Netanyahu e Trump se unem para cancelar o povo palestino.

Na primeira quinzena de fevereiro, o cessar-fogo em Gaza esteve seriamente ameaçado. Seu fim parecia iminente.

E, com isso, os brutais ataques estariam de volta, aumentando ainda mais o número de vítimas – já são 48 mil civis palestinos mortos.

A tinta das assinaturas do acordo com o Hamas ainda não havia secado quando Netanyahu mostrou que não dava muito valor ao que havia formalmente se comprometido. Em sequência, vieram as violações.

Estava previsto que Israel permitiria a entrada em Gaza de 60 mil trailers e 200 mil tendas, vindos do Egito, para abrigar temporariamente os habitantes até a reconstrução das moradias do enclave, conforme o futuro acordo de paz entre Israel e os palestinos de Gaza.

Talvez Bibi achasse mais adequado que os palestinos continuassem vivendo sobre escombros, pois, em vez das 60 mil trailers e 200 mil tendas previstas, permitiu apenas a entrada de 20 mil tendas – e nenhum trailer.

Algo semelhante ocorreu com os caminhões trazendo equipamentos básicos. A partir de 19 de janeiro, dos esperados 12 mil caminhões de ajuda diários, chegaram apenas 8.500 (Anadolu Agency, 7/2/2025).

No mesmo período, conforme o acordo, Gaza deveria receber 50 caminhões diários carregando combustíveis essenciais para os hospitais. No entanto, Israel autorizou a entrada de apenas 15 por dia, em média.

Um porta-voz das autoridades palestinas informou à Al Jazeera que Israel está bloqueando o transporte de trailers e máquinas pesadas, necessárias para abrir estradas e remover os escombros (Middle East Eye, 6/2/2025).

E o mais grave: o exército israelense continua matando palestinos, em clara violação da própria razão de ser do cessar-fogo.

Os representantes do Hamas denunciaram 266 ataques israelenses, que resultaram na morte de 132 civis palestinos e mais de 900 feridos.

Diante da inação da comunidade internacional, o Hamas anunciou que não libertaria os reféns na data combinada. Só o faria após Tel Aviv cumprir integralmente suas obrigações previstas no acordo.

Netanyahu reagiu com fúria e ordenou que o exército se preparasse para a retomada dos combates. O IDF (Forças de Defesa de Israel) concentrou tropas no sul de Gaza.

Por sua vez, Trump Augustus, imperador do Ocidente, ameaçou: caso o Hamas não libertasse os reféns no sábado, um inferno aterrorizante jamais visto explodiria em Gaza. Os palestinos veriam o que é “bom para a tosse”.

Graças aos mediadores – Catar, Egito e EUA –, esse cenário catastrófico foi evitado.

Israel aceitou cumprir as disposições humanitárias do acordo, enquanto o Hamas prometeu liberar os corpos de quatro reféns mortos no cativeiro, em troca da libertação de 600 palestinos detidos por Israel, a maioria sem envolvimento em combates.

A partir do fim de fevereiro, as negociações avançariam para a segunda fase do acordo, tratando da retirada das tropas israelenses e da formação de um novo governo em Gaza.

Mas a trégua durou pouco.

Alegando violações por parte do Hamas, Netanyahu voltou atrás: o IDF retomou os ataques e bloqueou a entrada de ajuda humanitária.

Além disso, determinou o adiamento da soltura dos prisioneiros palestinos, sob a justificativa de “humilhação” sofrida pelos reféns libertados.

O governo israelense divulgou imagens mostrando um refém supostamente confraternizando com membros do Hamas. O mais “ultrajante”, segundo a propaganda israelense, teria sido o refém beijando as mãos de dois captores. Mas isso não aconteceu.

As fotos mostram, na verdade, o israelense sorrindo e beijando o rosto dos milicianos – nada que pareça ultrajante ou humilhante.

O impasse foi resolvido com um acordo: o Hamas aceitou processar a libertação dos reféns de forma discreta, sem as cerimônias públicas que vinham sendo usadas como peças de propaganda.

