Depois do fim da Guerra Fria, em 1989, esperava-se que a OTAN encerrasse suas atividades.
Afinal, ela fora criada em 1949, após a 2ªGrande Guerra com o objetivo de proporcionar segurança aos países europeus diante do expansionismo soviético.
Em 1991, com o fim do comunismo e a desintegração da União Soviética, que virou Rússia, a ameaça desaparecia.
Mas a OTAN continuou firme.
Pelos seus regulamentos, os membros deveriam ser solidários mutuamente caso um deles fosse atacado por algum país fora da organização.
Para que ninguém fosse pego de calças curtas, todos deveriam lançar nos respectivos orçamentos uma verba para despesas militares da OTAN.
Na verdade, proteção mesmo viria dos EUA, graças ao seu imenso poderio bélico, a quem pertencia a liderança da organização.
Sem demora, os EUA começou a espalhar bases militares por todo o continente europeu, inclusive na Turquia que, por sinal, fazia fronteira com a Rússia.
Uma voz de peso ergueu-se contra a OTAN no próprio país de Tio Sam.
O senador Robert A.Taft {republicano} considerou a aliança inapropriada. Para ele, um bloco militar formado por nações armadas contrárias à União Soviética poderia fazer o governo de Moscou se sentir acossado e abrir caminho para uma nova guerra mundial. E Taft perguntou: “Como nós nos sentiríamos se a Rússia começasse a armar um país nas nossas fronteiras, o México, por exemplo?”
Parte das predições do senador se realizaram. A União Soviética tratou de aumentar suas forças criando o Pacto de Varsovia,em 1955, cujos membros eram os países da Europa Oriental de sua órbita.
Nos anos que se seguiram, declarou-se a chamada Guerra Fria, na qual os dois blocos se hostilizaram de várias formas, procurando aumentar sua influência em todo o mundo e iniciando uma corrida armamentista, na qual esteve próxima o deflagrar de uma nova guerra entre as super-potêncis, que arrastaria o mudo inteiro.
Com Gorbachev as relações entre os dois blocos melhoraram.
Tendo a Alemanha se unificado, para assegurar sua entrada na OTAN, o governo americano deu garantias a Gorbachev de que a aliança não incluiria suas operações nos países do Leste, comprometendo-se a jamais
instalar tropas estrangeiras e armas nucleares nesses países. Fato assegurado, posteriormente, por Jack Matlock, embaixador dos EUA nos anos de ocaso do império soviético.
Com o fim da União Soviética a Guerra Fria também não tinha porque prosseguir. Não havia nenhuma grande potência pondo em risco os países europeus. E a Rússia, sob o comando de Ieltsin vivia um processo de
privatização corrupto que estava destruindo sua economia.
Longe de ser um inimigo, o governo Yeltsin abria as portas do país a entrada de grupos estrangeiros ansiosos por lucros fáceis na liquidação do império russo.
Se a rigor, OTAN não interessaria mais aos países da Europa, interessava aos EUA.
Sendo um braço das forças armadas americanas, sua presença em toda a Europa era um meio para pressionar o Ocidente na direção que convinha a Washington. Além de fornecer soldados e armamentos para cooperar nas iniciativas militares americanas.
Foi assim a participação da OTAN nas guerras de Kosovo, Afeganistão, Líbia e Iraque
Depois da eleição de Vladmir Putin para a presidência da Rússia, Moscou voltou a ser focado pelos holofotes da OTAN.
O novo presidente tratou de remediar as desastrosas medidas de Ieltsin.
Logo a Rússia começou a sair do abismo onde fora lançada e se tornar uma nação forte e também perigosa por possuir armamentos nucleares em grande número.
Além disso, ousou desafiar os EUA firmando alianças com regimes mal vistos pelo governo americano como os do Irã, Síria e China. Sem contar que continuou mantendo relações privilegiadas com alguns países ex-
integrantes de antigo império soviético.
Washington não poderia ficar de braços cruzados.
A OTAN foi expandida, integrando-se na oergfanização vários países do Leste europeu, rompendo o acordo firmado com Gorbashev quando a Alemanha foi unificada.
E os EUA atacaram, apoiando com inteligência, dinheiro e ONGs amigas os movimentos contra governos aliados da Rússia. Conseguiu assim derrubar os governos pró-Moscou da Ucrânia e da Geórgia, via eleições com
grande mobilização popular..
Posteriormente, o governo corrupto pró-Ocidente da Ucrânia foi derrotado nas eleições, assumindo então um político favorável a Moscou.
No entanto, sendo ele também corrupto, foi por sua vez defenestrado por um levante popular em Kiev, a capital.
Os EUA tiveram atuação decisiva na organização e direção desse movimento.
Uma prova decisiva foi a gravação do telefonema entre Victoria Noland, do Departamento de Estado, e o embaixador americano em Kiev, no qual os dois discutiram sobre quem deveria ser o primeiro-ministro do novo
govêrno ucraniano. O nome escolhido por eles foi, de fato, o nomeado.
