Para muitos observadores, a guerra civil da Síria decide-se em Alepo.
Defrontam-se, ocupando 2/3 da cidade, tropas do governo Assad, reforçadas pela aviação russa e milícias do Líbano, Irã e Iraque; ocupando o terço restante, as forças do Nussra, ex-filial da al Qaeda, mais diversas milícias jihadistas e tropas dos chamados “moderados. ”
Governo e rebeldes estão usando o melhor de suas forças armadas pois quem vencer deixará o outro em precárias condições. Com poucas chances de reverter a derrota com vitórias em outros fronts.
Em julho, as tropas fiéis ao governo conseguiram fechar o cerco da cidade, fechando o setor leste, ocupado pelos rebeldes.
Foi um feito dos mais importantes pois permitiu a entrada de reforços na parte oeste, sob o domínio do governo de Damasco.
Em agosto, os rebeldes romperam o cerco, expulsando os adversários da área de Ramussa, setor ao sul. A seguir, anunciaram que, em breve, continuariam seu avanço até obrigar o inimigo a recuar e sair totalmente da região de Alepo.
Mas deu outra. O governo é quem avançou.
Recuperou Ramussa e a estrada principal que viabilizava o transporte de armamentos, soldados e suprimentos para a parte oeste da cidade.
E assim reestabeleceu completamente o cerco do 1/3 da cidade sob controle dos rebeldes, que ficaram bloqueados, em situação difícil.
Numa transmissão radiofônica, um repórter da Al-Ikhbariya, informou que a rodovia conquistada em breve estaria livre para o trânsito de civis.
Enquanto isso, John Kerry e Petrov, ministros do Exterior dos EUA e Rússia, anunciaram ter chegado a um acordo de cessar fogo em Alepo, para aliviar a situação trágica em que se encontram seus habitantes, no meio de devastadoras batalhas.
Não se sabe se eles aproveitarão para sair em massa da Alepo- leste cercada, o que seria ótimo para o governo, pois, sem causar números chocantes de vítimas, poderia aumentar seus ataques terrestres e aéreos, com mais chances de forçar a rendição dos adversários.
Ou, pelo contrário, se a maioria dos civis permanecerem na cidade, contando com a chegada de suprimentos pela estrada liberada, nesse caso, as forças rebeldes seriam beneficiadas.
Ainda que por ar e por caminhos difíceis, receberiam mais armamentos e mais combatentes dos EUA, Turquia e Arábia Saudita o que prolongaria sua resistência até a chegada de reforços consideráveis de outras regiões do país.
Kerry e Petrov elaboraram um cessar-fogo justo, que sonham ser o início de um processo que levaria à paz na Síria.
Depende agora, dos chefes do governo e dos rebeldes, pensarem nas vidas dos civis sitiados em Alepo.
E concordarem.
Mesmo sob risco de acabarem dando alguma vantagem ao adversário.
Já passou da hora de salvar a Síria.
Que pelo menos se salve os sírios que ainda restam vivos.