Ascensão e queda do Tea Party.

Em dezembro de 1773, um grupo de americanos atacou um navio no porto de Boston e jogou ao mar toda a sua carga de chá (tea).

Era um protesto contra o Tea Act , imposto pelo governo inglês para taxar o chá produzido na colônia americana.

Esse incidente foi o detonador da revolução contra a Inglaterra, que criou os Estados Unidos da América.

Daí o nome de Tea Party ao movimento surgido em 2009 para lutar pela redução de impostos e, de um modo geral, da intervenção do Estado em todos os aspectos da vida nacional.

Adversário do Partido Democrata e do establishment do Partido Republicano, o Tea Party pretendia resgatar os valores tradicionais americanos, supostamente violados por um Estado excessivamente poderoso, dominado por políticos corruptos.

Com seu apelo por mudanças na política, combate à ineficiência estatal e defesa dos cidadãos contra um “Estado voraz”, conseguiu rapidamente grande apoio, especialmente junto á classe média.

Alguns bilionários também foram atraídos pois viam no movimento uma força a ser usada, tanto para manter seus privilégios, quanto para limitar o poder estatal sobre a economia.

Os irmãos Koch, uma das maiores fortunas dos EUA, proprietários de grandes empresas petrolíferas, estão entre seus principais financiadores.

Eles seguem as tradições de seu pai, fundador da famigerada John Birch Society, principal adversária da campanha pelos direitos civis nos anos 60.

Al Gore, ex-candidato presidencial democrata, define o Tea Party como uma estratégia política para “promover os lucros corporativos às custas do bem público.”

 

Para outro democrata, Nancy Pelosi, líder na Casa dos Representantes: “Não se trata de um movimento da comunidade. É uma farsa de algumas das mais ricas pessoas da América para manter o foco sobre o corte de taxas para os ricos em vez de para as classes médias.”

Com uma direção descentralizada, cada estado tem seus chefes, os membros  do Tea Party defendem posições francamente hostis ao estado de bem estar social.

Ele tem combatido as leis de imigração; a Reforma da Saúde; o corte dos subsídios fiscais aos mais ricos; a Agenda 21 da ONU (plano de ação para o desenvolvimento sustentável dos países do mundo); os programas sociais do governo; os projetos ambientalistas e todo e qualquer aumento de impostos.

Mas alguns de seus principais destaques, como o senador Randy Paul, são coerentes com a ideologia liberal do movimento. Eles a consideram de um modo abrangente, implicando também questões como a espionagem da vida privada dos americanos, movida pelo presidente Obama.

Paul é dos mais duros opositores à forma com que o sistema de vigilância do governo bisbilhota telefonemas e a comunicação online.

Não sendo um partido, os membros do Tea Party escolheram entrar no Partido Republicano, mais próximo às suas ideias, para se candidatarem  a cargos públicos.

Saíram-se bem logo nas suas primeiras campanhas eleitorais.

Elegeram 40% dos seus 130 candidatos à Casa dos Representantes (Câmara dos Deputados) e metade dos seus 10 candidatos a senador, segundo estatísticas do blog da NBC (rede de TV).

Na crista onda republicana que ganhou o controle da Casa dos Representantes e por pouco não ganhou também o Senado.

A derrota democrata foi consequência da decepção causada pelo presidente Obama, que prometeu mudar mundos e fundos e não mudou quase nada.

Nos dois anos seguintes a maré republicana foi refluindo, à medida que o eleitorado americano pareceu começar a se conscientizar do que havia feito.

E chegaram as chamadas eleições de “médio- termo”, quando o povo deve dizer se quer manter ou renovar 1/3 dos senadores e o total da  Câmara dos Representantes.

Os resultados mostraram um declínio do Partido Republicano: os democratas conseguiram 10 milhões de votos a mais no Senado e 1,5 milhão a mais na Câmara dos Representantes.

Continuaram com a maioria dos senadores e mantiveram a maioria da Casa dos Representantes republicanos em parte devido ao distorcido sistema americano, que permite aos estados dominados por um partido manipularem a formação dos distritos eleitorais.

