Explorando o anti-semitismo.

Em Democracy Now, a falecida Shulamita Alloni, ex-ministra da Educação de Israel, declarou: “Quando alguém na Europa critica Israel, a gente saca o Holocausto. Quando nos (EUA) pessoas criticam Israel, então elas são antissemitas.” (Democracy Now,14-8-2002).”

Na verdade, o crescimento do anti-semitismo é um fato. A polícia de Nova Iorque divulgou que, em 2018, houve um aumento de 22% nos crimes de ódio contra judeus.

Pesquisa da ComRes, para a  CNN, em 7 países europeus ( França, Alemanha, Reino Unido, Áustria, Polônia, Hungria e Suécia) revelou que 25% da pessoas acham que os judeus influenciam demasiadamente os negócios financeiros, conflitos e guerras pelo mundo. Para 20%, as pressões deles pesam também de forma excessiva na imprensa e nos políticos.

É uma situação alarmante, teme-se que haja uma tendência bastante perigosa. Certa discriminação deve haver em muitos países, podendo chegar a perseguições, disfarçadas ou até explícitas, a judeus em todo o mundo.

Já se apresenta uma reação necessária, porém por um caminho errado.

Provavelmente sob orientação do governo de Telaviv, a maioria das comunidades judaico-americanas e judaico-europeias procura combater o preconceito, rotulando de anti-semitas as ações e posições críticas do Estado de Israel.

É o que aparece na definição do anti-semitismo pela International Holocaust Remenbrance (AIRH), aliás adotada por 38  países.

”Anti-semitismo é uma determinada percepção dos judeus, que pode ser expressa como ódio aos judeus. As manifestações retóricas e físicas de anti-semitismo  são dirigidas a indivíduos judeus ou não-judeus e/ou a suas características, a instituições das comunidades judaicas e instalações religiosas.”

O AIRH foi mais longe: apresentou 11 exemplos de antissemitismo, a título de esclarecimento.

7 deles são OK, mas 4 outros envolvem direta ou indiretamente o Estado de Israel:

considerar a existência do Estado de Israel como um empreendimento racista; acusar os judeus de serem mais leais a Israel do que a seu país de origem;  exigir de Israel níveis mais altos de comportamento do que a outras nações; comparar as atuais políticas israelenses com as dos nazistas.

 Os indivíduos ou instituições que praticarem atos enquadrados nestes exemplos ficam sujeitos a punições por racismo, que podem incluir prisão, demissão e proibição de falar em público ou de organizar conferências sob temas políticos, de acordo com a legislação de cada país.

 Na verdade, todos os quatro exemplos são de críticas a Israel.

Não ao povo judeu.

 Ora, uma coisa é Israel, outra coisa são os judeu.

 Em editorial, na edição de 25 de julho último, o insuspeito The Guardian pondera: ”Coletivamente, os judeus não são de modo algum responsáveis pelas ações de Israel.”

Posição esta compartilhada pelo manifesto de 40 associações internacionais: ”Como judeus, rejeitamos o mito de que criticar Israel é ser racista.”

No segundo semestre do ano passado, a caracterização de críticas a Israel como anti-semitas foi explorada no Reino Unido com objetivos políticos.

Na ocasião, devido às dificuldades do governo conservador de Tereza May na condução do Brexit, havia boas chances da situação evoluir para uma eleição antecipada.

Nesse caso, os trabalhistas tinham tudo para vencer, pois estavam bem à frente do partido de madame May, nas pesquisas. E aí, Jeremy Corwin, líder do Labour, seria o novo primeiro-ministro. Perspectiva que assustava, não só os conservadores e a direita trabalhista, mas principalmente Israel, devido às ideias de Corwin, firme defensor da causa palestina, ao contrário dos últimos governos do país, em geral, favoráveis a Telaviv.

Os grupos judaico-ingleses alinhados com o governo Netanyahu viram uma oportunidade de atingir Corwin na rejeição pela direção do Labour dos quatro exemplos do IRHA.

