A China e a crise coreana.

Desde 1951 quando seu exército enfrentou os EUA, impedindo que tomasse a Coreia do Norte, a China vem sendo protetora desse país.

Além da ajuda que lhe presta, fornecendo alimentos e combustíveis, é sua principal parceira comercial.

Na verdade, a Coreia não pode passar sem a China pois é um o pobre demais, tendo um PIB per capita de apenas 1.800 dólares anuais.

Os coreanos não esquecem os terríveis bombardeios da aviação americana, numa média de 800 ataques anuais, destruindo virtualmente o país.

As bases americanas próximas à fronteira com a Coreia do Sul, guarnecidas por dezenas de milhares de soldados, são vistas como uma constante ameaça.

Por isso mesmo, o governo de Pyongyang priorizou sempre a defesa nacional, em prejuízo do bem estar social. Basta dizer que as despesas militares representam mais de 24% do orçamento, sendo seu exército o maior do mundo em relação à população do país.

Essa preocupação com a defesa do país, levou os coreanos a desenvolverem um programa militar nuclear. Querem uma arma capaz de desestimular qualquer país (leia-se os EUA) a atacá-lo.

Antes que fossem muito longe, os EUA e a comunidade internacional protestaram, exigindo o fim desse programa.

Aconteceu, então, uma crise de intensidade semelhante à atual.

No seu auge, a Coreia do Norte interceptou um avião de reconhecimento americano, ameaçou transformar Seul num mar de chamas e invadiu o espaço aéreo sul-coreano com um jato militar.

Foi aí que a China entrou para impedir que a situação fugisse do controle.

Promoveu uma reunião em seu território, com a presença dos EUA, Coreia do Norte e Coreia do Sul.

Um acordo de paz foi firmado, no qual a Coreia do Norte aceitou fechar sua usina nuclear, recebendo garantias de não- agressão dos EUA, mais uma grande quantidade de alimentos necessários pela quebra da safra de cereais do pais e promessa de ativação de comércio entre as partes.

Nos anos seguintes, as tensões entre as duas Coreias continuaram.

Em várias ocasiões, a Coreia do Norte foi acusada de ações agressivas encobertas, todas elas negadas.

A retórica ameaçadora foi sempre uma marca de Pyongyang.

Nas crises que se sucederam, a China sempre esteve ao seu lado, impedindo a aprovação de sanções mais pesadas pelo Conselho de Segurança da ONU.

Desta vez, quando o governo norte-coreano, no meio de uma escalada perigosa, realizou novos testes nucleares, os chineses chegaram a seu limite de tolerância.

Reagindo ao que consideraram abuso, redigiram em conjunto com os EUA a resolução da ONU que condenava e punia a Coreia do Norte.

Mas, isso não quer dizer que Beijing abandonou seu tradicional aliado.

Seu presidente deixou bem claro o objetivo de acalmar os ânimos, tendo em vista um novo acordo de paz.

Porque não lhe interessa a guerra, de modo algum.

Os chineses sabem que, num caso assim, multidões de refugiados norte-coreanos atravessarão a fronteira, invadindo seu país e causando um  desastre humanitário.

Além disso, havendo guerra, os EUA certamente venceriam.

Com a inevitável unificação da Coreia, os americanos estabeleceriam novas bases próximas à fronteira com a China.

E ela ficaria, ainda, cercada por países da órbita de Washington.

Tudo isso seria bastante inconveniente.

Sem contar que, com a queda da Coreia do Norte, os chineses perderiam seu único aliado na região.

Por isso mesmo, conforme informou Patrick Cronin, especialista em Ásia, Beijing já estaria empenhada em trazer Pyongyang para a mesa de negociações.

Com as bênçãos de Barack Obama.

Cronin adverte também que, embora EUA e China tenham interesse no fim da crise, nos detalhes da negociação, cada um deverá puxar para seu lado.

A China vai, provavelmente, insistir com que se faça um verdadeiro tratado de paz, terminando o estado de guerra entre as duas Coreias.

Até agora essa tese jamais foi aceita pela Casa Branca, que deseja a Coreia do Norte briguenta e ameaçadora, para justificar a existência de bases militares americanas na região.

Não sei no que vai dar.

Seja qual for o resultado, com a imposição de uma paz, ainda que precária, a China sairá ganhando.

Ela provará ao mundo sua capacidade de resolver graves situações de conflito iminente, onde os americanos, “masters of the world”, falharam.

Sua posição no contencioso de ilhas no Pacifico Sul e Leste, contra os interesses do Japão, Vietnam e Filipinas, ficará bastante reforçada.

Por enquanto, esta parece ser a perspectiva mais viável.

 

 

 

2 pensou em “A China e a crise coreana.

  1. Tenho acompanhado o seu relato sobre a Coreia do Norte. A tv.Cultura no seu jornal das 21hs. tb. está comentando. Com isso posso aprender um pouco sobre o que está acontecendo.
    Quem está por dentro é a Sofia que fez um trabalho entre a ONU e a Coreia do Norte. No seu blog ela comenta que o ditador não deixa ninguem sair de lá mas o seu sobrinho é colega dela em Mostar.

  2. Caro Luiz Eça

    Sugiro ao Amigo que, quando escrever “comunidade internacional”, coloque essa expressão entre aspas.

    A razão vem de sabermos que a tal “comunidade internacional” não passa de um infame bando de salteadores e assassinos da quadrilha formada por membros das oligarquias ocidentais.

    Um grupo tão perigoso e malévolo como esse não merece a pomposa referência de “comunidade internacional”. Nome mais adequado talvez seja o de “Gringolândia”.

    Quanto à situação na península Coreana, grosso modo e prima facie, cifra-se no seguinte: a Coreia do Norte é lacaia dos Estados Unidos e refém de Pionguiangue.

    No mais, devo lhe dizer que me contenta saber que recebo em meu computador os seus artigos. A leitura deles é motivo de satisfação para mim. Além, claro, de remédio para a minha ignorância da política internacional.

    Tenho boas intuições, é certo, sobre as relações mundiais, mas de sua parte, caro Luiz Eça, eu espero o saber que você comparte com os seus leitores.

    obrigado.

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