Generais querem mais 50 mil soldados no Afeganistão.

Informa Eli Lake, no Bloomberg: os principais chefes militares e os conselheiros de segurança nacional querem enviar mais 50.000 soldados americanos para lutar no Afeganistão.

É muito, mas muito mais do que os 5.000, até há pouco considerados suficientes para reforçar adequadamente  o  exército do governo de Kabul.

A guerra vai mal, chegou a um impasse, nas palavras do general Vincent Stewart, diretor da Agência de Inteligência na Defesa; “Este impasse vai se deteriorar em favor dos beligerantes (o Talibã). Portanto, temos de fazer alguma coisa, muito diferente do que temos feito no passado. ”

De fato, desde 2015, quando o grosso das tropas americanas se retirou, o Talibã avançou muito.

Hoje controla, contesta ou influencia 171 dos 400 distritos do país.

No passado, entretanto, ao contrário do que diz o general Stewart,  já se fez algo semelhante ao que os principais generais americanos estão propondo agora.

No começo do seu governo, Obama atendeu aos conselhos dos seus assessores militares, e ordenou um maciço aumento nas tropas dos EUA no país asiático. Assim, em meados de 2010, o total de soldados americanos envolvidos na guerra chegou a 100.000.

A ideia era dar um cheque- mate nos talibãs.

Isso está longe de acontecer, apesar do general John Allen ter afirmado, em 2013, que “estamos no caminho da vitória”.

Até agora, os EUA gastaram mais de 1 trilhão de dólares no Afeganistão. Somente no ano fiscal de 2017, foram 50 bilhões, quase um bilhão por semana.

Muito generoso da parte de um país cujo débito nacional aproxima-se de 20 trilhões.

E a guerra ainda já causou dolorosas baixas: 2.350 soldados americanos mortos e mais de 20.000 feridos; também morreram cerca de 11.000 civis afegãos, enquanto 600.000 tornaram-se refugiados, sem lar e sem teto.

Enquanto isso, o Afeganistão tornou-se um país profundamente minado pela corrupção. Em 2016, no ranking de corrupção mundial, o país colocava-se num pouco honroso 169º lugar.

Nas guerras civis contra os governos comunista e depois do Talibã, foi decisiva a participação dos chamados senhores da guerra, que controlam regiões inteiras, com verdadeiros exércitos particulares.

Eles continuam influentes no país, Mesmo durante os dois governos, digamos, democráticos instalados depois da invasão.

Como não existe almoço grátis, os presidentes eleitos com o apoio desses chefões, os tratam como; príncipes,  brindando-os com cargos, posições públicas, facilitação nos negócios e extrema tolerância.

É um problema, pois esses senhores costumam praticar atrocidades e ações corruptas impunemente.

O Guardian de 20 de maio fornece exemplos.

“No começo deste mês, Gulbuddin Hekmatyar, que bombardeou ferozmente Kabul, durante a guerra civil, voltou a Kabul como parte de acordo de paz que lhe garantiu imunidade. Na semana passada, o comitê da ONU contra torturas pediu que o notório chefe de polícia de Kandahar fosse processado por tortura e desaparecimento de pessoas. ”

Para os afegão, os senhores da guerra se tornaram poderosos demais para serem condenados.

Na semana passada, provou-se, mais uma vez, que o povo tem razão.

Em novembro, o vice-presidente da república, Abdel Rshid Dostum, mandou raptar Ahmad Ishchi, um adversário político na sua província de Jowsjan.

Mantido preso por 5 dias, Ishchi foi duramente  espancado e sodomizado por Dostum e mais nove dos seus guardas particulares.

Tudo ficou por isso mesmo, apesar de médicos atestarem as violências aplicadas no desafeto do chefão.

Diante do clamor publico, Dostum refugiou-se na sua mansão, protegido por milicianos armados.

Ativistas de direitos humanos exigiram que ele e seus nove guarda-costas fossem processados.

O governo preferiu convencê-lo a deixar o país.

Na sexta-feira, Dostum tranquilamente viajou para a Turquia, onde, segundo se informou, irá se tratar de uma grave doença.

Os generais americanos ainda não aprenderam com o fracasso desses 16 anos de combates.

Eles acham que o maior e mais poderoso exército do mundo será sempre capaz de vencer qualquer guerra.

Ignoram os exemplos das guerras do Vietnam, do Iraque e mesmo desta, que travam no Afeganistão.

O maior problema, sentido por Mattis, McMaster e os outros generais que cercam Trump, é convencer o presidente.

Ele aceitou mandar 5.000 soldados, conforme foi proposto inicialmente. AFINAL, seria apenas um mero reforço.

Mas, 50.000…

Trump sabe que o povo americano não quer saber mais de arriscar “our boys” em guerras desnecessárias.

Bom marqueteiro, ele tuitou em 2013: “Devemos sair do Afeganistão imediatamente. Não mais vidas desperdiçadas. Já que temos de voltar, então que voltemos imediatamente. Primeiro, reconstruir os EUA!”

Na campanha, The Donald defendeu essa posição várias vezes. E com veemência.

Teria coragem de, mais uma vez, fazer o povo lamentar o ter eleito?

 

 

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