Em 8 de agosto, em mais um dos seus bizarros tuítes, Donald Trump afirmou que sua primeira ordem na presidência fôra “renovar e modernizar o arsenal nuclear, agora mais forte do nunca”.
Quem tivesse lido o site Defense One de 3 de agosto, saberia que não se tratava apenas de mais uma mera fanfarronada do presidente. A “modernização” anunciada por Trump significa algo realmente grave: os EUA pensam em produzir bombas nucleares de baixa potência, ou seja, de potência inferior à de Hiroshima, com o objetivo cde serem usadas contra “alvos limitados”. Exemplos: um quartel, um bairro ou uma aldeia cheia de soldados, conforme a potência da bomba.
Acha-se em estudos o projeto de se equipar os novos mísseis intercontinentaiss com ogivas, levando bombas nucleares de baixa potência.
“O futuro está nas bombas de baixa potência…Este é um caminho para onde estamos caminhando rapidamente”, afirmou o general Paul Selva, vice-chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas.
De fato, em dezembro último, o Conselho de Ciencia de Defesa instou a força aérea a incorporar mísseis balísticos nucleares de potência baixa ou variável nos futuros projetos de mÍsseis balísticos intercontinentais.
Na sua posição de vice-chefe do Estado Maior Conjunto ds Forças Armadas, o general Selva representa a opinião de amplos setores das Forças Armadas. Conforme o Defense One, ele declarou: ”Os EUA precisam ser capazes de lançar um ataque nuclear contra um adversária sem acabar com o mundo ou causar massiças perdas humanas indiscriminadas. ”
Daí as bombas nucleares de baixa potência, que podem ser reguladas de acordo com o tamanho do alvo.
Por enquanto, o general notou que ainda não existe uma decisão final sobre o assunto.
Alguns congressistas já se pronucniaram, sustentando que a proliferação dessas armas traria menos segurança ao mundo, nunca mais segurança.
A senadora Dianne Fenstein, democrata, foi enfática na sua condenação: “Não tenho dúvidas de que a proposta de pesquisar bombas nucleares de baixa potência é o primeiro passo para, na verdade, construí-las. ”
Ela garantiu que vai fazer todo possível para combater a concretização dessa ideia.
Fenstein mostrou-se absolutamente cética quanto às vantagens das chamadas “bombas táticas”, de um modo geral. “Não existe isso que chamam de guerra nuclear limitada ”garante a senadora, ” e o fato do Conselho de Assessores do Pentágono sequer sugerir essa coisa é profundamente preocupante. ”
Na verdade, as coisas andaram mais do que se pensa.
Diz Hans Kristensen, diretor do Projeto de Informação Nuclear da Federação dos Cientistas Americanos, que os EUA possuem bombas nucleares convencionais que poderiam ser modificadas para virarem bombas nucleares de baixa potência. Segundo ele, talvez já as estejam mesmo produzindo.
Ainda em fase de discussão, o projeto dos mísseis Standoff de Longo Alcance (LRSO) prevê ogivas modificadas de baixa potência.
“Fala-se que eles (os militares) querem modificar essas ogivas para qualificar melhor a escolha entre opções de baixa potência, ”afirma Kristensen. ”Os líderes militares tem se referido aos mísseis LRSO como muito “táticos” e “(eficientes) nas táticas de combate. ”
Sabe-se que a Rússia já testou uma bomba de baixa potência.
Não há notícia que estejam engajados num projeto ambicioso de produção dessa arma ou em seu emprêgo em mísseis com ogivas modificadas.
Caso os EUA comecem a entra forte nessa área, é certo que os russos os imitarão. Provavelmente, também os chineses.
Se o Paquistão embarcar nessa, os indianos, seus adversários históricos, não ficarão só protestando.
E quanto a Israel, ora sob o domínio da extrema-direita, alguém duvida que se absterá de fabricar essa arma?
Teremos, assim, uma autêntica corrida nuclear, talvez pior do que aquela que tanto assustou o mundo durante a primeira guerra fria.
Na ocasião, havia uma firme posição mudial contra as bombas nucleares, vistas como capazes de destruir o mundo.
Caso prevaleça a idéia de que as bombas de baixa potência representam um perigo mínimo – não maior do que as bombas comuns- existem nove potências nucleares que podem e não verão problema em passar a te-las. Basta modificarem armas nucleares do seu estoque, reduzindo suas potências.
Imagine que dois dos países nucleares entrem em guerra.
Se um deles lançar uma dessas bombas de baixa potência no outro, ainda que num alvo limitado, as repercussões das consequências, em perdas humanas e materiais, podem enfurecer os líderes do país atacado.
Com apoio do povo indignado, provavelmente decidirão retaliar na mesma moeda.
Por que não usar uma bomba de potência maior, ainda que baixa?
Assim, num círculo vicioso, os dois países vão retaliando enquanto as potências das suas bombas crescem sempre até se chegar longe demais…
Claro, esse cenário de horror não iria necessariamente pintar.
Mas as chances de acontecer são ponderáveis.
Não dá para confiar na sanidade psíquica de todos os líderes das nações nucleares.
Mesmo que as bombas de baixa potência sejam usadas de “forma tática”, contra alvos perfeitamente circunscritos, como militares americanos sonham ser possível, ainda assim elas representam danos inaceitáveis.
Certo que sua capacidade de matar não é superior às das armas comuns.
No entanto, as pessoas que sobrevivem, por estarem fora da área atingida no momento do impacto, não escapam dos seus efeitos perversos.
Podem não morrer na hora, mas, no decorrer dos dias, meses e até dos anos, vão sofrer doenças das mais terríveis, uma vez que o veneno da bomba se espalha pelo ar por distâncias indefinidas.
Todo mundo sabe o que aconteceu com muitos dos sobreviventes de Hiroshima e de Nagasaki.
Bem a propósito, 123 nações acabam de assinar um tratado- promovido pela ONU e endossado pelo papa- que bane para sempre a produção, compra, estocagem, testes e usos de armas nucleares, de qualquer potência.
Trata-se de um passo importante. A partir dele, esperava-se que as nações do mundo estabelessemm condições e prazos para que, gradativamente se fosse chegando ao objetivo final de “um mundo sem armas nucleares. ”
Infelizmente, não será possível.
Apesar de 123 nações terem aderido ao tratado, todas as potências nucleares se recusaram.
Alguns outros países as imitaram: a Noruega, e países fiéis à liderança dos EUA , como a Coreia do Sul, a Australia, o Canadá e, chocantemente… o Japão, o único país que foi vítima de armas nucleares. Que mais motivos teria para aprovar o banimento das amas nucleares.
No caso da Noruega, o parlamento recomendou que o país aderisse ao tratado, mas o governo dos partidos Conservador e Progresso insistiu em ficar de fora.
No caso do Japão, sua submissão aos EUA mostrou ser maior do que o respeito pelas centenas de milhares dos seus mortos nas duas cidades- alvo dos bombardeios nucleares.
Foi curiosa a posição dos EUA, exposta pela mbaixadora na ONU, a estrepitosa Nikki Haley.
A digna representante de Trump, saiu com uma sacada presumivelmente esperta: “Temos de ser realistas, alguém aí pensa que a Coreia do Norte baniria armas nucleares? ”
Então, tá.