Embora os pré-candidatos do Partido Republicano defendam a guerra do Iraque e os democratas a ataquem vigorosamente, as posições deles divergem muito mais nas palavras do que na realidade. No lado republicano, Romney e Huckabee têm apoiado Bush sem reservas. McCain, por sua vez, também soma com a guerra. É verdade que criticava a forma com que foi conduzida, achava ser necessário mais tropas, e exigia o fim das torturas. Passou a aplaudir o governo depois que foram jogados mais 30 mil soldados no Iraque e o Congresso aprovou lei dele próprio proibindo explicitamente qualquer tipo de torturas contra prisioneiros. Aparentemente, a posição de Obama e Hillary Clinton é radicalmente oposta. Obama foi um dos raros senadores que votou contra a invasão. Quanto a Hillary, é verdade que se declarou a favor, mas, posteriormente, retratou-se, embora tenha sido dos últimos políticos a fazer isso. Ambos vêm condenando exaustivamente a guerra e seu responsável, o presidente Bush, e defendendo a saída das tropas com urgência. Mas as formas de retirada propostas por eles e por Bush, mais seus seguidores, são surpreendentemente semelhantes. Bush fez um grande lance em fins do ano passado. Anunciou a assinatura de um “acordo estratégico” com o governo do Iraque, para pôr termo à guerra, a ser detalhado e discutido pelas partes até meados de 2008. Nessa data, seria apresentado ao Congresso iraquiano para aprovação e conversão em Tratado. Suas linhas gerais são as seguintes: 1 –Em fins de 2008, estando a situação no Iraque sob controle, as tropas americanas se retiram do país, passando a responsabilidade pela segurança ao exército iraquiano; 2 – Para garantir o governo e o regime democrático, protegê-lo contra agressões externas e fazer frente aos terroristas, uma força americana permanece, sem prazo definido; 3 – Retribuindo tanto altruísmo, o governo iraquiano se compromete a favorecer os investidores americanos, especialmente as companhias de petróleo. Evidentemente, o trio McCain, Huckabee e Romney bateu palmas. A reação de Obama e Hillary foi imediata. Co-patrocinaram um projeto obrigando o governo Bush a submeter o futuro tratado com o Iraque à aprovação do Senado. A dedução lógica é que, discordando das condições da “pax bushiana”, pretenderiam fazer valer suas idéias para a retirada. Em novembro de 2005, em discurso ao “Chicago Council on Foreign Relations”, Obama apresentou os passos que se deveriam seguir para chegar à paz: “Um, estabilizar o Iraque, prevenir guerras civis e dar às facções espaço para forjar um acordo político; dois, conter e posteriormente extinguir a insurgência no Iraque; três, trazer nossas tropas para casa, em segurança”. Em outras palavras, primeiro arrumar a casa e liquidar a fatura; só depois ir embora. Até quando? Provavelmente, conforme a sra. Clinton avaliou em dezembro último, até 2013. Tomando por base o que os candidatos andam falando, podemos concluir que aquele que vencer não alterará muito a ordem das coisas. Sendo um dos democratas, a retirada será mais rápida. Os dois a querem sem demoras e sem pré-condições. Portanto, em 2009, quando se inicia o novo mandato. Já para Bush, embora seu “acordo estratégico” preveja que, no fim de 2008, o Iraque esteja pacificado (condição para a retirada), isso dificilmente acontecerá. Ficará para seu sucessor decidir a data do adeus. Adeus que, na verdade, será apenas formal. Em todos os planos dos pré-candidatos democratas e republicanos, os pés do império continuam solidamente plantados no Iraque, através das tropas ali deixadas para garantir sua hegemonia, tal como Bush pretendia ao invadir o país. |