Trump deu um ultimato: ou mudam o acordo nuclear com o Irã ou os EUA o renegam.
O prazo final é 12 de maio, quando The Donald deve aprovar ou não o fiel cumprimento das cláusulas do acordo com Teerã.
Para os demais signatários, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha, o chamado P5+1, e própria IAEA (Agência Internacional da Energia Atômica), o Irã está fazendo tudo certo.
Isso não importa para Trump, ele só manteria os EUA no acordo se forem feitas três alterações:
– proibir para sempre que o Irã possa produzir artefatos militares nucleares;
– proibição do Irã desenvolver seu programa de mísseis balísticos;
– inspeção obrigatória de bases militares e de outras instalações onde não se realizam atividades nucleares.
Tanto o Irã quanto as nações do P5+1 declararam várias vezes que não admitirão mudanças no texto aprovado.
Anunciou-se que a União Europeia poderia criar regulamentos para proteger suas firmas que fazem negócios com o Irã, no caso dos EUA se retirarem do acordo nuclear e restaurarem sanções extraterritoriais (Reuters, 8-2).
Imperturbável, Trump enviou uma missão à Europa para impor suas exigências às três principais potências europeias, seus aliados França, Alemanha e Reino Unido.
Telegrama do Departamento do Estado dos EUA (lido pelos New York Times) definia o que os EUA esperavam dos europeus: “Nós pedimos seu comprometimento no sentido de trabalharmos juntos para buscar um complemento ou continuação do acordo que envolva o desenvolvimento ou testes pelo Irã de misseis de longo alcance, garanta profundas inspeções da IAEA e resolva o problema das falhas das sunset clause , o prazo de 10 anos para o Irã poder reiniciar seu programa nuclear (Reuters)”.
Os europeus entenderam o recado… E sua coragem começou a evaporar.
Informações de agências de notícias e jornais internacionais falam que os ”três grandes” do Velho Mundo, França, Reino Unido e Alemanha, buscam uma fórmula para agradar Trump, sem voltarem atrás de sua veemente defesa da integridade do texto do acordo.
E a solução seria, sem mexer nas cláusulas já aprovadas pelo P5+1, anexar um segundo acordo, determinando o fim do programa de satélites balísticos iraniano.
Quanto às inspeções de bases militares que Trump quer, elas já estão previstas, desde que haja indícios de que estariam realizando atividades nucleares.
Não se pretende eliminar a sunset clause; no máximo aumentar seu prazo de vigência.
Esperam os europeus que a Casa Branca ofereça garantias de que, sob qualquer pretexto, pediria novas modificações. Eles simplesmente não confiam em Trump, temem que, de uma hora para a outra, The Donald alegue “razões de segurança nacional” e dê o dito por não dito.
Há indícios de que os “três grandes europeus” tendem a ceder aos EUA.
Um deles, François Macron, presidente da França, defendeu várias vezes a necessidade de se completar o acordo nuclear, negociando com Teerã o fim de suas atividades balísticas, com regras garantidas por sanções para forçar sua rígida aplicação.
Em Israel, ele afirmou “precisamos impedir que o Irã e a Síria usem mísseis no Iêmen e na Síria. E (nós precisamos) colocar os mísseis balísticos sob vigilância” (Jerusalém Post– 14-2).
Graças à Rússia não passou no Conselho de Segurança da ONU proposta dos EUA, França e Reino Unido, condenando o Irã por ter supostamente lançado um míssil dos houthis contra a Arábia Saudita. Moscou tinha razão, faltavam provas, oficiais americanos admitiram não haver jeito de verificar onde os mísseis foram fabricados e quem os lançou.
Os europeus e os EUA conformaram-se com uma resolução branda, apenas censurando o Irã por não impedir que mísseis balísticos caíssem nas mãos dos houthis.
O que é bizarro. Já que grande parte das armas do ISIS são americanas, tomadas do exército do Iraque, seria necessário também condenar os EUA por não impedirem que isso acontecesse.
Mas, quem, tem coragem de por o sino no rabo do gato?
É mais fácil para os europeus assumirem como seus os problemas que são do governo de Washington.
De fato, eles não teriam nada a perder com a produção de misseis balísticos iranianos de longo alcance.
O general Mohamad Jafari, chefe do exército iraniano, e o general Mohamad Bagheri, chefe do estado-maior conjunto das forças armadas, já afirmaram que os mísseis Khoramashar não passarão dos 2.000 km. A Europa ficará sempre fora do seu alcance.
Quem eventualmente perderia seriam os EUA pois suas bases na região e seu protegé, Israel, poderiam ser atingidos por mísseis iranianos.
Diz Teerã que não há porque incluir a questão dos mísseis no Acordo Nuclear. Além de não terem condições de levarem bombas nucleares, eles se destinam exclusivamente à defesa nacional.
Como disse Ali Shamkani, membro do Conselho Supremo de Segurança do Irã, o programa de mísseis é “uma necessidade inevitável” e faz parte da política de dissuasão do Irã.
Sabendo que estariam sujeitos a ver mísseis Khoramashar explodindo em seus territórios, os inimigos do Irã, ou seja Israel, Arábia Saudita e também os EUA, com bases na região, tenderão a pensar duas, três ou mais vezes, antes de iniciarem uma guerra contra Teerã.
Convém lembrar que ultimamente Netanyahu ameaçou várias vezes atacar objetivos iranianos. E o príncipe herdeiro da Arábia Saudita já falou que levaria a guerra ao território do Irã, em vez de permitir que seu país fosse o campo da batalha contra o inimigo.
