Polônia: a CIA no banco dos réus.

As  “renditions’, executadas pela CIA, era uma das mais tenebrosas operações secretas do governo Bush.

Secretas pero no mucho.

Depois de algum tempo, os jornalistas de várias cidades dos EUA e da Europa as denunciaram.

Nas “renditions” suspeitos de terrorismo, seqüestrados por agentes da CIA em várias partes do mundo, eram transportados por aviões a países onde poderiam ser torturados, sem que a imprensa botasse a boca no trombone.

Aqui e ali saiam notícias, acusando países, como a Romênia, a Polônia, o Egito, o Afeganistão, a Tailândia, a Jordânia e a Líbia, de permitirem que a CIA operasse em paz.

Somente um caso deu processo.

Foi em 2003, quando agentes da CIA e da espionagem italiana raptaram um suspeito, Osama Moustafa Hassan Nasr, em Milão, e o levaram para o Egito, onde foi submetido a um tratamento nada humano…

Libertado, Nasr voltou para a Itália e denunciou o que fizeram com ele.

Apesar das pressões de Berlusconi (então no poder) e dos EUA, o promotor público levou o caso a processo e o juiz, em 2009, condenou os implicados nessa “rendition”.

Robert Seldon Lady, chefe da base da CIA em Milão, foi sentenciado a 8 anos de cadeia. Outros 22 americanos receberam penas de 5 anos, assim como os agentes italianos envolvidos.

Claro, os americanos voaram para sua terra, antes do fim do processo. Continuam por lá, livres e prestigiados.

E o Departamento de Estado revelou-se “desapontado” com a decisão italiana.

Agora, as renditions” voltam a ter problemas com a justiça.

Desta vez, na Polônia.

Segundo a Gazeta  Wybororcza, o governo de centro-esquerda está processando Zibigniew Siemiatkoski, antigo chefe do Serviço de Inteligência da Polonia, por ter montado uma prisão secreta para a CIA usar nas operações de “renditions”, perto do aeroporto de Syimany.

A acusação é de “privar prisioneiros de sua liberdade”, em conexão com a prisão secreta da CIA onde suspeitos eram interrogados com brutalidade.

Leszek Miller, um dos primeiro-ministros poloneses, nos anos em que suspeitos eram trazidos do exterior para a prisão da CIA, poderá também ser acusado perante o Tribunal de Justiça da Polônia.

Miller, que governou a Polônia entre 2001 e 2004, nega que seu país tenha cedido locais para as prisões secretas da CIA.

Pela importância dos envolvidos, esse caso deve obter grande repercussão na imprensa de todo o mundo. Fatalmente, nomes de agentes da CIA aparecerão e possivelmente poderão ser agregados ao processo.

Seria uma publicidade negativa para os EUA.

Tendo passado por décadas de domínio soviético, os poloneses vêm os EUA, o grande opositor do comunismo, de forma favorável.

Por isso, o processo está sendo levado com extremo cuidado, em sigilo. Os fatos divulgados pela Gazeta  Wybororcza foram obtidos de um informante que exigiu anonimato.

Como se sabe, Obama preferiu varrer para baixo do tapete todas as violências e violações do governo Bush. Espera-se que ele não aja como seu antecessor, que procurou brecar o processo de Milão.

“Tentamos seguir a Constituição com seriedade e não esquecer o fato de que se tratou de uma manifesta violação da Constituição Polonesa dentro das fronteiras da nação”, declarou Adam Bodnar, vice-presidente da Fundação Helsinki de Direitos Humanos.

Coisa que Obama não tem feito, ordenando execuções de suspeitos no exterior, sem julgamento, e permitindo que presos em Guantanamo permaneçam por lá para sempre, também sem julgamento, em desrespeito a Constituição do seu país.

Àqueles que, devido sua admiração pelos EUA, hesitam em reconhecer as ilegalidades e brutalidades cometidas pela CIA em seu país, Bodnar responde: “Eu lembro das lições sobre Constituição, dadas pelos americanos nos inícios dos anos 90, sempre insistindo: vocês devem criar uma nova constituição na qual todas as ações das autoridades do estado tenham limites.”

E conclui: “A Polônia aprendeu bem esta lição.”

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