Em 2004, no Iraque, as Forças Especiais Britânicas prenderam dois paquistaneses, Yonus Ramahtulla e Anatullah Ali.
Logo em seguida, os entregaram às tropas americanas.
Tratava-se do programa de renditions da CIA, no qual indivíduos suspeitos de terrorismo eram sequestrados e enviados para locais secretos, sendo ali interrogados com torturas, longe dos olhos indiscretos da imprensa.
No caso dos paquistaneses, seu destino inicial foi a prisão de Abu Ghraib, onde dá para imaginar o que eles sofreram.
Por fim, acabaram na chamada “prisão negra” de Bagran, no Afeganistão, e lá se deu continuidade ao seu “tratamento”
Depois de 10 anos, como nada se apurou contra os dois, eles foram liberados sem acusações e sem que lhes pedissem desculpas pelo transtorno.
O caso só chegou ao conhecimento da Câmara dos Comuns em 2009, pelo então secretário da Defesa, John Huton.
Saindo da prisão, os dois paquistaneses não deixaram suas desventuras passarem batidas. Apelaram à justiça inglesa, contra o ministério de Defesa e o serviço secreto de inteligência de Sua Majestade (o MI6 de James Bond) ”
Nos anos seguintes, os governos ingleses que se sucederam tentaram evitar a instauração do processo.
Mas, em janeiro de 2017, a Suprema Corte decidiu por unanimidade que casos envolvendo acusações dos mais sérios abusos, inclusive torturas, deveriam ser julgados perante o público.
O ministério da Defesa e o Mi6 insistiram que as alegações de cumplicidade inglesa em torturas teriam de ser discutidas na Suprema Corte, atrás de portas fechadas.
Tudo indica que não vão ser ouvidos.
Lord Mance, um dos juízes, já deixou claro: “As leis inglesas reconhecem a existência de direitos fundamentais (Middle East Eye, 9 de março). ”
Será a primeira vez que o povo inglês ficará conhecendo oficialmente a cumplicidade de suas forças armadas nas violações dos direitos humanos da criminosa operação renditions, da CIA, do presidente George W.Bush.
“A justiça precisa ser feita e vista sendo feita”, comentou com muita propriedade a advogada dos torturados, Maya Lester.