Cinco anos depois de matar um garoto, os EUA matam sua irmãzinha.

Em 2011, com autorização do então presidente Barack Obama, um drone americano assassinou Adbdulrahman al -Awaki.

Ele não planejava nenhum ataque contra os EUA.

Não era líder ou sequer simples miliciano da al-Qaeda.

Era apenas um garoto de 16 anos, assassinado por aquele drone  americano quando se despedia de um primo de 17 anos, que o mesmo drone também matou.

Convém notar que a morte de Abdulrahaman não se tratou de um dos chamados “efeitos colaterais” pois o drone foi disparado contra ele.

Seu pai, elemento de destaque na al-Qaeda, tinha sido morto por outro drone, há apenas três semanas.

Talvez o crime de Abdulrahaman fosse ter um pai terrorista.

Pelo menos, foi o que alegou Gibbs, porta-voz do ex-presidente Obama, ao justificar o assassinato deste garoto de 16 anos, sugerindo que seu pai deveria ser mais responsável, preocupado com o bem estar do filho…

Cinco anos depois, com autorização expressa do atual presidente, Donald Trump, uma equipe de operações especiais da Marinha – o Seal Team 6 – lançou um ataque contra casa que abrigava figuras importantes da al Qaeda, em Yakla, cidadezinha do Iêmen.

Segundo comunicado do Pentágono, foram mortos 14 terroristas, lamentando-se a morte de um soldado americano, além de quatro feridos.

O presidente Trump fez questão de receber os militares da ação, saudando-os com o maior entusiasmo.

Para o Pentágono, o raid teve êxito, pois foram apreendidos “materiais de computador dentro da casa que podem conter pistas sobre futuras conspirações terroristas.”

Não foram mencionadas vítimas civis.

Mas a imprensa não se calou, mostrou que elas existiam.

Um correspondente da AP no Cairo informou que recebeu fotos mostrando vários corpos de crianças mortas, atingidas muitas  muitas vezes durante o raid em Yakla.

Oficiais do Iêmen falaram em 57 mortes.

O New York Times citou outro oficial iemenita que disse “pelo menos 8 mulheres foram mortas, mais 7 crianças entre três e 13 anos de idade.”

A respeitada ONG inglesa Reprieve contabilizou 23 civis mortos, sendo 10 crianças e um bebê recém-nascido, assassinado junto com sua mãe.

E a história completa do que realmente aconteceu veio a luz nas páginas do Washington Post e de outros veículos informativos.

Yakla era habitada e governada por uma tribo da região. Nela estava localizado uma unidade da al Qaeda, o alvo da operação do Seal Team 6.

Alertados pelo número inusitado de drones voando baixo, muitos moradores se armaram e se postaram em pontos estratégicos prevendo um ataque iminente.

Quando os comandos americanos chegaram, encontraram inesperada resistência.

Foi solicitado então cobertura de aviões e drones.

Travou-se um intenso tiroteio, que durou cerca de 50 minutos, quando um centro de saúde, uma escola, uma mesquita e diversas casas foram quase totalmente destruídos pelas bombas dos aviões e mísseis dos drones.

Baraa Shidan, informante do Retriever no local, cita depoimento por telefone do sheik tribal de Yakla, Jabr Abu Soraima: “As pessoas tinham medo de sair de casa porque os sons dos aviões e dos drones vinham de todo o céu. Cada um temia ser alvejado pelos drones ou pelos tiros dos soldados em terra.”

Questionado sobre o excessivo número de mulheres vitimadas, um representante do Pentágono explicou que havia muitas mulheres entre os atiradores da al Qaeda.

Entre elas certamente não estava Nora al-Awlaki, uma menina de apenas 8 anos, que fora visitar os avós.

Na inocência da sua idade, ela não poderia entender porque vieram à sua aldeia tantos homens de fora, com tantos aviões e amas tão terríveis, explodindo o seu mundo.

Na verdade, é mesmo muito difícil de entender.

Posso imaginar o terror que deve ter tomado conta do pequeno corpo de Nora, sacudido por explosões cada vez mais próximas.

Até que a atingiram no pescoço.

E ela foi submetida a intensa dor, durante as duas horas que durou sua agonia (testemunhado pelo avô ao repórter investigativo, Jeremy Scahil).

Coincidência trágica: há cinco anos, seu irmão Abdulrahman, que, como ela, não era terrorista, nem pretendia “conspirar contra os EUA,” sofreu um ataque mortífero, autorizado, como agora, pelo presidente dos EUA de plantão.

Dias depois do massacre de Yakla, Jeremy Scahill entrevistou o avô da menina de 8 anos e do garoto de 16 anos, mortos em prol da segurança nacional americana.

“Por que matar crianças?” ele perguntou. “Este é o novo governo- é muito triste e um grande crime.”

Em 1 de julho, o The Guardian lembrou que em seus comícios nas prévias republicanas, Trump clamou que mataria também as famílias dos suspeitos de terrorismo.

Em Yakla, sua promessa foi cumprida.

 

 

 

 

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