Em depoimento no Senado dos EUA, o general John Allen, ex-comandante das forças americanas no Afeganistão, declarou: “Por muito tempo nós focamos nossa atenção somente no Talibã como a ameaça à existência do Afeganistão. Eles são (apenas) um aborrecimento comparado com o âmbito e a magnitude da corrupção.”
Pelas palavras do general dá para perceber que a corrupção tomou conta do país.
Parece que o exército americano não conseguiu vencer esse formidável inimigo durante seus 13 anos de operações no Afeganistão.
Outro general, John Sopko, Inspetor Geral da Reconstrução do Afeganistão, informou que a corrupção está tão generalizada nos níveis da administração que todo o trabalho que custou bilhões de dólares está em risco se o suborno e roubo continuarem imbatíveis no Afeganistão.
Foi uma grave derrota para os EUA que prometiam que sua guerra, responsável pela morte ou desalojamento de centenas de milhares de afegãos, substituiria o regime medieval dos talibãs por uma democracia moderna e estável.
Pior foi o que aconteceu na luta contra o ópio.
Os EUA gastaram 7,5 bilhões de dólares para combater este tóxico, responsável pela destruição de vidas de muitos milhões de pessoas em todo o mundo.
Relatório do Inspetor Geral, o General John Sopko, revela que toda esta verdadeira fortuna foi gasta por nada.
Em 2013, o cultivo da papoula, donde se extrai o ópio, atingiu um novo recorde, cobrindo 209.000 hectares, um aumento de 36% em relação a 2012.
Os afegãos usuários habituais da droga aumentaram 30%, passando de 1 milhão, em 2012, para 1 milhão e trezentos mil, em 2013.
Aqui a derrota americana contra esse terrível inimigo reflete-se no exterior, já que ele representa ¾ do consumo mundial.
As campanhas contra o ópio tiveram resultados precários.
O Ministério Afegão de Contra-Narcóticos relatou a destruição de 7.300 hectares de campos de papoula. Muito pouco, apenas 3% do total.
O estranho é que a maioria das plantações de papoula concentra-se nas províncias do Sul e do Oeste, justamente onde a maior parte das tropas americanas e inglesas ficaram estacionadas no período 2010-2012.
Para alguns observadores, o governo Obama desistiu de vencer a guerra do ópio.
As autoridades americanas e afgãs não conseguiram convencer os agricultores a trocar suas culturas do narcótico por cereais ou frutas, muito menos lucrativos.
Os talibãs aproveitaram essa situação para levar vantagem, permitindo e mesmo associando-se ao cultivo de ópio, para melhorar suas finanças.
O que foi um tanto contraditório.
Durante o regime Talibã, a exploração do ópio foi combatida agressivamente por violar seus princípios religiosos.
Tiveram muito maior êxito do que os americanos: reduziram as plantações de papoula a zero.
Durante a guerra, a real politik venceu os obstáculos de cunho religioso.
Os líderes talibãs, demonstrando um pragmatismo insuspeito em cidadãos tão rígidos, integraram-se na exploração do ópio em função dos seus objetivos militares.
Se for verdade que Obama resolveu tolerar o ópio, por razões de estado, aprendeu com eles que princípios são bons quando nos favorecem.
Ainda deu tempo para melhorar suas relações com os agricultores afegãos.
Mas não para amenizar a explosão do crescimento do ópio – uma guerra que os EUA perdeu em prejuízo do mundo.
Não será a primeira vez que modo guerrilheiro de enfrentar inimigos externos/estrangeiros se vale de práticas históricas na produção de plantações eventualmente ilegais. Foi assim no Vietnã e na Colombia. A ironia é ver o talibã usando esta estratégia