Quando a Finlândia e a Suécia pareciam ter passagem livre para
entrarem na NATO, Erdogan, o presidente da Turquia, acendeu o sinal
vermelho. De acordo com os estatutos da organização seria
necessário o apoio de todos os países-membros para que os dois
países escandinavos fossem aceitos (The Telegraph, 18/5/2022).
Justificando sua postura, Erdogan disse que a Finlândia e a Suécia
asilam opositores, os curdos do PKK, por ele considerados terroristas.
Aparentemente, os suecos e finlandeses não estão dispostos a
remover o obstáculo erguido pelo presidente turco.
Mas a última palavra pode ainda não ter sido dada. Sendo Erdogan
um político extremamente pragmático, acredito que seu veto visa
apenas obter alguma concessão da NATO ou mesmo da União
Europeia, que, aliás, tem negado o acesso da Turquia à organização,
argumentando que não se trata de uma nação realmente democrática
– requisito indispensável para pertencer à comunidade dos países do
Velho Mundo.
Tomara que o autocrata de Ancara fique firme. A entrada desses
países na OTAN viria tornar ainda mais difícil um acordo de paz na
guerra da Ucrânia. Para a Rússia seria inaceitável ter mais países da
hostil OTAN colados à seu território.
Seriam mais 1.300 km de novas fronteiras que, somados aos 2.295 km
da fronteira ucraniana, somaria 3.595 km, cercando totalmente a
Rússia pelo Oeste.
Para Putin, a segurança do seu país ficaria seriamente
ameaçada, pois a OTAN poderia instalar em pontos estratégicos dessa
vasta linha fronteiriça área canhões e lançadores de mísseis que ,num
conflito eventual, atingiriam Moscou e outros grandes centros em
questão de minutos, deixando estas cidades em ruínas.
Como foi exatamente para impedir esta visão asssutadora que
Putin invadiu a Ucrânia, concluo que o ingresso das duas
potências na OTAN teria tudo para causar um ruído ensurdecedor.
.
Inclusive porque aumentaria o poder da OTAN e seu apetite por se
expandir, talvez atraindo também a Moldova e a Georgia, conquistas
sugeridas pela mídia internacional, que diminuiriam ainda mais a
internacional da Rússia.
Trata-se de algo que alimenta os sonhos dourados de Biden.
Diante do crescente desgaste de Moscou, graças às perdas na guerra
e aos efeitos das sanções, o objetivo americano de enfraquecer
a Rússia para obrigar Putin a pedir água acabaria logrando sucesso.
Acredito que, para os EUA e sua filial, o Reino Unido, o objetivo
principal na guerra da Ucrânia é mesmo destruir a Rússia de Putin.
O que não acho nada legal.
O governo do autocrata das estepes não é somente desumano, brutal
e violador das leis internacionais. Há aspectos positivos : desde que
Putin começou a dar as cartas em Moscou, a Rússia tem contestado a
liderança mundial perseguida pelos EUA.
Acredito que o mundo será melhor se existirem diversas lideranças,
competindo entre si para agradar os países que preferem
viver fora de qualquer rebanho.
Seguindo essa política, a Rússia de Putin tem desafiado o império
americano ao garantir com armas e/ou vantagens econômicas
países que resistem ao diktat de Washington. O Irã, a Síria e a
Venezuela são exemplos atuais. Você pode criticar algum
ou todos esses regimes, mas não seu direito de serem independentes.
Acabar com a protagonismo internacional dessa Rússia de Putin, um
obstáculo no seu projeto hegemônico, leva os EUA a jogarem
contra negociações de paz que poderiam livrar a Ucrânia e a Rússia de
uma guerra desastrosa para os dois países. Até Putin já sacou que fez
uma legítima barbeiragem e não vê a hora de sair de cena.
Evidentemente, as partes – Ucrânia, OTAN, EUA e Rússia- precisam
renunciar a algumas das suas exigências de paz já conhecidas. Sem
isso, as negociações jamais dariam certo.
Por enquanto, Putin parece inflexível e os EUA, secundados pelos fiéis
Reino Unido e a Ucrânia de Zelensky, preferem manter acesa a
chama da luta do Bem contra o Mal.
Mencionando raramente possíveis negociações, Tio Sam e seus
acólitos entoam louvores aos valorosos combatentes ucranianos;
apregoam denúncias de barbaridades dos malignos soldados russos
contra as mulheres, crianças e ucranianos de um modo geral;
boicotam a participação dos russos em inúmeras entidades e
atividades na área internacional e celebram a coragem desse novo
herói do nosso tempo, o ínclito Zelensky, mesclando todas estas
ações com apelos à destruição do diabólico Putin e sua Rússia.
Está aqui Biden que não me deixa mentir: Em Varsóvia, em 26 de
março último, ele declarou em alto e bom som : “Pelo amor de
Deus, esse homem (Putin) não pode permanecer no poder
(Washington Post, 7/4/2022).”
Ecoando o chefe, Julianne Smith, embaixadora dos EUA na
ONU, foi candente: “Queremos ver a Rússia derrotada.”
