Palestinos atacam Israel com não violência

Nem mísseis, nem homens-bombas, a resistência palestina adotou uma nova arma contra a ocupação: a não-violência. Parece muito eficaz pois está preocupando as autoridades de Telaviv como nunca antes aconteceu.

                   O precursor da não-violência palestina foi o movimento “Boicote Israel”(BDS), lançado em 2005. Ele pedia o fim da importação e do consumo de bens produzidos em Israel ou nos assentamentos, além de investimentos e contatos artísticos ou culturais com o país, até que seu governo atendesse à ONU, terminando a ocupação e colonização das terras árabes; reconhecendo o direito dos palestinos terem um estado nos limites de 1967 e dos refugiados árabes, expulsos de seus lares em 1948, recuperarem o que era seu.
                 Muitas entidades apoiaram o boicote, como a Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana (EUA), o Conselho Mundial das Igrejas e a União dos Trabalhadores da Irlanda. O governo belga proibiu a venda de armas a Israel. O boicote aos bens produzidos nos assentamentos foi aprovado pela União dos Jornalistas da Inglaterra e pela Igreja Metodista desse país. O desinvestimento foi defendido pelo Sínodo da Igreja da Inglaterra e pelo Conselho Regional da província de Trondelag (Noruega). E artistas como Elvis Costello, Meg Ryan e Santana cancelaram suas apresentações em Israel.
                O boicote expandiu-se de ano para ano, a princípio, sem perturbar muito o governo de Telaviv, que até protestou diversas vezes, mas sem grande empenho. Neste ano, as coisas mudaram. Numa demonstração de que o boicote estava tirando o sono de Nethanyau, o Knesset (Congresso de Israel), em 11 de julho, aprovou uma lei que criminaliza pessoas ou instituições israelenses que se pronunciarem publicamente a favor do boicote. Essa lei dispõe ainda que qualquer pessoa ou empresa de Israel ou dos assentamentos que se sentir prejudicada por declarações pró-boicote poderá processar o autor, pedindo indenizações, sem precisar provar os danos.
            A lei anti-boicote foi considerada anti-democrática e condenada pelas entidades israelenses de defesa dos direitos humanos como séria violação do direito de expressão. E a organização Paz Agora, pela primeira vez, declarou-se favorável ao boicote dos produtos dos assentamentos. A Anistia Internacional, diversos membros do parlamento europeu e até o New York Times (normalmente favorável a Israel) condenaram a lei anti-boicote como contrária aos princípios democráticos. Por culpa dela, Israel não mais poderá se apresentar como um país onde a comunicação de idéias é totalmente livre.
               A não violência palestina marcou presença também em maio passado, no aniversário do Nakba (catástrofe, em árabe) – data da fundação do estado de Israel. Na Cisjordânia, nas fronteiras da faixa de Gaza, das colinas de Golã e do Libano, dezenas de milhares de jovens palestinos fizeram marchas de protesto. Embora estivessem desarmados, o exército de Israel reagiu, alvejando-os com armas de fogo. 23 mortos e dezenas de feridos, muitos gravemente, foi o saldo dessa ação, noticiada por jornais de todo o mundo.
             Um mês depois, a não-violência palestina voltou às manchetes, diante da ação israelense para impedir a chegada a Gaza da “Flotilha da Liberdade 2”. Alguns dos barcos foram sabotados. Quanto aos demais, não puderam seguir por terem sido proibidos de sair dos portos da Grécia onde faziam escala. O enfraquecido governo grego agiu assim por ter sido pressionado pelos EUA, atendendo a pedidos de Israel. Somente um barco rompeu esse bloqueio, o “Dignite” que transportava 16 militantes de direitos humanos. Para barrar a passagem desta pequena embarcação, o governo de Telavive mobilizou 10 navios de guerra e 150 soldados, que prenderam os ativistas por “entrarem ilegalmente” em Israel. Na verdade, “ilegal” foi a ação militar por ter ocorrido em águas internacionais.
              Por sua vez, dezenas de adeptos da não-violência tentaram chegar à faixa de Gaza por via aérea, voando em aviões comerciais comuns. Israel lançou contra eles uma vasta operação com 150 policiais que prenderam todos, encarcerando-os durante 48 horas e deportando-os a seguir para seus países de origem.
             O ápice das ações da nova resistência palestina se dará em 23 de setembro, na reunião da ONU, quando será apresentado o pedido de reconhecimento do estado palestino. Israel e seu aliado, os EUA, estão exercendo máxima pressão contrária. Os americanos dispõem de uma grande arma: seu poder de veto no Conselho de Segurança. Abbas, presidente da Autoridade Palestina, afirmou que, isso acontecendo, apresentaria o pedido de reconhecimento à Assembléia Geral. Ali, teria todas as chances de vencer, embora essa aprovação só confira à Palestina um status de observador não-membro, como o do Vaticano. Incluida nessa categoria, discute-se se a Palestina teria ou não direito de processar as autoridades israelenses no Tribunal Criminal Internacional por suas violações aos direitos humanos em Gaza e na Cisjordâna.
              Até as vésperas do dia de apresentação do requerimento palestino, os EUA continuam pressionando  Abbas e os dirigentes dos principais países europeus. Quanto a estes, os americanos estão se saindo bem. A Alemanha já declarou ser favorável a negociações antes de se falar em reconhecimento, assim como o Reino Unido. A França ainda não saiu do muro.
            Se os governos dos “3 grandes da Europa” levassem em conta os desejos dos seus povos, apoiariam os palestinos. Pesquisas recentíssimas da YouGov (Reino Unido e Alemanha) e Ifop (França) mostram resultados definitivos : 84% dos alemães, 71% dos ingleses e 82% dos franceses defendem o reconhecimento da Palestina como estado soberano.
           Entre levar em conta a opinião de seus cidadãos e atender a apelos de Obama, é fácil imaginar com quem os chefes de governo europeus ficarão.
          A esse propósito, convém lembrar que também havia forças poderosas opondo-se à luta daquele apóstolo da não-violência, o mahatama Gandhi.  E , malgré tout, a Índia  tornou-se independente.

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