Guerra ao ISIS: quem está ganhando?

Para o Pentágono,  o ISIS vem perdendo terreno desde setembro, início dos bombardeios americanos. 10 mil milicianos dos bárbaros radicais teriam sido mortos. E o território controlado por eles reduziu-se em 25%.

É muito difícil comprovar essas afirmações. Mesmo dando de barato que são  verdadeiras, representam apenas um dos lados da questão.

Alguns fatos apontam numa direção um tanto diferente.

E os fatos costumam estar acima de qualquer suspeita.

Atualmente, seis milhões e quinhentas mil pessoas vivem sob as leis medievais do auto-denominado califado do Iraque e da Síria..

No Iraque, praticamente toda a população da província de Anbar, a maior do país, passou para seu controle nos últimos 9 meses. Em maio, a capital provincial, Ramadi, cidade de 9OO mil habitantes, foi tomada por eles como resposta à queda de Tikrit recuperada  pelo exército iraquiano, com o apoio aéreo americano.

Apesar dos sucessivos ataques da aviação dos EUA, do exército iraquiana e das milícias xiitas, o ISIS

manteve o cerco do complexo de refinarias de Banji.

Na Síria, a cidade histórica de Palmira e a maior parte da província de Deir Zour, importante produtora de petróleo também caiu sob o ISIS, nos meses depois do começo dos ataques da aviação americana.

O Pentágono festejou o sucesso de sua campanha aérea ao impedir a tomada de Kobani, cidade-chave na fronteira sírio-iraquiana.

Não demorou muito e os radicais mostraram que estavam bem vivos e acesos em todo o país. Invadiram a província de Hazaka, cercaram Yarmouk, nas vizinhanças de Damasco e começaram

a se expandir na região ao norte da cidade de Alepo, ameaçando cortar as rotas de suprimentos dos grupos anti-Assad.

O ISIS já está atuando na Líbia, onde tomou a cidade de Sirte, uma grande usina de energia nas suas vizinhanças, além de uma base aérea. Capturou também um complexo militar usado como quartel-general  das tropas enviadas pelo governo de Tripoli para combater os milicianos radicais.

O governo está empenhado em reforçar militarmente suas defesas na costa, alvo provável de ofensiva do ISIS.

Outro dos seus objetivos é Misurata, centro das milícias desse nome, que integraram a rebelião anti-Kadafi e é hoje hoje um dos principais sustentáculos do governo de Tripoli.

Na região leste, o ISIS tomou também a cidade de Darma.

O Paquistão é mais um país ameaçado pelo ISIS.

Por enquanto, o grupo  ganhou o apoio de meia dúzia de pequenos movimentos terroristas.

Mas tem planos ambiciosos.

Segundo um comandante talibã aposentado- próximo aos grupos radicais do país, pretende “esperar pela destruição do Talibã pelos militares paquistaneses para então aliciar os milicianos sobreviventes e surgir como a maior ameaça ao Estado.”

Enquanto ataca em várias frentes em vários países, o ISIS segue aumentando seus efetivos. Recente relatório da ONU informa que o número de combatentes terroristas cresceu em 71%, entre a queda de Mosul em junho de 2014 e março de 2015, a maioria alistados na Síria e no Iraque. Originam-se nada menos do que 100 nações, especialmente da França, Rússia, Marrocos e Tunísia.

E não param de chegar.

Recentemente, a comunidade internacional entregou ao governo da Turquia, ponto de passagem para os que querem aderir ao ISIS, uma lista com os nomes de 13 mil prováveis simpatizantes do movimento radical, aos quais se deve negar entrada, segundo oficial do Departamento de Estado.

Ele reconheceu que, mesmo assim, muitos aspirantes a miliciano do ISIS continuam a fluir para a Síria através da fronteira turca.

Com isso, o exército terrorista continua em ascenção.

Armamentos não lhes falta  já que vem contando com um considerável suprimento de engenhos bélicos de origem americana.

São armas e equipamentos fornecidos pelo bom Tio Sam ao governo de Bagdá tomados do exército iraquiano nas vitórias do ISIS. Que, aliás, está usando um veículo militar made in USA  com criatividade e grande eficiência letal.

Transportando explosivos os famosos carros de batalha Hunivees são dirigidos por pilotos-suicidas contra as forças inimigas.

Na batalha pela posse de Ramadi, 30 desses mísseis humanos causaram grande estrago.

Preocupados, os EUA providenciaram o envio para o Iraque de dois mil foguetes anti-tanques disparados do ombro para destruir essa terrível arma antes que possa atingir seus alvos.

Como se vê, há razões para duvidar das afirmações otimistas do Pentágono.

O povo americano não concorda com elas.

Em recente pesquisa, 61% dos entrevistados consideram que a guerra contra o ISIS vai mal, sendo que 29% acham que vai muito mal.

Os estadistas das grandes potências já perceberam isso há bastante tempo.

Mas continuavam permitindo que suas disputas políticas prejudicassem a condução das operações militares.

Há indícios de que estariam caindo em si diante do evidente crescimento do “perigo ISIS”, pondo em risco a segurança dos seus próprios países.

No Iraque, já se busca um entendimento entre EUA e Irã para formarem uma frente única que, com a atuação unificada da aviação americana, do exército iraquiano e das milícias xiitas (armadas e assessoradas pelos iranianos) possam dar conta do ISIS.

No fim da reunião do G7, a primeiro-ministro Angela Merkel propôs que o grupo trabalhasse em conjunto com a Rússia para resolver a questão da Síria.

Lembro que, devido ao caso da Ucrânia, Moscou vinha sendo tratada pelo Ocidente como um inimigo, a quem impusera sanções destrutivas.

Merkel agora chama os russos de “importantes elementos”.

Há rumores de que para a Rússia e os EUA a solução do problema do ISIS passa por um acordo entre os líderes do governo Assad e os dos rebeldes.

Fala-se no exílio de Assad em Moscou, com a formação de um novo governo aceito pelas duas partes.

Não sei se isto é verdade.

Seja como for, com a paz na Síria seria possível formar uma poderosa coligação unindo contra o ISIS americanos, russos, sírios e iranianos (porque não?).

Triste é as potencias só pensarem em fazer concessões recíprocas para poder acabar com a mortandade na Síria depois de sentirem que o ISIS poderá por sua segurança em risco.

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