Junto com o GOP (Great Party – Partido Republicano), o Tea Party também caiu.

Perdeu 4 nas 16 disputas pelo Senado das quais participou. E perdeu 20% dos lugares na Casa dos Representantes, que havia conquistado em 2009.

Esta queda deve se acentuar depois da participação do movimento na crise que quase levou os EUA à bancarrota.

Aceitar a elevação do limite das dívidas do país contrariava de frente a ideologia do Tea Party.

No entanto, lhes pareceu que valia à pena sacrificar esta posição diante da oportunidade de destruir algo também muito importante: o odiado Obamacare (Reforma da Saúde).

Eles estiveram entre os republicanos que levaram o GOP a condicionar seu apoio à elevação do limite de débitos ao adiamento por 2 anos da votação da lei que criava impostos para a Reforma da Saúde.

De quebra, recusaram-se a aprovar o orçamento federal, obrigando o governo a suspender diversos serviços e mandar 800 mil funciomnários para casa, sem vencimentos.

Enquanto se avizinhava o fim do prazo para a Casa dos Representantes votar a elevação do limite, a tensão aumentava em todo o mundo.

Particularmente nos EUA, é claro.

O povo mostrava-se assustado, recriminando os seus representantes pela crise.

Os republicanos, por sua vez, temendo serem punidos nas próximas eleições,em 2014, começavam a arreglar.

Mas os membros do Tea Party não cediam.

Embora fossem minoria, intimidavam seus colegas.

Agressivos e bem organizados, tinham por si vasto apoio midiático – a Fox News, do megamagnata da imprensa Rupert Murdoch e diversos talk-shows  populares de TV e Rádio – muitos pastores cristãos fundamentalistas e poderosos lobbies empresariais.

Por fim, para não serem responsabilizados por uma crise de dimensões imponderáveis, a maioria dos republicanos cedeu.

E os EUA foram salvos contra o voto dos homens do Tea Party.

Não sem sofrerem pesados danos.

Nos 16 dias em que se arrastou a discussão da questão, a economia americana perdeu 31 bilhões de dólares – estimativa da Moody´s Analytics.

Segundo o Goldman Sachs, o impacto foi em média de 10 bilhões de dólares por semana, portanto 40 bi nos 16 dias.

Os republicanos ficaram mal diante do povo americano.

Muitos deles começam a se manifestar, culpando o Tea Party pela perda de prestígio sofrido por sua atuação no evento.

Entre outros, o senador Lindsey Grahan, que sempre se deu bem como movimento, agora acusa: “A forma com que atuam (o pessoal do Tea Party) e o caminho que iniciaram nas últimas semanas, conduziram o partido a uma marginalização aos olhos dos americanos, uma forma de conservadorismo que provavelmente está alem do que o mercado pode tolerar.”

Os fatos concordam com ele.

Se em 2009 (pesquisa da Pew), cerca de metade da população tinha opinião favorável do movimento, em 3 de outubro de 2013, esse número caiu para um terço. Deve ser ainda menos agora, depois da atuação perigosamente negativa do Tea Party .

Nem as derrotas no legislativo e junto à opinião pública abalaram seus integrantes.

Em várias manifestações, seus líderes mantiveram as posições defendidas na batalha legislativa.

Uma “nobre causa”, segundo um deles, o senador Ted Cruz.

“Nobre causa” assim  definida pelo humorista Andy Borowitz, no New Yorker: “O sonho de manter os pobres sem ver um médico não deve jamais morrer.”

 

 

 

 

 

 

 

Um comentário em “Ascensão e queda do Tea Party.

  1. Quem diria que xiíta não é mais sinônimo de radical. Os sunitas são agora o “demo” do dia. Demo de demônio e não de democracia, claro .Que explicação mais desnecessária…
    Já o Tea Party está caindo! Mas continuam riquíssimos, poderosos e arrogantes, ô raça!

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