A batalha final da guerra do Iêmen será no congresso dos EUA.

Em junho do ano passado, a aviação da Arábia Saudita bombardeou um centro

para tratamento de cólera da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), no Iêmen.

O governo de Riad convocou comitê oficial para investigar o fato.

O resultado saiu no mês passado: a culpa teria sido próprio MSF, que não

sinalizara sua instalação para evitar possíveis bombardeios.

Não era verdade, o MSF contestou e exigiu uma investigação independente.

Foi o quinto centro médico da entidade que foi destruído por bombas da coalisão

liderada pelos sauditas.

Neste último, o prejuizo para o povo iemenita foi extremamente  grave, a

destruição vai piorar o atendimento à cólera, que já atingiu, 1,2 milhões de

pessoas, das quais 3 mil morreram.

A Guerra do Iêmen já dura quatro anos.

Foi causada pela deposição do presidente Hadi. Eleito sem concorrentes, seu

governo deveria ser transitório, durar apenas dois anos.

Findo esse prazo, Hadi continuou no poder.

O grupo dos houithis, que controlava o norte do país, iniciou então uma revolução,

concluída com a tomada do governo pelos rebeldes.

A Arábia Saudita, patrocinadora de Hadi, reagiu para repor seu protegé no trono

iemenita. Formou uma coalisão com apoio de alguns estados árabes e

participação direta dos Emirados Árabes Unidos.

A estratégia da coalisão é vencer seus inimigos pela fome e por

expansão crescente de doenças graves, em todas as regiões.

Isso está sendo efeito através de contínuos e pesados bombardeios aéreos

contra zonas residenciais, depósitos de alimentos, usinas elétricas, estações de

tratamento de água, rodovias, hospitais, centros de saúde e o bloqueio aéreo e

naval  para impedir a chegada de chegada de suprimentos importados, dos quais o

país depende.

Os objetivos sauditas parecem estarem sendo atingidos. Morreram entre 60 mil e

80 mil iemenitas até dezembro do ano passado, segundo estudos do Armed

Conflict Location & Event Data Project, da Universidade de Sussex, Reino Unido

(Independent, 11-12-2019).

A má nutrição ou doenças associadas a ela mataram cerca de 85 mil pessoas

Informa relatório da UNICEF, publicado em janeioro deste ano: 12 milhões de

iemenitas, incluindo 2 milhões de crianças, dependerão de assistência alimentar,

em 2019.

Perto de 394 mil crianças com menos de 5 anos sofrem de severa e profunda má

nutrição, exigindo tratamento.

Apenas 10% dos bebês com menos de 6 meses são alimentadas pelo seio

materno e só 15% das crianças comem o mínimo de alimentos aceitável para

sobreviver, crescer e se desenvolver.

6.700 crianças foram mortas pelos bombardeios.

Em 2018, surtos de cólera atingiram mais de 1 milhão de iemenitas.

Talvez devido à pouca divulgação feita pela imprensa, estes números aterradores

foram ignorados pela opinião pública dos EUA durante muito tempo.

O bárbaro assassinato do jornalista Khassorghi, por sicários a mando

do príncipe herdeiro e virtual governante doa Arábia Saudita, Mohamed bin

Salman, mexeu com a consciência do povo yankee.

A repulsa geral contra um governo capaz de um crime tão hediondo acabou

levando as pessoas a abrirem os olhos para as malazarntes praticadas

 impunemente pela ditadura monárquica.

Criou-se uma onda contra o apoio militar do governo Trump a esses tiranos.

A ideia de bombas fornecidas pelos EUA estarem matando crianças, destruindo

hospitais, espalhando o horror pelas famílias iemenitas gerou indignação

generalizada.

Pesquisas do You Gov revelou que 58% dos entrevistados queriam que o governo

cortasse ou interrompesse as remessas de armas e munições para a Arábia

Saudita. Somente 13% manifestaram-se a favor.

Essa onda chegou ao Congresso.

No últimos meses de 2018, representantes dos dois grandes partidos resolveram

dar um  basta na cumplicidade americana com os massacres da Guerra do Iêmen.

Eles apresentaram no Senado uma proposta de lei proibindo seu governo

a continuar auxiliando militarmente a monarquia de Riad no massacre dos

iemenitas.

The Donald subiu pelas paredes.

Absurdo renunciar aos 110 bilhões de dólares em armas americanas vendidas à

Arábia Saudita. Inaceitável perder a preciosa e rendosa amizade com o rei

Salman e seu querido filho, o príncipe Molhamed bin Salman.

Por ordem do presidente, o então secretário da Defesa, general Mattis,

mais o ardente falcão e secretária de Estado, Mike Pompeo, foram pressionar os

congressistas republicanos a votarem contra o perigoso projeto.

Apesar dos esforços dos secretários e dos fogosos tuites do morador da Casa

Branca, a maioria do Senado decidiu que os EUA deveriam deixar os sauditas

praticarem suas violações dos direitos humanos sem a cumplicidade americana. E

ainda  aprovou uma resolução condenando o príncipe herdeiro saudita pelo brutal

assassinato de um jornalista oponente, num país vizinho da Arábia Saudita.

Esse projeto foi barrado na Casa dos Representantes, graças aos

republicanos, dóceis a Trump. Eles foram maioria até o fim de 2018..

Não são mais.

No início de janeiro de 2019 tomaram posse os novos representantes, eleitos no

pleito de novembro do ano passado.

e as coisas mudaram: agora os democratas é que tem maioria. Muito ampla, por

sinal. Eles se preparam para relançar o projeto, a vitória é certa. No Senado, que

mudou pouco, espera-se repetição do apoio anteriormente recebido.

Evidentemente, Trump vai vetar.

A briga decisiva será quando a decisão presidencial for discutida no congresso.

Para derrubar o veto do morador da Casa Branca serão necessários dois terços

dos votos.

E os argumentos monetários sauditas podem ser muito convincentes…

 

 

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