Parece ser mais fácil as águas do Mar Vermelho se reabrirem do que as negociações da Palestina chegarem a um happy end no prazo final de 29 de abril.
John Kerry, o Secretário de Estado dos EUA que patrocina a idéia, declarou que as duas partes são culpadas pelo fracasso.
Ambas teriam sido intransigentes, negando-se a fazer concessões realmente significativas.
No entanto, Kerry atribui as maiores responsabilidades a Israel.
Ele lembra que Telaviv deixou de cumprir seu compromisso de libertação do último grupo do total de 104 prisioneiros palestinos.
E fez mais: aprovou mais 700 novas construções nos assentamentos judaicos ilegais em Jerusalém Oriental.
Diante disso, evaporaram-se as chances de adiamento das negociações que estavam sendo discutidas.
Em retaliação aos gestos israelenses, Abbas, o Presidente da Autoridade Palestina assinou 15 tratados e acordos com entidades internacionais.
Em termos concretos, não queriam dizer muito. Eram compromissos de defesa dos direitos humanos, dos direitos das mulheres, coisas assim.
Mas, reafirmavam a Palestina como país independente, que conquistou sua posição de membro observador da ONU.
Ora, isso é um anátema para Israel, pois só aceita uma Palestina livre e autônoma se receber sua aprovação, através de negociações diretas.
Como se esperava, Netanyahu partiu para a briga.
Primeiro, proibiu contactos de membros do governo com autoridades palestinas.
Isentou a Ministro da Justiça, Tzipi Livni, dessa diretiva para não sepultar de vez o processo de paz.
E o premier israelense foi além: reteve os 100 milhões de dólares mensais de impostos devidos à Cisjordânia, que Israel costuma recolher em nome da Autoridade Palestina.
Não vai adiantar nada, pois a Liga Árabe, imediatamente, ofereceu-se para repassar aos palestinos os dólares sonegados.
De qualquer forma, os comandados de Abbas não deixaram passar batido.
Saeb Erekat, o chefe dos negociadores palestinos no processo de paz, chamou a ação israelense de “pirataria”.
Pode ser um termo pouco apropriado.
Há quem prefira “estelionato”, “apropriação indébita” ou algo similar.
Os códigos penais das nações civilizadas costumam considerar crime recusar-se a entregar aos outros dinheiro que lhes pertence.
Não é a primeira vez que Israel lança mão desse discutível recurso, os palestinos até já se acostumaram.
Espera-se que, como das outras vezes, as coisas se ajeitem rapidamente.
Quanto às negociações de paz, John Kerry ainda tem esperanças de conseguir novos prazos.