Putin não ficou de braços cruzados, diante desses eventos que poriam canhõs na fronteira com a Rússia, assestados em direção a Moscou.
Tratou de associar-se a um movimento separatista no leste ucraniano que faz fronteira com a Rússia, de população majoritariamente russa. Ajudou especialmente com armas, inclusive pesadas.
Fez mais: anexou a Criméia, de população quase toda russa. Essa região sempre pertencera à União Soviética, tendo sido declarada uma república autônoma por Kruschev, em 1953.
Logo após a ocupação, realizou-se um plebiscito, sem pressões russas nem manobras eleitorais, no qual a maioria esmagadora da Criméia optou por integrar-se à Rússia.
Os jornais dos EUA e da Europa, especialmente dos países do Leste europeu, ex- membros do império soviético, espalharam a idéia de que a anexação da Criméias fora só começo. A Rússia e seu Napoleão pretendiam avançar
sobre os países Bálticos, a Polônia, a Bulgária, a Romênia, a República Checa, a todos antigos satélites de Moscou.
Foi a hora da OTAN mostrar serviço.
Numa ofensiva liderada por Barack Obama, tropas da OTAN deslocaram-se para as fronteiras dos países do Leste com a Rússia, grandes exercícios militares foram ali realizados.
Reagindo, a Rússia fez o mesmo.
Estabeleceu-se uma verdadeira corrida militar com OTAN e Rússia rivalizando no envio armas cada vez mais pesadas, aviões, tanques e sistemas anti-mísseis.
A Polônia, tradicional inimiga dos russos desde os tempos do czarismo, aceitou com satisfação o ingresso de tropas estrangeiras da OTAN. Já existem duas bases em operação. Uma delas localizada na fronteira russa, conta
com importantes sistemas anti-míss
Por sua vez, os países do Báltico receberam e até solicitam mais tropas da OTAN – eles tem uma experiência amarga dos tempos da União Soviética.
Enquanto isso, a Rússia não parou de reforçar militarmente suas extensas fronteiras com os países do Leste europeu, hoje todos eles alinhados com o Ocidente.
As duas partes afirmam que estão apenas compensando as grandes manobras e ao aumento das forças adversárias na fronteira russa.
Os russos não deixam de ter certa razão.
O que fariam os EUA se o México, a Guatemala, Cuba, o Canadá e a maioria da América do Sul fizessem uma aliança militar e implantassem bases e tropas, com canhões e lança-mísseis voltados na direção do Sul dos EUA ?
Na semana passada um avião de caça russo interceptou um avião de observação americano, voando a seu redor duas vezes.
Em abril, junto ao enclave de Kaliningrado, um destroier americano foi duas vezes sobrevoado por aviões russos.
Ambas são manobra intimidantes.
A respeito do caso, Putin comentou: conservem seus aviões e navios espiões numa respeitável distância de nós.
Se destroyers e aviões de observação russos passassem ao largo de Nova Iorque, os americanos não acenariam alegremente para eles.
No dia 30 de abril, sub-secretário da Defesa dos EUA, Robert Work anunciou que mais 4.000 soldados da OTAn, incluindo dois batalhões americanos, seriam enviados aos Estados Bálticos e à Polonia para estacionarem
junto à fronteira com a Rússia”,
E comentou: ”Os russos tem feito uma porção de “exercícios de pressão” diretamente contra a fronteira com muitos soldados”. Acrescentou que chamava isso de “comportamento extraordinariamente provocador.”.”
Para ele, soldados russos instalados dentro do seu próprio país é uma provocação, enquanto que soldados da OTAN instalados a um passo do país dos russos não é.
ainda que Putin abrigasse em seu íntimo sinistros planos de conquistas na Europa, não teria chance alguma.
Cercado nas fronteiras de Norte a Sul do Oeste pelas tropas da OTAN e por nações hostís armadas até os dentes pelos EUA, tem ainda sua saída para o Atlântico inviabilizada e , portanto, sua Marinha sem chances de atacar
navios de suprimentos vindos dos EUA.
Para isso, teriam de passar pelas costas de 8 nações da OTAN: Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Alemanha, Dinamarca, Noruega e Reino Unido.
Todaselas contam com forças próprias ou da OTAN para não deixar as frotas de guerra russas passarem impunemente em sua frente.
A realidade coloca Putin numa posição defensiva.
A única coisa que pode fazer é continuar aumentando seus recursos militares na fronteira cada vez que a OTAN faz o mesmo.
Nesta semana, Serguei Choigu, ministro da Defesa russo informou a criação de três novas divisões militares até o fim do ano para “contrariar o aumento das forças da OTAN próximo às fronteiras da Rússia.”
Como reagirá a OTAN?
Não sei quem começou tudo.
Só acho que estes jogos de guerra podem virar uma guerra de dimensão maior.
Provavelmente não uma 3ª-Grande Guerra, mas certamente uma 2ª- Guerra Fria.
O que não é nada animador pois sabe-se que naqueles tempos em várias ocasiões o mundo esteve à beira de uma guerra de verdade.
Com os adversários agora tão próximos, os riscos atuais são mais sérios.
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