Ironicamente, Henry Kissinger, Nobel da Paz, foi cúmplice de barbaridades praticadas por várias ditaduras.
Como secretário de Estado dos governos Nixon e Ford, entre 1970 e 1976, ele estimulou o sangrento golpe de estado de Pinochet, a anexação brutal de Timor Leste pela Indonésia e os crimes da ditadura da Argentina, entre outras façanhas.
Quanto a esse último caso, surgiu agora documento provando sua participação direta na onda de assassinatos e torturas promovida pelos militares golpistas, que vitimou cerca de 30 mil pessoas.
Conforme David Korne, no website Mother Jones (15/1/2014), memorando liberado pelo Arquivo de Segurança Nacional revela informações do então embaixador dos EUA na Argentina, Robert Hill, sobre encontro entre Kissinger e o ministro do Exterior argentino, Cesar Guzzetti, em 1976.
Na ocasião, os militares argentinos temiam as repercussões internacionais de suas atrocidades contra os opositores, que começavam a serem conhecidas fora da Argentina.
Encaminhando a questão, Guzzetti disse que o principal problema da Argentina era o “terrorismo”.
Kissinger respondeu:”Se há coisas que devam ser feitas, você deve fazê-las rapidamente. Mas é preciso voltar rápido aos procedimentos normais”
Segundo Hill, Kissinger confirmou a conversa e disse desejar que a “Argentina terminasse com seu problema de ‘terror’ até o fim do ano”, para evitar a aplicação de nova lei do Congresso, proibindo ajuda a países violadores dos direitos humanos.
Para o embaixador Hill, a mensagem de Kissinger incentivou os militares argentinos a incrementarem sua guerra suja. De fato, nos meses seguintes, Hill “viu as mortes de ‘terroristas’ aumentarem fortemente.”
Esclarecimento: “terroristas” era o nome genérico atribuído pelos militares argentinos a esquerdistas em geral e a liberais que lhes faziam oposição.