Caná, onde Jesus Cristo realizou seu primeiro milagre, foi palco da maior tragédia da Guerra do Líbano. Em vez das bodas, tivemos o massacre pela aviação de Israel de 60 velhos, mulheres e crianças inocentes, estas em número de 37.,.
“Inocentes” ? Não para o Yesha Rabbinical Council que declarou :”De acordo com a lei judaica, em tempo de guerra, não existe este termo “inocentes” para os inimigos. “
No caso, quem seriam esses “inimigos”? Responde Hain Ramon, Ministro da Justiça de Israel : “Todos aqueles que estão no sul do Líbano são terroristas ligados de alguma maneira ao Hisbolá. Afim de evitar perdas entre os soldados israelenses enfrentando o Hisbolá no sul do Líbano, as aldeias devem ser arrasadas pela força aérea antes das tropas avançarem.”
Na verdade, o conceito de”inimigo” das autoridades de Israel é mais amplo ainda pois suas forças armadas vêm atacando também no centro e no norte do Líbano, destruindo estradas, aeroportos, hospitais, casas, fábricas, veículos, pontes, toda a infra-estrutura do país, com danos avaliados em 3 bilhões de dólares, tendo matado, até 3 de agosto, 26 soldados libaneses, 46 membros do Hisbolá, cerca de 700 civis, sendo 1/3 crianças, ferido milhares e obrigando entre 600 a 800 mil pessoas a fugirem de suas aldeias em ruínas. Talvez a ONU esteja também entre os inimigos. Afinal, aviões israelenses bombardearam e mataram 4 dos seus observadores, apesar do edifício onde se alojavam estar claramente identificado e do comando israelense ter recebido 10 ligações telefônicas alertando-o sobre sua localização.
O estranho é que Israel nega que esteja em guerra contra o Líbano.Estaria apenas se defendendo do Hisbolá..Exige de volta os dois soldados seqüestrados e livrar a população do norte do país dos foguetes lançados pelo Hisbolá, que deveria ser expulso para longe..
Ora , Israel vive uma relação conflituosa com o Hisbolá nas fronteiras desde que seu exercito retirou-se do Líbano, em 2.000, conservando,porém, as fazendas de Sheeba. O Hisbolá reclama a devolução dessa região ao Líbano. Os Estados Unidos contestam ,dizendo que ela pertenceria à Síria. Israel apóia mas, nem por isso, devolve Sheeba à Síria ,que,aliás, garante que o Líbano é o verdadeiro dono. Por esta divergência, Hisbolá e Israel vinham disparado foguetes e mísseis de um para outro lado, bem como sequestrando e trocando prisioneiros. No momento, existem 10.000 palestinos e libaneses encarcerados em Israel, 4.000 sem culpa formada. O Hisbolá quer trocar os libaneses pelos dois soldados israelenses, além da desocupação de Sheeba. Israel poderia exigir providências do governo libanês ou levar o caso à ONU, como se espera de uma nação civilizada, que respeita as leis internacionais. Preferiu atacar,e de forma desproporcional – tanto o Hisbolá, quanto seus outros “inimigos – violando a Convenção de Genebra e o Tratado Penal Internacional.
Bush deu seu apoio incondicional. Vetou qualquer condenação da potência agressora no Conselho de Segurança da ONU e na reunião dos ministros de Relações Exteriores da Europa. Através do fiel Blair, impediu que a Comunidade Européia reclamasse um cessar fogo.E vem adiando ao máximo o fim das hostilidades, para dar tempo para Israel destruir os armamentos do Hisbolá. Só então exigirá a entrada de uma força da ONU, que ocuparia o sul do Líbano, impedindo a volta do Hisbolá.
Depois do massacre de Caná, o Ocidente despertou de sua letargia. Cessar fogo já, parar o morticínio da população do Líbano, é uma exigência da opinião pública. Até mesmo nos países cujos governos apóiam a aliança Estados Unidos-Israel.
Na Inglaterra, pesquisas mostram que a reação de Israel é condenada como desproporcional por 61% da população, contra 25% . Segundo outra pesquisa (Community Research) , 54% consideram Blair um “poodle” do governo Bush. Perguntados pela GovYou se achavam que Israel procura evitar a chacina de civis, a negativa venceu por 54% x 15%. No próprio ministério de Blair,o alinhamento incondicional britânico está sendo contestado. Uma ex-ministra trabalhista, Joan Ruddock, afirmou que seu partido está desesperado com o primeiro-ministro. Para a parlamentar Alice Chydwich a vasta maioria do partido quer o cessar fogo.
Nos Estados Unidos, a população, tradicionalmente pró Israel, está mudando.. Em recente pesquisa, 46% responderam que as duas partes são igualmente culpadas pela guerra. E o Gallup constatou que 65% acham que os Estados Unidos devem ficar neutros, enquanto o cessar-fogo ganha por 49% x 39%.
Mas, mesmo que os governos dos Estados Unidos e de Israel aceitem a substituição das hostilidades por negociações , o mal já foi feito..O Líbano acha-se destruído.Sua recuperação levará pelo menos 20 anos. Enquanto isso, será um país pobre, com os problemas de desemprego, saúde e miséria típicos dessa condição.Às perdas de vidas humanas já contabilizadas, vão se somar a perda de mínimas condições de vida digna que sofrerão centenas de milhares de desabrigados.
O sofrimento de Israel será menor. Mas seus 60 mortos e mais de mil feridos são vítimas a prantear. Bem como a imagem dos judeus de todo o mundo, certamente contaminada pela brutalidade do governo de Israel contra o Libano, das quais não são culpados.
Os civis americanos serão hostilizados no exterior, embora não sejam responsáveis pelo governo Bush.Este por sua vez, cúmplice dos crimes praticados no Líbano, impedindo sua condenação pela ONU e fornecendo as bombas que destruiram o pais, perdeu autoridade moral para mediar o conflito do Oriente Médio. A paz na região ficou mais longe do que nunca pois deixou de existir um poder neutro em condições de promovê-la, além do fosso entre Israel e os árabes ter se aprofundado.
A ONU também está no rol das vítimas. Sem poder fazer respeitar o direito internacional e exercer seu papel garantidor da paz no mundo, castrada pela desobediência sistemática de Israel e a força de intimidação do governo americano, vê-se obrigada a fazer toda sorte de concessões e aceitar faits accomplis, aumentando a insegurança dos demais países, face à reafirmação da inexistência de uma lei maior a que até os americanos obedeçam.
Por todos eles os sinos dobram e não deixarão de dobrar enquanto o direito de “defesa de Israel” continuar sem limites, como também o dos Estados Unidos negarem as leis quando lhes convier.