Isso foi pintado como prova da influência do anti-semitismo no Partido Trabalhista, turbinada pelo suposto racismo do seu líder, numa campanha movida por várias associações judaico-inglesa.

A verdade é de que as raras posturas anti-semitas  no interior do Labour foram reprimidas e que as acusações contra Corwin não tinham base.

Mesmo assim, a campanha atingiu possivelmente a maioria dos judeus ingleses.

Diversas manifestações de rua foram promovidas, estimuladas pelo apoio generalizado da mídia, que publicava diariamente violentas diatribes dos adversários de Corwin. Espaço muito menor foi concedido a ele e seus defensores.

Esta onda mexeu com os dirigentes do Labour. Eles temeram que surgisse uma forte dissidência interna, com reflexo nas eleições partidárias que estavam próximas.

Optaram por serem pragmáticos: em reunião em setembro de 2018, os 4 exemplos foram aceitos como anti-semitas. Acrescentou-se, porém, que essa aprovação de modo algum importaria em restringir a liberdade de expressão em relação a ataques contra Israel e à defesa dos direitos dos palestinos.

Ou seja: proibiram, permitindo.

O sucesso da campanha foi pouco significativo. Nas eleições de renovação da direção nacional do Labour, os grupos próximos a Corwin elegeram todos os 9 integrantes desse comitê.

Ele continua liderando seu partido, mas os conservadores parecem dispostos a negar a demissão de Teresa May, que traria a antecipação das eleições.

Nos EUA as coisas são diferentes.

O poder do lobby pró-Israel há muitos vem influenciando as decisões do parlamento e do governo federal.

No momento, a defesa dos palestinos vem ganhando espaço num ritmo muito rápido. Um dos seus principais objetivos, o BDS, boicote de Israel para forçar o fim da ocupação da Palestina, está se espalhando nas universidades, igrejas, empresas, políticos, artistas, etc.

Seus adversários conseguiram uma vitória inicial, aprovando no Senado lei que autoriza prefeituras e governos estaduais a impedirem a contratação de serviços dos que aderirem ao BDS.

Causou indignação que as duas primeiras muçulmanas negras eleitas para a Casa dos Representantes fizessem declarações públicas em defesa do BDS, que a maioria dos seus colegas acabara de repudiar como uma  iniciativa  anti-semita.

Quando uma delas, Amn Ilham Omar, num tuíte,comentou que a maciça aprovação das medidas de interesse de Israel era devida ao dinheiro, usando a frase it´s all about Benjys, provocou as iras de parlamentares republicanos e até alguns democratas.

Dizem que about Benjys eram uma antiga gíria anti-semita significando dinheiro judeu. Portanto, a frase de Omar seria uma acusação de que o dinheiro judeu mandava no governo.

Um representante republicano defendeu o impeachment de Omar. E a democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes, assinou declaração, junto com mais quatro colegas dos dois partidos, exigindo que Omar se desculpasse publicamente.

O que a jovem muçulmana fez, explicando, porém, que usara o termo Benjys pensando num rap dos anos 90, Benjamins, que associava esta palavra à nota de 100 dólares, na qual está a efígie de Benjamin Franklin, um dos fundadores dos EUA.

Omar não sabia que era também uma antiga gíria antissemita.

Pedindo desculpas por ter involuntariamente ofendido muitas pessoas, não perdeu o embalo. Afirmou, que a AIPAC, maior lobby pró-Israel, financiava parlamentares das duas casas.

O presidente Trump também entrou na discussão, decretando que Ilhan deveria resignar.

Anti-semittismo era inaceitável na América.

Esqueceu-se, talvez, de que em dezembro de 2015 ele incorreu nesta heresia.

Falando à Coalizão de Judeus Republicanos, depois de os chamar  de negociantes, The Donald soltou esta: ”Vocês não vão me apoiar porque eu não quero seu dinheiro. Vocês querem controlar seus políticos, tudo bem.”

OOPSS…

 

 

 

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