A eleição de Jeremy Corbyn, em setembro do ano passado, para líder do Partido Trabalhista inglês foi visto como um verdadeiro escândalo pelo establishment do país.
Desde 1994 dirigido pelo grupo de Tony Blair, o partido tinha adotado posições conformistas, próximas do neoliberalismo, alheias à construção do Estado do Bem Estar Social, sonho dos seus fundadores.
Corbyn é membro da Anistia Internacional e dos movimentos pelo Desarmamento Nuclear e de Solidariedade com a Palestina. Foi também presidente da Coalisão Anti-Guerra, que promoveu campanhas contra as guerras do Iraque e do Afeganistão, para as quais o governo de Sua Majestade enviou tropas.
Conforme os senhores da política e da economia inglesas, Jeremy Corbyn, na liderança do trabalhismo britânico, poderia transformar o comportado Partido Trabalhista num verdadeiro trouble maker (criador de problemas).
Afinal, tratava-se de um esquerdista, embora assumidamente democrata.
Daí porque, não apenas a direita do partido, como também as lideranças do seu rival, o Partido Conservador, e a maioria dos grandes jornais, alinhados com o establishment, foram tomados por verdadeira indignação cívica.
Atacaram Corbyn e seu grupo como capazes de causar sérios estragos na sociedade inglesa, além de levar à ruína o próprio Partido Trabalhista.
Surpreendeu a veemência das críticas do primeiro ministro, o conservador David Cameron: “O Partido Trabalhista é agora uma ameaça a nossa segurança nacional, nossa segurança econômica e à segurança da sua família.”
Logo após o BREXIT, 172 deputados trabalhistas pediram a substituição de Corbyn. Mas ele não aceitou, lembrando que, segundo os estatutos partidários, seria necessário outra eleição na qual disputaria seu cargo contra eventuais concorrentes.
Na campanha eleitoral que se seguiu, os adversários do líder esquerdista concentraram seu apoio no deputado Smith, que teve também a melhor cobertura midiática.
Mas Corbyn venceu novamente, desta vez por uma margem mais larga: 62% dos votos.
Foi mais uma derrota da burocracia partidária, dominada por blairites e afins
A partir da vitória anterior do grupo de Corbyn , na eleição interna de 2015, , o número de membros do partido aumentou consideravelmente.
Conta agora com cerca de 500 mil inscritos, incluindo muitos jovens que aderiram, entusiasmados pela reativação do verdadeiro trabalhismo, corrigido de certos radicalismos de outrora, incompatíveis com os tempos modernos.
Agora Corbyn tenta conseguir reunir seu partido, reaproximando-se principalmente da maioria dos deputados hostis a seu comando.
Ele declarou enfaticamente que há muito mais convergências do que divergências entre seu grupo e aqueles que o tem combatido.
Um partido trabalhista novamente inspirado no trabalhismo poderá derrotar os conservadores na luta pelo poder.
Como era antes, parecia impossível, conforme derrotas eleitorais cada vez mais desastrosas estavam provando.