Para desgosto da Folha, Estadão e similares, novas posturas do Brasil reafirmam sua política externa independente.
Em recente entrevista, o embaixador dos EUA permitiu-se criticar as abstenções da diplomacia brasileira na votação no Conselho de Segurança da ONU de propostas de condenação dos regimes sírio e líbio. Declarou ele que, sendo uma potência importante, nosso país tinha de manifestar-se, do contrário estaria contribuindo para paralisar a ONU.
Em outros tempos, o Ministro das Relações Exteriores baixaria a cabeça e permaneceria em silêncio contrito.
Agora foi diferente. O Ministro Antonio Patriota devolveu o ataque. Afirmou que não são abstenções que paralisam a ONU, mas sim, os vetos. Referência direta ao prometido veto americano ao ingresso da Palestina na ONU, como país independente. Veto que, de fato, paralisará a efetivação de uma decisão apoiada por mais de 90% dos países membros da ONU.
Alguns dias depois, o mesmo Ministro Patriota anunciou que vai apresentar à ONU um projeto que regulamenta o conceito de “responsabilidade ao proteger”, já mencionado pela Presidente Dilma Roussef.
Como se sabe, foi com base em um artigo vago da resolução da ONU, que objetivava a proteção dos civis líbios ameaçados de massacre, que as potências ocidentais aproveitaram para bombardear indiscriminadamente as tropas e as cidades sob domínio de Kadafi.O que causou a morte de centenas de civis inocentes, além de destruir edifícios, represas e fábricas, que agora terão de ser reconstruídos, forçando o novo governo líbio a gastar centenas, se não bilhões de dólares.
De acordo com a proposta brasileira, se um país promover ou não conseguir impedir genocídio, crimes de guerra ou étnicos em seu território, caberá à ONU intervir. Porém, serão esgotadas todas as possibilidades de resolver os problemas na área da diplomacia antes de se recorrer à força. Nesse caso, os limites serão rigorosamente traçados e a ação monitorada pela ONU para evitar excessos, como aconteceu na guerra da Líbia.
Não me parece que esse projeto seja bem recebido pelos EUA e seus países liderados na Europa e no Golfo. Impedirá uma ação militar contra a Síria, país que tem tudo para ser a bola da vez. Diferente do Iemen e do Bahrein, onde o povo também está sendo atacado pelas forças do governo há meses, os sírios não são aliados do Ocidente. Pelo contrário: tem boas relações com o Irã e seus satânicos aiatolás. Portanto, embora a Liga Árabe tenha convencido o Presidente Assad a retirar os tanques das ruas e soltar os presos políticos, como pré-condições para negociar um acordo com a Oposição, o Presidente Obama declarou que nada feito, pois ele já tinha considerado que Assad perdera a legitimidade. Veremos como o povo sírio vai reagir a esta usurpação de seus poderes de decidir quem deve governá-lo.
Reagindo às pressões americanas e às suas ameaças de cortar os recursos que forneciam à UNESCO caso aprovasse a entrada da Palestina, 107 membros apoiaram essa medida. O Brasil estava entre eles, juntamente com todos os países da América do Sul, com exceção da Colômbia que se absteve.
Ao lado dos EUA e de Israel, que queriam a Palestina fora da UNESCO, ficaram apenas 12 países.
Como prometera, os EUA cortaram seus recursos que representavam 22% do orçamento da UNESCO, o que prejudicará muitos programas educativos e culturais de grande importância.
Concluindo esse feixe de posturas independentes, o Ministro da Defesa, Celso Amorim, reuniu-se com altas autoridades bolivianas para definir os termos de um acordo bilateral para enfrentar o problema do narcotráfico. O parceiro da Bolívia nessa ação vinha sendo os EUA. No entanto, o governo Evo Morales havia aberto mão da colaboração dos EUA depois de ter detectado intervenções políticas de representantes americanos que chegaram a manter contatos secretos com a oposição boliviana.
O Brasil vai substituir os EUA no apoio ao governo boliviano. Um dos objetivos é tornar eficaz o monitoramento das fronteiras por onde passam 80% das drogas consumidas no nosso país. Para isso, serão usados inclusive aviões sem piloto. O cultivo da folha de coca também será alvo de monitoramento com participação de militares brasileiros.
Esta foi a estréia do Ministro da Defesa Celso Amorim. Espera-se que, em seguida, ele cumpra o mais rápido possível sua promessa de retirar as tropas brasileiras do Haiti.