Iraque: mão pesada com os seguranças americanos.

A vida está ficando difícil para os seguranças americanos no Iraque.

 

Nas últimas semanas da retirada das forças dos EUA, o governo do Primeiro Ministro Maliki começou a despejar seguranças e firmas americanas da super fortificada “Zona Verde”, onde se localizam as embaixadas e ministérios.

Ainda antes do fim do ano, autoridades iraquianas detiveram algumas centenas de seguranças estrangeiros, especialmente americanos. As detenções aconteceram especialmente no aeroporto de Bagdá e em checkpoints.

Os motivos alegados foram irregularidades nos documentos, vistos, autorizações para uso de armas e para viajar por certas estradas.

Os seguranças ficaram detidos por prazos entre algumas horas e três semanas.

O governo recusou-se a renovar permissões de residência vencidas. Em alguns casos, os seguranças foram avisados que tinham 10 dias para deixarem o Iraque, ou seriam presos.

No início do ano, mais de cem seguranças foram confinados ao aeroporto de Bagdá por uma semana até que as dúvidas referentes a seus vistos  fossem resolvidas.

Comentando essa nova postura do governo, Latif Rashid, conselheiro sênior do Presidente Talabani, declarou: ”Nós devemos aplicar nossas próprias regras, agora”.

Atualmente, existem no Iraque 5.500 seguranças protegendo os diplomatas e funcionários da embaixada americana e entre 7 a 11.000, a serviço de empresas particulares.

Eles constituem a presença armada dos EUA no Iraque.

Durante a ocupação, atuavam como verdadeiras unidades de apoio do exército americano. Um bom exemplo é o que aconteceu em Abu Ghraib. No relatório do major general Antonio M.Taguba, ao alto comando dos EUA, ele acusa seguranças da CACI de serem “direta ou indiretamente” responsáveis pelas torturas. O relatório Taguba menciona especificamente um segurança da CACI, Steven Stephanowicz, por ter estimulado um policial sob seu comando a aterrorizar presos “deixando claro que suas instruções incluíam uso de violências físicas”.

Em outros episódios, os seguranças abusaram da violência, atingindo inclusive civis. O mais grave foi o tiroteio da Praça Nisour, em Bagdá, em 2007, quando seguranças da Blackwater, sem motivo algum, atiraram indiscriminadamente no povo, matando 17 pessoas.

Os seguranças passavam dos limites, pois, estando a serviço do exército americano, gozavam de imunidade face a lei iraquiana: não podiam ser processados pela justiça local.

Os envolvidos no morticínio da Praça Nisour foram processados na justiça dos EUA, porém, acabaram sendo todos absolvidos.

O governo do Iraque expulsou a Blackwater do país e declarou que nunca mais permitiria a presença de seguranças contratados por ela. Mas a empresa não se tocou: mudou seu nome para Academi e voltou a atuar no país.

Devido ao seu comportamento, a imagem dos seguranças americanos é muito ruim.

“O povo iraquiano não está feliz com os seguranças. Eles causaram muito sofrimento”, disse Rashid. “Há uma raiva generalizada contra os seguranças contratados, por parte do povo. E esse sentimento se estende a todos os estrangeiros contratados”.

Agora que os americanos se foram, os seguranças não estão mais protegidos, podem ser presos e processados no Iraque. E o Primeiro Ministro Maliki está mostrando que vai pegar duro com eles. Afinal, Maliki, é político e passa por um momento difícil, enfrentando tanto a oposição dos sunitas, quanto a dos xiitas radicais de Al-Sadr.Precisa de apoio popular.

Mas os seguranças americanos têm as costas quentes.

Só para dar um exemplo:  a família de Eric Price, que dirige a Blackwater tem sido uma das maiores financiadoras do Partido Republicano desde 1990. Financia as campanhas de George W.Bush há muito tempo. Por isso mesmo, o ex-presidente proclamou apreciar “os valiosos serviços da Blackwater e os sacrifícios feitos por seus funcionários na proteção das vidas das pessoas.”

Membros da International Stability Association (ISOA), que representa as principais empresas de segurança dos EUA, pediram a intervenção formal da Secretária de Estado Hillary Clinton, para defender seus interesses no Iraque.

Reclamaram que grande número dos funcionários de suas empresas, que ainda operam no Iraque sob contratos dos EUA, estão sendo presos por ordem do Primeiro Ministro Maliki.

Este pedido tem muita chance de ser aceito. Além do poder de pressão dos lobbies, interesses estratégicos estão em jogo.

Parte desses seguranças tem a missão de treinar os soldados do exército iraquiano no uso de tanques, canhões e outros armamentos recém-adquiridos dos EUA. Recorda-se que, há algumas semanas, o governo do Irã ofereceu-se para colaborar no treinamento dos iraquianos.

Obama não quer de jeito nenhum que isso aconteça. De outro lado, não pretende indispor-se com o governo iraquiano num momento em que se desenha um possível conflito com o Irã. Acredito que Maliki acabará aceitando tratar os seguranças com menos severidade, enquanto que estes terão de conformar-se em esquecer seus privilégios dos “bons tempos” da ocupação.

E obedecer às leis do Iraque, como qualquer morador do país.

Luiz Eça

www.olharomundo.com.br

17/01/2012

 

 

 

 

 

 

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