Na semana passada, duas notícias me chamaram a atenção:
O assassinato de 6 judeus por um palestino na saída de sinagoga e 9 palestinos pelo exército de Israel no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia.
O primeiro fato foi qualificado por Jerusalém como terrorismo.
De fato, foi uma ação agressiva capaz de gerar terror nos cidadãos do país. A execução de um número substancial de judeus junto a uma sinagoga, local que eles frequentam habitualmente, tem um significativo potencial de incrementar o medo na comunidade.
Mas Israel erra ao acusar o Hamas da autoria da malfeitoria, sem apresentar provas.
Como se esperava, os EUA e seus liderados da União Europeia se derramaram em expressões de horror e indignação ante a brutalidade palestina, tendo o serviçal Biden aproveitado para repetir um dos seus mantras preferidos: o apoio dos EUA a Israel é total e inquebrável.
Diante dos palestinos, a postura dessas nações foi diferente. Apesar de haver mais mortos no raide de Jenin do que no morticínio da sinagoga, os palestinos não mereceram sequer uma única manifestação de pesar por parte de Tio Sam ou dos seus seguidores europeus. No máximo, houve alguns apelos por mais contenção.
Fora os países árabes, todos solidários aos palestinos, apenas poucos no Ocidente, como o Brasil e a Irlanda, lamentaram as 9 vítimas palestinas e a violência do raide judaico.
Apesar do exército de Israel se autointitular o mais humano do mundo, no último ano, protagonizou frequentes ataques contra objetivos palestinos, alegando razões de segurança, as vítimas seriam terroristas na iminência de lançar tenebrosa ação contra o país de Netanyahu.
A imprensa internacional se refere a essas ações agressivas israelenses como raides, pois se baseiam no elemento surpresa, essencial nesse tipo de operações.
Os militares sionistas não batem na porta dos elementos visados e solicitam que se entreguem, apresentando ordens judiciais.
A ideia é pegar os palestinos de surpresa, atacando-os quando menos esperam, para minimizar resistências e liquidar a fatura o mais rápido possível. Se houver civis ou crianças entre as vítimas (o que costuma acontecer), nenhuma autoridade israelense vai ter insônia.
No caso de Jenin, os militares sionistas não economizaram tiros, haja visto o enorme número de marcas de balas nas paredes do campo de Jenin.
Segundo fontes oficiais, o raide israelense matou 9 militantes e feriu 20, um dos quais morreu, mais tarde, no hospital.
Não se falou em prisioneiros.
Do outro lado, nem um único soldado israelense sequer foi baleado de raspão.
Muito estranho.
É um resultado que lembra eleições em certos países onde o vencedor recebe cerca de 98% dos votos…
Tudo indica que os militares israelenses, em geral, estejam sendo condicionados a matar palestinos sem piedade, pois se tratava gente selvagem, que ameaça a segurança nacional.
Em 2022, em todo o país, cerca de 220 palestinos, incluindo 48 menores de idade, foram mortos pelos militares judaicos.
Trata-se de um recorde, refletindo o clima de clima de ódio que também se espalhou pelos assentamentos.
Com um governo de ultradireita no poder, a violência está se elevando. Já se fala que a 3ª Intifada teria mais chances de ser provável, do que possível, no ano de 2023
Em janeiro, nada menos de 35 palestinos foram mortos por militares israelenses
Estima-se que somente em 29 desse mês, centenas de moradores nos assentamentos judaicos realizaram 144 ataques a propriedades de palestinos na Cisjordânia (The Cradle, 29/1/2023).
Foram apedrejamentos, queima de veículos, destruição de arvores de oliva (principal produção da Cisjordânia), residências danificadas , principalmente nas regiões sul de Ramala e norte de Nablus.
Muitos desses atos foram realizados diante dos olhos benévolos dos militares israelenses, que só interviram em raras ocasiões.
Alarmado com uma onda que tende a afundar a paz na região, Biden mandou Blinken, o secretário de Estado, ir a Israel e à Cisjordânia, para acalmar as tensões.
Blinken chegou, viu…e não venceu.
Fez apelos a Netanyahu a Abas, presidente da Autoridade Palestina, insistindo que, mantendo um bom entendimento entre si, poderiam ajudar a conter ódios e vinganças para evitar o pior.
Ressaltou, por fim, que a “solução dos 2 Estados independentes” era a melhor (talvez única) e precisaria ser implementada.
Na visita a Netanyahu, o secretário de Estado americano, pediu medidas urgentes para opor um dique à onda de ódio e tiros.
Ideias ótimas, infelizmente sabotadas pela realidade.
Como pode haver paz e boa-vontade por parte de um governo, onde, dois fascistas ocupam postos importantes, atuando eficazmente em sentido contrário.
Eles não perderam tempo, tendo assumido há dois meses, já estão em ação, mostrando que não estão para brincadeiras.
Bezalel Smotrich , ministro das Finanças com jurisdição sobre as questões sobre os assentamentos, Goodrich dirigiu-se aos palestinos nos seguintes termos: “Vocês estão aqui por um erro, porque Ben Gurion (primeiro governante de Israel) não terminou seu trabalho em l948 e jogado vocês para fora.”
Por sua vez, Itamar Ben Gvir defendeu a expulsão de árabes israelenses que não forem leais ao Estado de Israel como Estado Judeu.
Diretamente ou sob sua influência, a dupla ultradireitista vem provocando os árabes através de uma série de medidas que pegam duro.
Lei já avançada no Knesset concedendo imunidade total aos policiais e militares que matarem ou ferirem palestinos em alguma ação antiterrorismo. Sinal verde para soldados e policiais israelenses ferirem ou matarem palestinos suspeitos na Cisjordânia ocupada e no Estreito de Gaza, sem receios de processo (New Arab , 29/12/2022).
Sucedem-se contínuas usurpações de terras de palestinos em benefício de novos assentamentos judaicos; demolições de casas palestinas; raides mortíferos; repressão armada de manifestações mesmo pacíficas; bombardeios de Gaza, em retaliação a raros atentados contra civis (e a não tão raros contra militares) e ao lançamento de mísseis antiquados e inócuos, em geral explodidos pelos antimísseis de Israel, que as milícias de Gaza lançam mais para mostrar que ainda estão vivas do que para atingir alvos humanos ou materiais em território israelense.
A esperança de paz caiu profundamente, conforme pesquisa realizada em dezembro. 65% dos judeus e 61% dos árabes israelenses acreditam que uma 3ª intifada (rebelião popular armada) está próxima.
Deter a escalada de violência que caminha nessa direção seria possível se fossem iniciadas negociações de paz, mediadas por terceiros confiáveis envolvendo a criação de um Estado dos palestinos.
Biden já disse que não se deve contar com os EUA agora. Vai demorar muito para os EUA toparem o papel de moderadores. Nem sei seriam aceitos pelos palestinos, dada a provável parcialidade de Biden, provada por sua associação radical a Israel.
Enviado por seu presidente, Blinken limitou-se a enfatizar novamente a solução dos dois estados independentes, já recusada pelos líderes do governo Netanyahu e os chefes dos movimentos palestinos.
Tese mais do que nunca furada.
Os israelenses aboletados na sede do governo, em Jerusalém, aceitariam, no máximo, um Estado palestino emasculado, dividido em bolsões , sem comunicação entre si. E com uma área cada vez menor, à medida que os assentamentos se expandem por toda a Cisjordânia.
Inaceitável pelos palestinos.
Os líderes dos movimentos rebeldes, que representam o povo mais do que Abbas, o presidente da Autoridade Palestina, estão divididos.
Convergem em apenas um ponto: o ódio ao regime sionista.