A ofensiva israelense vitima até os mortos

Era 14 de fevereiro de 1945, há poucos meses do fim da 2ª Grande Guerra.

 Uma grande esquadra de aviões americanos e ingleses bombardeou a cidade alemã de Dresden, matando entre 35 mil a 135 mil pessoas, a maioria velhos, mulheres e crianças, transformando a cidade num colossal incêndio.

Essa enorme diferença entre os números deveu-se ao estado dos restos humanos serem quase indistinguíveis, para permitir uma contagem exata dos corpos.

Essa enorme diferença entre os números deveu-se ao estado dos restos humanos serem quase indistinguíveis, para permitir uma contagem exata dos corpos.

Em 1949, os representantes de todos os países civilizados, reunidos nas Convenções de Genebra, formularam as leis do Direito Humanitário Internacional, posteriormente incrementado por tratados e acordos entre nações.

O Bombardeamento de Dresden foi condenado como violação das leis de guerra por ter matado massas de civis inocentes, supondo talvez que entre eles haveria pelo menos um bom número de inimigos.

Em 1996, o uso de bombas de fósforo também recebeu a mesma classificação por ser uma munição particularmente horrível e cruel: ao explodirem, em contacto com o ar, lançam chamas, gerando novos incêndios e queimando vivas as pessoas próximas.

Para tentar justificar sua bárbara ação, os experts dos governos aliados alegaram vários motivos, especialmente de ordem estratégica. Extremamente controversas.

Israel está repetindo a ação dos aliados em Dresden, nos últimos meses da Guerra Mundial.

 Em Gaza, ondas de bombardeiros israelenses lançam mísseis indiscriminadamente contra moradias (metade das antes existentes foi destruída em um mês), escolas, edifícios, campos de refugiados, mesquitas, veículos, grupos, em toda parte, pois em toda parte fatalmente existiriam membros do Hamas que os sionistas desejam exterminar.

Há acusações de que Telaviv, em certos casos, também usou bombas de fósforo, como a aviação aliada fez em Dresden.

Os resultados desta estratégia, que visa sacrificar até centenas de milhares de civis inocentes buscando liquidar um número muito menor de terroristas, são dramáticos

Até hoje (14 de novembro) já morreram mais de 11 mil e 500 palestinos. Mas tanto a Organização Mundial de Saúde quanto os analistas americanos falam em muito mais. Uma autoridade israelense informou ao Yedoth Aron que teriam sido 20 mil.

As crianças parecem ter sido mais alvejadas. Enquanto, antes da guerra, eram 47% da população de Gaza, estão morrendo agora 67% do total das baixas, somando quase 4.500, que mesmo os astros do governo sionista não podem taxar como terroristas.

 Proporcionalmente, perderam a vida muito mais crianças do que adultos, por obra e graça do governo Netanyahu, esse Herodes redivivo.

Quantos palestinos massacrados eram terroristas do Hamas não dá para saber. Netanyahu só ficará satisfeito quando seus ataques fizerem o grupo se desintegrar por falta de militantes suficientes.

É claro que para atingir esse alvo é necessário matar um número muitas vezes maior de civis, pois não há como o comando israelense separar quais deles eram terroristas.

Foi o que aconteceu no século 14, na França.

Durante a Cruzada Cátara, na tomada de Beziers, as tropas fiéis ao Vaticano encontraram dificuldades em distinguir os católicos locais dos hereges cátaros. O monge Arnaud-Amaury, representante do Vaticano não teve dúvidas: “Matem todos, o Senhor sabe quais são os Seus”.

Em Israel, o establishment sionista não se preocupa em distinguir os terroristas dos civis, já que, para Netanyahu e seus comparsas ideológicos, todos os palestinos são criminosos ou, pelo menos, cúmplices.

Em entrevista a repórteres, o presidente de Israel, Isaac Herzog, foi definitivo: “Não há inocentes na Palestina. Toda a nação é responsável pelos ataques do Hamas.”

“Estamos impondo um cerco total à Gaza. Nem eletricidade, nem comida, nem água, nem gás, nem tudo, 

informou o ministro da Defesa Gallant, em um vídeo. E deu sua explicação: “Estamos lutando contra animais humanos e os tratamos como tal.”

