fora uma fração mínima do que Washington proclamara. “Eu não sei de que ajuda os americanos estão falando,” disse o primeiro-ministro, ”Nos últimos cinco anos, pelo menos, tem sido inferior a 10 milhões de dólares anuais,.Portanto, quando leio nos jornais que essa ajuda foi cortada em 250 milhões ou 500 milhões ou 900 milhões, nós não fomos comunicados dessa ajuda.”

Ele tem de ser levado em conta. Os 900 milhões cuja entrega foi suspensa tinham sido votados pelo Congresso americano para serem enviados durante 2016. Coisa que ainda não conteceu…

Seja como for, o povo paquistanês sentiu-se profundamenrte humilhado por Donald Trump. O antiamericanismo nacional, que já era grande, cresceu.

Para dar uma idéia do volume desse sentimento, pesquisa Gallup revelou que, 66% da população acha que o país deve simplesmente romper relações com os EUA, devido ao reconhecimento de Jerusalem como capital de Israel.

Informa a a Reuters de 5 de janeiro, que Imran Khan, líder da oposição e provável próximo primeiro-ministro, clamou que era hora do Paquistão se desligar dos EUA e proibir a presença de diplomatas e agentes da inteligência americanos em áreas estratégicas.

No momento, nenhuma das partes recua.

Os EUA acusam o Paquistão de “jogo duplo”, dando assistência aos militantes do Taliban e do Haqqani, dando assim uma força o caos que já sacode o Afeganistão.

O governo Abbasi diz que é falso e acusa os EUA de desvalorizarem sua luta contra o terrorimso, na qual cerca de 30 mil civis e militares morreram.

Por sua vez, o ministro da Relações exteriores do governo de Islamabad foi contundente: “O comportamento dos EUA não é nem de aliado, nem de amigo. É um amigo que às vezes trai.”

A agressiva posição do goveno paquistanês não é exatamentre compartilhada pelos seus generais. Eles temem precisar do apoio americano caso tenham de enfrentar uma nova guerra contra os jihadistas locais, semelhante à anterior que deixou inúmeras vítimas (The Economist).

Mas os EUA também tem muito a perder caso a crise se agrave.

O Paquistão pode cortar o compartilhamento de informações da sua inteligência com a dos EUA. A inteligência paquistanesa é extremamente eficiente, sem ela as ações militares americanas em território afegão seriam bem prejudicadas.

Além disso, Islamabad pode proibir a passagem por seu território de armas e suprimentos para as forças americanas no Afeganistão. Os EUA teriam de buscar uma rota alternativa através do território russo. O que, como informa Mosharraf Zaidi, ex-assesor do primeiro ministro do Paquistão (Vox, 8-1-2018) custaria de sete a oito vezes mais.

Acrfedito que o dano maior à política externa americana seria a saída paquistanesa da órbita de Tio Sam.

É possível.

A China vem fazendo grandes investimentos na infraestrutura do país islâmico e adoraria ocupar o papel hegemônico ora em mãos americanas

Caso Trump tenha mesmo motivos para reclamar do Paquistão, poderia agir com mais discrição e talvez conseguir que seu aliado corrigisse seu comportamento.

Ele prefere o estilo imperial, arrogante, de dono do mundo, que agrada à maioria dos seus eleitores.

Mas não a maioria dos americanos, do contrário as pesquisas não mostrariam seu prestígio em queda, já roçando os 30% positivos.

 

 

 

 

 

 

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