O embargo de Cuba completa 50 anos.
Conta-se que, antes de decretá-lo, o Presidente Kennedy mandou seu secretário de imprensa, Pierre Sallinger, comprar 1.200 charutos cubanos. Foi um começo ridículo.
Seu principal objetivo era a derrubada dos irmãos Castro e do regime comunista na ilha.
Havia outros motivos.
Um governo aliado a Moscou, a 90 milhas da Florida, durante a Guerra Fria, era bastante incômodo.
Também perturbava os EUA o apoio que Cuba dava a movimentos de esquerda em todo o continente americano.
No 50º aniversário do embargo, os irmãos Castro e seu regime continuam.
Mas, a realidade de hoje é bem outra. Não há mais Guerra Fria. O comunismo não assusta mais ninguém, com seus partidos fechados ou enfraquecidos em todo o mundo, à exceção da Coreia do Norte e da própria Cuba.
E Cuba há muito tempo deixou de exportar sua revolução.
Voltou-se para si. Não é mais aquele país miserável e sem perspectivas, com sua população passando fome, depois que com o fim da União Soviética, acabaram seus generosos subsídios (4 a 6 bilhões de dólares anuais) e a economia entrou em pane.
Esses tempos difíceis duraram muitos anos, mas agora Cuba é outro país: um país que cresce e tem boas perspectivas de desenvolvimento.
Desde quando Raul Castro assumiu o poder, uma série de reformas econômicas foram efetivadas. O objetivo básico passou a ser elevar o nível de vida da população, afastando o governo do micro gerenciamento da vida diária para concentrar-se nas questões estratégicas.
Novas leis permitem às pessoas venderem suas casas e seus carros; os agricultores ganharam o direito de vender seus produtos diretamente, sem intermediação do estado; de 500 mil a 1 milhão de funcionários estão sendo demitidos dos empregos públicos recebendo incentivos para abrir pequenos negócios, agora permitidos por lei.
Esta última medida tem dado certo, haja visto o pequeno índice de desemprego em Cuba: apenas 2%.
Na economia, o governo procura interessar o ingresso de empresas estrangeiras, principalmente nas áreas de infraestrutura.
Neste mês, a Repsol, empresa espanhola de energia, começou a perfurar seu primeiro poço de petróleo em águas territoriais cubanas numa área em que governos estrangeiros, inclusive os EUA, estimam existir uma reserva de bilhões de barris de petróleo e de trilhões de pés cúbicos de gás.
Os geólogos calculam que dentro de poucos anos a ilha – que sempre dependeu da importação de petróleo- estará exportando o produto. A exploração desta gigantesca reserva petrolífera será, certamente, um poderoso fator de desenvolvimento.
Outro avanço é a construção do grande porto de Mariel, no futuro um terminal de containers, a poucas milhas de Havana, pela empresa brasileira Odebrecht, com financiamento do BNDES.
O turismo, que sempre foi um importante setor da economia, vive um período de acelerada expansão. 15 novos campos de golfe e novas marinas estão em construção. Os hotéis ficam cheios o ano inteiro. Espera-se que, neste ano, 2 milhões e 700 mil turistas visitem Cuba.
Os índices econômicos são bons, considerando a crise econômica mundial: para 2012, prevê-se um crescimento de 3,4%, semelhante ao do Brasil.
Espera-se que novas medidas de liberalização da economia sejam efetivadas, pois os responsáveis pelo governo cubano tem em mira o modelo chinês.
“A China é um exemplo”,. diz o Gramma, jornal oficial do partido. ”Nenhuma outra nação conseguiu retirar tantas pessoas da pobreza. Isto é algo de que o governo e o povo chineses podem se orgulhar e que o resto do mundo admira.”
O embargo americano, no início, foi aceito pela maioria dos países, inclusive os da América Latina que, por pressão americana, expulsaram Cuba da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Com o tempo, os países foram reatando suas relações com Cuba. A ilha foi readmitida à OEA. Nos últimos 19 anos, o embargo vem sendo sempre condenado pela Assembleia Geral da ONU.
Em outubro do ano passado, 186 países apoiaram o fim dessa medida por considerá-la desumana e um reflexo tardio da Guerra Fria. Somente 2 países se opuseram à decisão geral -os EUA e Israel. Palau, a Micronésia e as Ilhas Marshal se abstiveram.
Embora, hoje, apenas Israel respeite o embargo, ele inclui várias outras proibições que afetam a economia cubana. Como as seguintes:
é proibido a empresas de terceiros países exportar para os EUA qualquer produto que contenha alguma matéria-prima cubana; é proibido a empresas de terceiros países que vendam a Cuba bens ou serviços nos quais seja utilizada tecnologia estadunidense.