Zormer, embaixador de Israel na ONU, clamou que os palestinos são animais desumanos e horríveis.”

E o capo di tutti capi, o Herodes Netanyahu foi muito claro quando anunciou aos palestinos: “Vamos transformar Gaza numa ilha deserta.”

É claro que, pintando os palestinos com tais tintas, ninguém deveria se surpreender quando Israel- enquanto dizimava campos de refugiados, escolas, mesquitas, ruas e quarteirões residenciais, empreendia a destruição do sistema de saúde palestino.

Hoje (14 de dezembro), ela já está bem adiantada.

O escritório da ONU para Coordenação dos Assuntos Humanitários anunciou que 23 dos 35 hospitais de Gaza estão fora de serviço e 46 entre as 72 clínicas de saúde já não tem meios para continuar trabalhando.

Hospitais e clinicas são cercados por tanques de guerras e snipers e sobrevoados por aviões e drones – atentos para alvejar pessoas ou veículos que tentem sair ou mesmo se movimentem dentro das áreas externas dos edifícios dos complexos hospitalares.

Ataques foram lançados contra departamentos médicos de vários hospitais.

Sem meios de recorrer ao exterior, os hospitais estão ficando sem combustível para seus geradores produzirem eletricidade necessária aos equipamentos médicos. Assim, tornam impossível um sem-número de exames, tratamentos e operações essenciais.

No Hospital Shifta, o principal de Gaza, desenrolam-se dramas  tão horríveis que fogem à nossa imaginação.

Ele está cercado por forças de Israel que atiram para matar em quem tentar entrar ou sair.

Não há mais energia para os refrigeradores armazenarem corpos de pacientes mortos.

Para evitar que apodreçam no interior do hospital os médicos são obrigados a colocá-los no lado de fora.

Em 12 de novembro havia 100 corpos nessas condições, sendo mordidos e comidos por cães ou outros animais, às vezes diante de uma filha ou irmão do morto.

Ninguém pode tentar afastar os animais pois, saindo para o exterior, arrisca-se a ser alvejado pelos eficientes snipers israelenses.

Depois do regime sionista ordenar o bloqueio completo de Gaza, todos os hospitais, incluindo o Shita, tiveram de fechar todas as unidades de cuidados intensivos. Como elas, as incubadoras e outros equipamentos só funcionam com um contínuo fluxo de eletricidade, grchadoado pelo bloqueio israelense.

Para evitar a morte fatal dos muitos bebês prematuros, os médicos os retiram das agora inúteis incubadoras, colocando-os em camas e quartos normais, enrolados em lençóis de lã.

Foi uma tentativa desesperada, que lhes daria, ao menos, alguns dias a mais de vida.

“Infelizmente, isso significa, que nós estamos esperando que elas morram uma a uma,” lamentou-se um dos médicos do Shifta.

Israel exige a evacuação total do hospital.

Alegam, que lá havia um comando do Hamas, embora nunca tenha conseguido provar.

Pelo contrário: todos os médicos ouvidos, inclusive um norueguês que ali trabalha há 18 anos, negam que tenham alguma vez visto armas ou elementos estranhos em qualquer sala do hospital, inclusive no subterrâneo.

Os responsáveis pelo Shifta dizem não ser possível tirar todos os pacientes do hospital, pois muitos deles estão em graves condições de saúde e morreriam no transporte.

Israel insiste, ameaçando com um ataque geral hoje pois “Israel tem o direito de se defender” …

Diz que já definiu um corredor livre de ataques que poderia ser seguido em segurança pelos que optassem por ir embora.

No entanto, há muitos exemplos, até no Shifta, de pessoas que na saída foram de fato liberados pelos tanques em redor do edifício, para mais adiante serem alvejados pelos snipers, ansiosos para gravar mais marcas nos seus revolveres…

Sob a responsabilidade de 168 países, inclusive Israel, a Convenção de Genebra, em 1948, determinou que “em nenhum caso as zonas hospitalares podem ser alvo de ataques. Elas serão protegidas e respeitadas em todos os momentos pelas partes em conflito.”

E daí?

Neranyahu não dá a menor importância às leis internacionais de guerra e de direitos humanos. Sabe que, com a proteção dos EUA, essas leis não se aplicam quando o transgressor é Israel.

