A campanha da Coreia do Norte para degelar suas relações ásperas com a Coreia do Sul e os EUA vai avançando. Apesar do Japão ser contra.
Em recente reunião com 20 países preocupados com o conflito, Toro Kono, ministro do Exterior, afirmou que o mundo não deveria ser ingênuo, acreditando na “ofensiva de charme” da Coreia do Norte, que se engajaria em conversações com a Coreia do Sul, usando os Jogos de Inverno como pretexto. Tudo isso para dividir os membros da aliança liderada pelos EUA.
Moon, o presidente sul-coreano não ficou nem um pouco impressionado.
Segundo a agência de notícias sul-coreana, Yonhap, em recente reunião, Moon e Chol, ministro das Forças Armadas da Coreia do Norte, concordaram que Piongiang deveria melhorar suas relações com Washington e Seul o mais breve possível. E Moon ainda destacou o diálogo EUA/Coreia do Norte como necessário para resolver os assuntos fundamentais à paz na península da Coreia.
Por sua vez, o porta-voz do governo sul-coreano declarou que Chol afirmara estar a Coreia do Norte desejosa de entrar em negociações com os EUA (informação da Associated Press).
Para não deixar a peteca cair, Moon decidiu fazer uma visita ao país do norte, comunicando sua intenção a Donald Trump.
O presidente americano deu seu OKAY. Sim, ele também desejava encontrar uma solução pacífica para o conflito, que se descortinava como possível. Para alguns, até provável.
Foi aí que The Donald jogou um balde d´água nessas esperanças de paz: embora a Coreia do Norte esteja disposta a negociar, ele deixou claro que só aceitaria conversações com Piongiang se fosse previamente garantido o total desamamento nuclear da Coreia do Norte.
Estranho, a conclusão de uma reunião acontecendo antes do seu principal tema começar a ser discutido… Seria um jogo de cartas marcadas, no qual a Coreia do Norte perderia seu maior trunfo – as armas nucleares- sem ganhar em troca o que queria -garantia contra futuros ataques yankees.
Trump sabe que suas condições significam um veto a conversações de paz com os norte-coreanos. Isso porque na verdade, não se trataria de uma reunião, mas de uma capitulação. Kim Jong un jamais toparia.
O presidente americano acha que, com o tempo, as sanções vão obrigar o ditador a cair na real. E a sentar-se à mesa das negociações com Trump, renunciando previamente a seu programa nuclear militar.
Sua ideia não é de todo infundada.
A Coreia produz apenas 30% dos alimentos que consome. Precisa contar com a importação dos 70% que faltam.
Sendo agriculturável apenas 22% do seu território, a produção de alimentos depende da grande mecanização de suas lavouras.
Cortando as importações de víveres e do combustível necessário para a agricultura norte-coreana funcionar, as sanções da ONU reduzem cada vez mais a comida disponível para o povo.
70% da população vinha recebendo seus alimentos de instituições internacionais, particularmente da UNICEF. Suprimento que vem rareando pelas dificuldades crescentes das instituições externas em fornecerem alimentos ao povo, por obra e graça das sanções.
Impostas unilateralmente pelos, novas sanções estão fechando o cerco, punindo países e companhias de navegação que trazem petróleo clandestinamente para, fugir aos controles das sanções.
Mesmo antes delas, o povo coreano já estava sendo punido por uma fome generalizada.
Veja um dos resultados dessa enorme falta de comida: a UNICEF calcula que 60,000 crianças norte-coreanas poderão morrer de fome neste ano, caso a pressão internacional continue obrigando as organizações humanitárias a reduzirem sua ajuda ao país (Businners Insiders, 30 de janeiro).
Trump aposta na fome.
De fato, as sanções tendem a tornar intolerável a vida na Coreia de Norte, O que obrigaria seu ditador a erguer a bandeira branca, liquidando seu programa nuclear. Possivelmente, a troco de algumas promessas e migalhas dos EUA e aliados.
The Donald já se imagina, desfilando triunfante na Quinta Avenida, em carro aberto, saudado por milhões de americanos eufóricos, que muito provavelmente o reelegeriam.
O problema é que o feitiço pode virar contra o feiticeiro.
Kim Dong un, sentindo-se pressionado por multidões sem ter o que comer, talvez opte por morrer heroicamente, numa guerra nuclear, que arrasaria seu país, mas transformaria o sonho americano em cruel e doloroso pesadelo.