Como zeloso seguidor de Biden, o premier Boris Johnson,
do Reino Unido, num encontro com Macron, premier da França,
alardeou que havia incitado Zelesnky a não negociar com a Rússia e
dito que, mesmo que Kiev assinasse um acordo de paz com a
Rússia, o Ocidente não assinaria ((Ukraine Pravda, 6/5/2022).
Recentemente, o general Austin, secretário da Defesa dos EUA,
soltou a notícia de que o novo objetivo do governo Biden na
guerra da Ucrânia era enfraquecer a Rússia (The Ron Paul Institute
for Peace and Prosperity, 23/5/2022).
E na Ucrânia, Michel Podolak, um dos principais assessores do
presidente Levensky e membro da comissão de negociação da paz,
revelou as reais intenções do seu governo: “As forças (invasoras) precisam
sair do país e depois disso a retomada do processo de paz será possível.”
Sendo realista, a retirada não seria aceita pelos russos como pré-condição
do acordo de paz, mas sim como parte da sua conclusão, vemos que a
solução supostamente pacífica desse cidadão é absolutamente impossível.
Mais adiante, Podolak revelou sua verdadeira posição: ”Êles (os russos)
precisam ser derrotados, serem submetidos a uma derrota dolorosa, tão
dolorosa quanto possível (US News, 21/5/2022).¨ Bem, nesse caso, não
haveria propriamente uma “negociação,” mas decisões ditadas pelos
vitoriosos à derrotada e terrivelmente dolorida Rússia…
Os 40 bilhões de dólares de ajuda americana às forças de Kiev, mais 20
bi em armamentos já enviados, somam um total de 60 bilhões de dólares
que não visualizam uma paz a curto prazo. É muito dinheiro, suficiente
para completar as necessidades militares do governo ucraniano durante
muito tempo. Anos, conforme alto funcionário do departamento de
Estado, informa a congressista democrata Cory Bush.
Estaríamos, portanto diante de uma guerra de longa duração, o que o
governo Biden incentiva, armando os ucranianos com bilhões em armas.
Quanto mais ela demore, mais se fortalece a hegemonia dos EUA no
Ocidente, como líder da democracia contra um dos seus maiores inimigos.
Mas o boicote de Moscou, começa a sofrer fraturas.
Enquanto os países bálticos e a Polônia, por temeram que o urso das
estepes ameace a sua soberania, apoiam a guerra, os principais países da
União Europeia- França, Alemanha e Itália – defendem as negociações
Macron, o presidente francês, vitaminado por sua recente reeleição,
reafirmou sua posição diante o parlamento europeu: “Nós não estamos
em guerra com a Rússia…nosso dever (da União Europeia) é ficar ao lado
da Ucrânia para conseguir um cessar-fogo. E então construir a paz. O fim,
das discussões e a negociação serão através da Ucrânia e da Rússia. Mas
não será feito pela negação, nem exclusão de qualquer um deles”.
Por sua vez, Scholz, o premier socialista da Alemanha, depois de prometer
armamentos para as forças ucranianas, teve uma conversa com Putin
pelo telefone no dia 13 de maio, e depois, publicou um twiter dizendo;
“É preciso haver uma cessar-fogo na Ucrânia tão rápido, quanto possível.”
A Itália, que sempre formara nas hostes de Biden, também mudou
de opinião. Há duas semanas, Draghi, seu primeiro-ministro, surpreendeu
ao declarar que “…precisamos pensar na possibilidade de se conseguir
um cessar-fogo e começar novamente negociações realistas.
Tanto Scholz quanto Orban, da Hungria, não aceitam os prazos curtos
determinados pela OTAN, para cortarem suas importações de gás e de
petróleo russos ,respectivamente. Isso prejudicaria duramente a
economia dos dois países.
Na contramão desses protestos, Biden planeja aplicar pesadas sanções
contra quem se negar a boicotar o petróleo russo. alcançando, uma série
de países. Além da Hungria, também a Índia, a Turquia e a China , entre
outros. Essa ideia do governo Biden objetiva reduzir os lucros das vendas
do petróleo da Rússia para , a longo prazo, destruir seu papel central na
energia global.
No caso dos indianos e turcos, a liderança de Biden promove seus
interesses anti-russos, sacrificando os interesses desses países aliados,
conforme oficiais americanos (The New York Times,19/5/2022).
Sancionar a China, provavelmente, geraria mais um conflito com Pequim,
trazendo graves repercussões econômicas já que os EUA compram
anualmente cerca de 582 bilhões de dólares em produtos chineses
, o que faz do antigo império do Meio o maior exportador para a América.
Não vou afirmar que as negociações produziriam certamente a paz,
somente que representam, pelo menos, uma esperança.
Bem mais do que os devastadores resultados do projeto de prolongar a
guerra, até transformar o tigre russo num frágil gatinho.
gostei muito desse “pingo nos iiiis”
E EU GOSTEI MUITO DA SUA OBSERVAÇÃO.