Durante a campanha eleitoral, Donald Trump afirmava que o acordo nuclear com o Irã era o pior tratado da história.
Uma vez eleito, jurou várias vezes que iria renegociá-lo. Nunca disse como, mas dá para prever que Teerã sairia bastante prejudicado. O que os iranianos jamais aceitariam.
Ninguém duvida que, cancelado o acordo, os iranianos voltariam a desenvolver seu programa nuclear. E, em sequência, as nuvens de guerra pintariam no horizonte.
Em abril, Rex Tillerson, secretário de Estado, foi mais assertivo: “A administração Trump não tem a intenção de passar o pacote do Irã à futura administração”, declarou a jornalistas (Em.com.br, 19 de abril).
A esfuziante Nikki Haley, representante dos EUA na ONU, também deu seu pitaco. Ela garantiu quer o Irã vinha “repetidamente” violando o acordo nuclear com seu apoio à Síria na guerra contra o ISIS.
Estranho porque essa questão, não faz parte do acordo.
Parafraseando frase de Romário sobre Pelé, eu diria que Nikki é uma grande oradora quando permanece calada.
Os demais países que, ao lado do Irã, assinaram o acordo nuclear- Alemanha, França, Reino Unido, China E Rússia- discordam totalmente do presidente americano.
Já, em novembro de 2016, com Trump eleito, os ministros do Exterior da União Europeia, soltaram um comunicado garantindo que os compromissos teriam de ser mantidos.
No mês passado, Sigmar Gabriel, ministro do Exterior alemão falou firme: “Em nome da República Federal da Alemanha e dos europeus, nos oporíamos a qualquer tentativa de questionar o acordo nuclear.”
Recentemente, para deixar as coisas bem claras, Federica Mogherini, chefe de Relações Exteriores da União Europeia, deu seu recado: ”O acordo nuclear não pertence a uma nação, pertence à comunidade internacional. Temos a responsabilidade de garantir que ele continue a ser implementado. ”
Parece que, os EUA resolveram deixar pra lá. Não valeria à pena criar mais um foco de atrito com os europeus, já abespinhados com as diabruras de Trump.
Pelo menos por agora.
Não quer dizer que os americanos vão deixar o Irã em paz.
Pelo contrário.
Há alguns meses, falando no Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes, Rex Tillerson, secretário de Estado, revelou fatos surpreendentes.
A política americana em relação ao Irã ainda estava sendo desenvolvida. No entanto, Tillerson confirmou que seu gol – a derrubada do regime iraniano- permanecia o mesmo (Newsweek, 27 de junho de 2017).
Sendo mais específico, ele informou que os EUA confiavam na ação de “elementos no interior do Irã”. Estes cidadãos poderiam vir a ser apoiados pelo governo de Washington para promover a mudança de regime.
O generoso Tillerson declarou esperar que esta “transição de governo seja pacífica. ”
Especula-se que os “elementos no interior do Irã” pertenceriam ao Mujahedin-el-Khalk, o MEK.
Trata-se de um movimento de oposição ao regime de Teerã que se aliou ao falecido Saddam Hussein, na guerra que o ditador moveu contra o Irã.
Seus membros praticaram no passado uma série de atentados, inclusive contra diplomatas e oficiais americanos.
No auge de seu poder, o MEK matou cerca de 12 mil iranianos, segundo o governo dos aiatolás.
Há alguns anos, tornou-se colaborador do Mossad- o serviço de espionagem israelense- tendo participado do assassinato de vários cientistas nucleares iranianos (The Guardian, 22 de setembro de 2012).
Durante muito tempo, o MEK constava da lista negra de grupos terroristas, elaborada pelo departamento de Estado dos EUA.
Porém, em 2012, depois de uma milionária campanha de relações públicas, conseguiu sua retirada retirado desta lista sombria, sob alegação de que teria abandonado o terrorismo.
Duramente reprimido no Irã, o MEK continua na clandestinidade, mas, muito enfraquecido, raramente consegue praticar alguma ação terrorista.
Se depender dele, Trump, Tillerson e os generais influentes na política externa americana podem perder as esperanças. Nem de forma pacífica, ou mesmo violenta, os milicianos do MEK tem qualquer chance de promover uma “mudança do regime”.
Seria muita areia para o caminhãozinho deles.
Em tudo isso, acho chocante um alto membro do governo americano anunciar que seu país planeja a eliminação do governo de outro país com quem os EUA não estão em guerra.
Incrível que a comunidade internacional faça de conta que não está a par desse autêntico escândalo.
Quanto ao Irã, ao que me consta, nem protestou. Sabe que seria falar no deserto.
Enfim, a maior potência do planeta estar acima das leis é norma implícita nas relações internacionais.