Segundo relatório da ONU, desde o início até 2005, o embargo americano causou prejuízos de 89 bilhões de dólares a Cuba.
Indicando como causa a proximidade ameaçadora dos EUA, os dirigentes cubanos não afrouxaram os mecanismos de controla da população. Continua a existir um só partido, não há liberdade de reunião, nem de imprensa, nem oposição legalizada e os direitos humanos não são devidamente respeitados, como já foi denunciado por entidades idôneas como a Anistia Internacional e a Human Righs Watch.
No entanto, há alguns sinais animadores como a libertação de 52 dissidentes, através da mediação da Igreja Católica e da Espanha e mesmo certa liberdade de expressão na internet.
Vejam este trecho de um texto da blogueira Yoani Sanchez : “Si nos dejamos guiar por la propaganda gubernamental, em esta isla no hay uma sola persona decente, preocupada por el destino nacional y sin crimines cometidos que además se oponga al sistema. Todo aquel que emite una critica es imediatamente tachado como terrorista, o vende pátria, malechorro o amoral.”
Yoani publica costumeiramente textos assim e, não obstante, continua livre.
Não se pode negar que a falta de liberdade seja um ponto negativo no governo cubano. Mas há indicadores sociais positivos: 99;8% das pessoas são alfabetizadas; não há menores vivendo nas ruas como no Brasil; os índices de saúde são de nível europeu; seu índice de qualidade de vida é o 51º, bom, levando-se em conta que, nesse quesito, o Brasil se classifica em 72º.
De qualquer forma, o fato de não haver liberdade em Cuba não é razão para os EUA conservarem seu embargo. Afinal de contas, eles tem boas relações com países ditatoriais, como a Arábia Saudita, Vietnam, China, Bahrein e Usbequistão. Na verdade, a razão é bem outra: o lobby cubano-americano. Ele é muito influente na Florida, onde detém muitos votos. Os presidentes costumam respeitá-lo para não se arriscarem a perdas eleitorais.
No entanto, a opinião dos cubanos que vivem nos EUA está mudando. Entre 2004 e 2008, diminuiu pela metade o número dos que apoiavam o reforço dos embargos econômicos. Enquanto que, em 2004, 43% eram favoráveis, em 2008 este índice caiu para 26,7%.
32,9%, em 2004, defendiam a permissão às viagens a Cuba. Em 2008 já somavam 47%.
O professor UC Riverside, Benjamin Bishi, que dirigiu a pesquisa em 2009, acredita que esses resultados demonstram que o pensamento dos cubano-americanos acha-se em transição, numa tendência favorável à aproximação com Cuba. A segunda e a terceira geração de cubano-americanos, nascidos nos EUA, que jamais viveram em Cuba, não tem o mesmo perfil visceralmente anti-castrista dos seus pais e avós.
Apesar desses fatos, Obama não terá coragem de levantar o embargo num ano de eleições.
O que, aliás, não depende só dele. Seria necessária a aprovação do Congresso, impossível enquanto o Partido Republicano dominar a Câmara dos Representantes.
Com embargo ou sem ele, o caminho de Cuba na direção de um regime estilo chinês, com resultados também surpreendentes, é irreversível.
Fidel Castro parece ter vislumbrado o fim da sua utopia socialista quando, no seu discurso de despedida, citou Calderon de la Barca, dizendo “La vida es sueño e los sueños, sueños son.”
Amigo parabens.
Seu artigo é magnifico.
Destraca bem o diferencial da CUBA atual
Vopce pode afirmar que é talvez um pais onde a miseria foi abolida.
Acho que não se pode disser o mesmo dos USA
Que coisa em?
Primeiro fala do “regime dos irmãos Castro e comunista”. Não, Cuba é mais que o regime dos irmãos Castro e nunca foi comunista.
Fala também, citando um frase do principal jornal do país, que estão seguindo o modelo chinês, mas ignora as inumeras rebatidas de diregentes cubanos sobre isso.
E ainda insiste que o modelo da China é um exemplo para o desenvovimento econômico, não considerando que na parte social as conseguências desse modelo de exploração econômica é desvastador para a classe trabalhadora e para os pobres de forma geral. Onde quem escolhe, executa e fica com o produto final é o capital internacional, que penetra atráves de uma legislação liberal, e as burocracias/burguesias locais, conhecedora de estratégias para a reprodução do capital e o surgimento do lucro, sem gasto nenhum.
E vê essas medidas (a lá chinesas) como positivas, no entanto vê como negativas o modelo cubano de unidade nacional popular, qualificado com as organizações de massas e eleições direitas das bases dos cubanos!