A engenharia chinesa causou admiração mundial ao projetar e construir várias ilhas artificiais no Mar do Sul da China.
Mas esse sucesso pouco importou a Beijing.
O objetivo da construção das ilhas envolvia aspectos geo- políticos e econômicos da maior importância.
As sete ilhas se espalham por todo o mar do Sul da China, estendendo-se até as costas da Malásia. Cada uma delas localiza-se muito perto das ilhas Spratly, ou de algum dos outros arquipélagos da região. A China afirma ter soberania sobre as Spratly e os arquipélagos, por eles serem adjacentes às suas ilhas artificiais.
Os países do Mar do Sul da China – Filipinas, Brunei, Japão, Malásia, Vietnam e Taiwan, protestaram.
As Filipinas, com a participação dos demais países interessados, entrou com processo na ONU, reivindicando as ilhas Spratly, já que estão dentro das 20 milhas náuticas de soberania do país e das 200 milhas de Zona Econômica Exclusiva.
Enquanto isso, ocorreram uma série de pequenos atritos entre navios das partes envolvidas.
A pergunta que poderia ser feita é: por que tanto barulho por nada, já que todas estas ilhas são desabitadas e não tem nenhuma importância econômica?
Podem não ter, mas os territórios submarinos em sua volta contém, provadamente, vastas reservas de petróleo e gás.
E como o Mar do Sul da China é uma das principais rotas do comércio internacional, por onde passam inclusive a maioria dos navios transportando petróleo para o Ocidente, as vantagens estratégicas são relevantes.
Tendo soberania sobre a ilhas pretendidas, a China poderia extrair petróleo e gás em grande escala, talvez ganhando auto- suficiência nesses produtos, e ainda controlar o tráfego numa região-chave para o comércio da Ásia com o Ocidente, principalmente.
Lembrando o discurso do presidente Xi no congresso do Partido Comunista Chinês, o país quer também se expandir para o exterior, tornar-se um protagonista-chave da política internacional.
Incorporando as ilhas seria uma forma de se impor como quem dita as regras no sul da Ásia.
Nada disso agrada aos EUA.
Desde o governo Obama, eles buscam estreitar relações com as nações do quintal da China, instalando bases em algumas delas, fazendo-lhes aportes econômicos, promovendo acordos militares e enviando navios de guerra para patrulhar as áreas em litígio.
Para deixar bem claro que o mar da China é seu é seu e ninguém rasga, o governo Xi Jinpiang construiu aeródromos, portos, armazéns, equipamentos de radar e bases militares nas ilhas artificiais. Coisa que os EUA vêm como ameaças claras.
Agora que Trump foi viajar para o sul da Ásia, o governo de Beijing teme que o destemperado presidente lance mão de ameaças e condenações, no seu estilo costumeiramente beligerante, ofendendo e mesmo humilhando o governo chinês.
Considerações agressivas de altas figuras da administração já se registraram, como introdução a possíveis diatribes do agressivo The Donald.
No mês passado, Rex Tillerson, o secretário de Estado, disse que as ações provocativas da China desafiam as leis e as normas.
Ao anunciar a volta do diálogo entre EUA, Japão, Índia e Austrália, alto funcionário do departamento de Estado afirmou que seus fins seriam cooperação e coordenação de esforços para encarar as “predatórias opções chinesas.” (Reuters, 30-10-2017)
A Casa Branca criticou as ilhas artificiais, afirmando o interesse americano na liberdade de navegação em rotas marítima fundamentais para o comércio mundial.
Antecipando-se ao chumbo que poderia partir de Trump em sua viagem sul-asiática, o embaixador chinês em Washington disse que os EUA não tem reivindicações territoriais naquelas águas e deveria deixar as nações da região lidar com suas disputas de “modo amigável e eficiente.”
Ele se referia a uma tentativa de acordo que estava se processando entre a China e os demais países banhados pelo Mar do Sul da China.
Como já foi divulgado, a ONU decidiu contra Beijing e a favor das Filipinas e os demais interessados. No entanto, propôs que as partes devessem resolver seus problemas numa boa. A China que até então não queria saber de conversa, topou sem vacilar.
Em reuniões da ASEA (Associação dos Países da Ásia do SUL), os governos de Beijing e dos outros países litigantes China procuram elaborar um código de natureza mandatória. Ele conterá todas as regras a serem seguidas pelas nações signatárias, com o objetivo de se dirimir os conflitos existentes.
O embaixador Cui terminou suas declarações, rejeitando que a China estivesse se engajando em políticas predatórias às custas dos seus vizinhos. Em seguida, ele não conseguiu resistir à tentação de uma ironia, bem chinesa.
“Os EUA poderiam apenas olhar no espelho para ver que estavam se descrevendo.”