Algumas pessoas, digamos, um tanto ingênuas, ficam chocados quando o autoproclamado líder mundial da defesa dos direitos humanos compromete os EUA a apoiar Israel, em qualquer circunstância, para o bem e para o mal.

Cedo verificou-se que sua autoproclamação não passava de mera retórica: na ordem prática, o presidente Biden está sempre com Israel e não abre…

Quase todos os países europeus e americanos mais a Austrália e a Nova Zelandia, o Japão e mais alguns menos votados, seguiram Biden na condenação dos atentados do Hamas.

Mas com os primeiros massacres praticados pelos exércitos israelenses e as devastações nos campos de refugiados a humanidade começou a abrir os olhos.

Em todos os continentes, multidões, lideradas pelos jovens, se reuniram, pedindo um cessar-fogo para acabar com a carnificina. A maior parte dos líderes ocidentais, antes cerrados em torno de Netanyahu, começaram a condenar o morticínio dos palestinos e exigir que se suavizasse seu sofrimento.

Netanyahu não ligou. Seu fiel Biden também não. Os dois confiavam na dificuldade dos ocidentais em dizer “não” aos EUA e, por extensão a seu alter ego, Israel.

Na ONU uma edulcorada recomendação, que atacava os terroristas palestinos, mas não os ataques de Telaviv, pedia s uma ação humanitária que levasse água, comida e mantimentos aos moradores de Gaza foi aprovada por 15 dos 18 membros do Conselho de Segurança.

 Acabou caiu porque Biden vetou, aproveitando os privilégios americanos na ONU. 

Isso só animou a beligerância dos partidários do cessar fogo

E, a justa indignação da humanidade aos atentados do Hamas, em 9 de outubro, mudou de rumo: passou a focar as barbaridades sionistas na guerra.

Manifestações cresceram nos EUA, Reino Unido e outros países, exigindo um cessar-fogo, para acabar com o calvário dos civis palestinos. Em Londres, tivemos um mega protesto, reunindo 300 mil pessoas.

Por sua vez, estadistas, que vestiam a camiseta de Israel por conta dos atos vis dos terroristas trocaram pela camiseta do cessar-fogo.

Macron foi dos primeiros, logo seguido até por alguns dos países semper fidelis aos EUA, os primeiros-ministros da Austrália, Japão e Canadá.

O próprio Biden, pressionado pelos setores progressistas do Partido Democrático e por alguns dos seus parceiros europeus, passou a alargar sua proposta de um limitado corredor humanístico, chegando a solicitar uma pausa tão ampla que ficou perto da proposta de cessar-fogo.

Pressionado, Netanyahu não quis saber de nada.

Como iria melhorar a vida dos palestinos, já que ele os queria exterminados ou pelo menos que se retirassem em massa para fora do seu país?

Cessar fogo, nem pensar. Fora as ideias antissemitas!

Ele, que já estava acostumado a ver nos EUAS de Biden um fiel defensor de posições israelenses, teve de dar um passo atrás: propôs um corredor humanístico de 4 horas durante as quais os caminhões com alimentos, água e medicamentos poderiam entrar em Gaza para a alegria dos cidadãos civis, muitos que já estavam nas últimas.

Claro, é insuficiente.

Só tem chegado um máximo de 80 caminhões, quando 500 chegavam diariamente antes da guerra. 

Insuficiente também será um cessar fogo de alguns dias ou semanas.

Uma vez terminado, Netanyahu e seus ardentes áulicos vã ordenar novos ataques

E tudo começa outra vez.

Acho que o cessar fogo deveria ter um longo prazo, para que a partes envolvidas na crise da região dessem início a um diálogo, visando a independência Palestina e a segurança de Israel.

Evidentemente, o mediador não poderia ser os EUA, pois Biden já demonstrou com provas mais do que completas que se trata de um partidário de Israel, não tendo já apresentado um mínimo de imparcialidade.

Dirão que, como representantes das famílias e amigos das vítimas do ódio da outra parte, não teriam como entrar em acordo.

Parafraseando Jesus Cristo, penso que deveríamos deixar os mortos sepultarem os mortos, para pensarmos mais na paz entre os vivos.

É possível, acredite se quiser.

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