Alguém imagina que Trump se limitaria a assistir aos combates?
A hipótese dos iranianos iniciarem um ataque com mísseis contra Israel é improvável. Os mísseis balísticos israelenses são superiores. E o de mais longo alcance, o Jericho III, atinge 11.500 km (military.today.com).
Valendo a proposta de Alemanha, França e Reino Unido, defendida por Macron, o Irã, desprovido dos seus mísseis balísticos, ficaria à mercê dos rivais no Oriente Médio.
Israel e Arábia Saudita contam com exércitos terrestres, equipados com os mais modernos e poderosos armamentos americanos e ingleses. Enquanto que os antiquados aviões iranianos não são páreo para a aviação israelense, considerada das mais eficientes do mundo.
Nessa ideia de cortar o programa balístico iraniano, aparentemente compartilhada por França, Alemanha e Reino Unido, nota-se um claro viés anti-iraniano.
O Irã é visto como uma ameaça, uma nação fora da lei, potencialmente um inimigo capaz de tudo contra a segurança e os interesses europeus.
A realidade, me parece, bem outra.
Desde 2015, quando foi assinado o acordo nuclear, grandes corporações de alguns países do Velho Mundo interessaram-se em entrar no Irã, que, para os atrair, chega a reduzir ou mesmo elimina taxas durante 13 anos.
Várias corporações já estão com grandes empreendimentos em fase de implantação.
A Total, maior empresa petrolífera da França, finalizou neste ano um projeto de 65 bilhões de euros nas áreas de petróleo e gás, em sociedade com uma firma chinesa. A AirBus pretende investir no Irã para valer, seu projeto de fábricas de aviões está à beira de ser aprovado.
Em 2017, o Grupo PSA – Peugeot e Citroen- assinou duas joint ventures com a IKCO e a SAIPA, as principais companhias automobilísticas do Irã, para produzir no país carros das marcas francesas.
O Irã é o maior comprador de automóveis Renault na África e no Oriente Médio, ficando em terceiro no mundo, somente atrás da França e do Brasil.
A Alemanha e a França, hoje as líderes da União Europeia, estimam que suas exportações para o Irã deverão se multiplicar rapidamente. A Câmara de Comércio Alemã acredita que o total das transações bilaterais dobrará durante os próximos dois anos.
Na verdade, são muitas as oportunidades para as grandes empresas europeias nesse país, riquíssimo em recursos minerais, com um mercado de 80 milhões de habitantes, carentes de produtos modernos.
Portanto, interessa à Europa, em especial à Alemanha e a França, tratarem o Irã como um parceiro, não como um inimigo.
No entanto, tudo indica que ainda aceitam o veto dos EUA, embora Trump tenha distribuídos agressões à Europa, tais como: a retirada do Acordo de Paris; os aplausos ao Brexit e as críticas à União Europeia; as ameaças de sair da NATO caso os europeus não aumentem suas contribuições e agora as taxações às importações de alumínio e aço, prelúdio de mais ações protecionistas, prejudiciais à Europa.
São motivos de sobra para que os europeus não vejam mais os EUA como o amigo de todas as horas.
Vários dos chefes de governo já se mostram claramente ressentidos. Ângela Merkel tem insistido em que a Europa precisa procurar seu próprio caminho.
Por enquanto, isso parece problemático.
Os europeus temem o imenso poderio econômico americano e sua imensa força militar, sempre pronta a agir em defesa dos interesses de Tio Sam.
Durante os anos seguintes à 2ª-Guerra Mundial, até que fazia sentido seguir a liderança yankee.
Os americanos foram os defensores do Ocidente contra a União Soviética e os partidos e guerrilhas comunistas.
Com o fim da União Soviética e do comunismo internacional, vieram novas ameaças: o terrorismo e o expansionismo da Rússia de Vladimir Putin.
Porém agora, a União Europeia tem condições de lidar com os grupos terroristas, sem os músculos de Tio Sam.
Quanto a Putin, cresce a noção que dá para viver com ele –até com proveito mútuo- usando a arma da diplomacia.
No entanto, mesmo não sendo mais os EUA o “país necessário, os europeus acostumaram-se ao seu comando.
Não será fácil dizer “não” a Trump, e manter o Acordo Nuclear com Irã, esquecendo as restrições injustas à produção de mísseis balísticos.
As consequências de uma tal decisão apavora os estadistas europeus.
Seria sua primeira e real confrontação com os EUA. E logo no governo do imprevisível e intempestivo Donald Trump. Alguém com nítidas características de bicho-papão, alçado à posição de homem mais poderoso da terra.
Lembro que fechar com a Casa Branca- mesmo apenas com o stop nas atividades balísticas de Teerã- provocará o fim do acordo nuclear.
O moderado presidente Rouhani não terá como calar as vozes truculentas da linha dura iraniana, certamente empoderadas com as bênçãos do Supremo Líder Khamenei.
O país irá reiniciar seu programa nuclear, desta vez provavelmente militar.
É o que Netanyahu e o príncipe herdeiro as Arábia Saudita esperam para atacar.
Só que não será apenas mais uma guerra nesse sempre tumultuado Oriente Médio.
Penso que os estrondos das bombas ecoarão muito além.
A pergunta é : o que os EUA fizeram no Oriente Médio durante esses anos por lá? Trouxeram paz e estabilidade para a região? Só trouxeram guerras e destruição. A Rússia está na jogada para trazer estabilidade para região. Se não fosse a Rússia, o Irã estaria sendo bombardeado nesse momento.Depois da Síria, o Irã seria o próximo alvo. Isso está bem distante de acontecer agora com a Rússia na região.