Ainda assim, Netanyahu manteve sua postura beligerante, obcecado pela destruição do Hamas e sem interesse em qualquer conciliação.

Documentos publicados pelo New York Times confirmaram que as exigências de Netanyahu criavam mais obstáculos para o acordo – fato reconhecido pelo diretor do Mossad, David Barnea, encarregado das negociações.

Fontes israelenses informaram ao Haaretz que Netanyahu pretendia sabotar o cessar-fogo. Os representantes sionistas que estavam no Catar tinham o objetivo de impedir o avanço para a segunda fase do plano, que previa a retirada das tropas israelenses e a libertação de todos os reféns – condições fundamentais para o fim do conflito e o início de uma paz duradoura.

Mas esse não era o interesse de Israel.

Uma fonte israelense anônima revelou ao Haaretz: “É um show. Netanyahu está deixando claro que não deseja avançar para a segunda fase”.

A prova disso veio com a proposta de Netanyahu para prolongar a primeira etapa do cessar-fogo por mais 42 dias.

O Hamas recusou. Como signatário do acordo, manteve-se fiel aos termos originais: Israel deveria cumprir o que foi estabelecido.

Mas Netanyahu ignorou seus compromissos.

Citando uma autoridade oficial, o Canal 12 israelense relatou que o governo sionista deu um ultimato de 10 dias para o Hamas libertar os reféns ainda mantidos em Gaza (Middle East Eye, 3/3/2025).

Trump aplaudiu a decisão israelense. Seu porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Brian Hughes, declarou:

“Israel negociou de boa-fé para garantir a libertação dos reféns cativos do Hamas. Nós apoiamos seus novos passos. O Hamas indicou que não está mais interessado em um cessar-fogo”.

Trata-se de uma mentira.

É público e notório que os palestinos fizeram de tudo para preservar o cessar-fogo, recusando a prorrogação de 42 dias justamente para garantir a realização da segunda fase, que levaria ao fim do conflito.

Diante da recusa do Hamas, Netanyahu adotou uma estratégia cruel: proibiu a entrada de caminhões com alimentos e suprimentos. Em breve, os palestinos não teriam o que comer.

Mais uma vez, Israel recorreu à fome como arma de guerra – uma punição coletiva que constitui crime pelo Direito Internacional (Eunomia, 3/3/2025). Mas nem Bibi nem Trump parecem se importar.

Tanto os EUA quanto Israel se consideram acima das leis internacionais.

O primeiro-ministro israelense anunciou ainda que cortaria eletricidade e água, recriando as condições desumanas impostas por Israel durante o conflito.

Diante dessa ação criminosa, o novo governo da Alemanha se posicionou:

“O bloqueio da ajuda humanitária para Gaza não é um meio legítimo de pressão nas negociações. O livre acesso à ajuda precisa ser garantido sempre”, afirmou o ministro das Relações Exteriores.

Enquanto isso, Trump aprovou o envio de 4 bilhões de dólares em armas para Israel – totalizando 12 bilhões em auxílio militar apenas em seu governo.

Na quarta-feira, tomado por uma fúria assassina, Trump ameaçou tanto o Hamas quanto o povo palestino em mensagens separadas:

“Se não libertarem os reféns imediatamente, o inferno cairá sobre vocês com toda sua plenitude”.

Ele não excluiu sequer crianças.

Nem um só palestino escaparia vivo.

Foi uma intimação digna de Átila ou Gengis Khan.

Nada foi oferecido em troca: não se falou em retirada israelense de Gaza, cessar-fogo permanente ou libertação de palestinos presos.

A reação do Hamas é incerta. Alguns acreditam que recuará e cairá na clandestinidade. Outros apostam que rejeitará o ultimato e apelará à Europa e aos países árabes.

Seja como for, a retomada dos bombardeios israelenses, que já mataram mais de 48 mil palestinos, não está descartada – agora, com uma participação ainda mais direta dos EUA.

Era uma vez um país que cultivava os direitos humanos…

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POLÍTICA INTERNACIONAL

Luiz Eça

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