Menos para os ricos, menos para o Pentágono.

Além de republicanos e democratas, o Congresso dos EUA abriga diversos grupos com interesses ideológicos próprios, no interior dos dois grandes partidos.

Os representantes progressistas integram o Congressional Progressive Caucus, que acaba de apresentar sua proposta de orçamento da União Federal.

Se, normalmente, o orçamento da União é uma das mais importantes questões, agora quando há uma necessidade absoluta de se reduzir o déficit, sua importância ainda é maior.

De um modo geral, os progressistas propõem estimular o emprego, aumentar os impostos dos ricos, reduzir as despesas militares e manter os investimentos sociais, com alterações que aumentarão seu alcance.

Exatamente o contrário da proposta conservadora do Senador Paul Ryan, do Partido Republicano, Presidente da Comissão de Assuntos Financeiros do Senado.

Ele pretende conseguir uma redução de despesas da ordem de 4,6 trilhões de dólares, até 2023.

Para isso, sua ideia é cortar uma série de programas que beneficiam aqueles que mais precisam do auxílio estatal: pobres, velhos, crianças, estudantes e doentes.

O que traria como efeito colateral o desemprego forçado do grande número de profissionais que atuam nesses programas.

Como informa o New York Times, o Plano Ryan representa a eliminação das garantias do Medicare (seguro saúde para pessoas com mais de 65 anos e jovens deficientes) para aposentados, transformando-o num plano de vouchers ; enfraquece o Medicaid (seguro saúde para americanos de baixa renda, permitindo que os estados cortem suas verbas livremente; revoga a maioria das reformas de saúde; reduz o papel federal na educação, treinamento profissional, transporte e pesquisa médica.

Além disso, praticamente não toca no orçamento militar, tal como foi proposto pelo Pentágono, e reduz os impostos máximos pagos pelos americanos mais ricos, de 39,6% para 25%.

Aumento de empregos não passa pela cabeça de Ryan.

Já a proposta progressista dá grande importância a esse item.

Sua meta é criar 7 milhões de novos empregos, investindo 1,1 trilhão de dólares em infraestrutura, setor que se acha atualmente em condições deploráveis, entre outros estímulos à economia.

As receitas públicas seriam aumentadas com o aumento das taxas pagas por todos os que ganham mais de 250 mil dólares anuais – 2% dos americanos – a níveis da era Clinton.

Outras ideias são :

– criação da “Taxa de Responsabilidade pela Crise Financeira” a ser paga pelas instituições financeiras beneficiadas pelo “Programa de Alívio de Ativos Problemáticos”. Essas empresas, grandes demais para poderem falir, receberam subsídios estatais que seriam pagos através de taxas cobradas até saldarem seu débito com a União;

– eliminação dos subsídios dos combustíveis fósseis;

– implementação da “Regra Buffet”, que considera lucros como renda normal. Trata-se de uma ideia do milionário Warren Buffet, cujo objetivo é recuperar os gastos do governo com a estabilização da economia durante a recessão de 2009-2010.

Atualmente os impostos pagos sobre valores de capital chegam a 15% no máximo.

Com a aplicação da “Regra Buffet” nos americanos com ganhos superiores a 1 milhão de dólares, seu lucro seria taxado como renda, que seria taxada a 30%, no mínimo, totalizando uma receita de mais de 36 bilhões de dólares neste ano.

Contestando o argumento dos conservadores de que a redução dos impostos dos ricos traria mais investimentos e, portanto, mais empregos, Paul Krugman lembra que no 1º mandato de Clinton, quando a taxa dos ricos era 29,6%, foram criados 11,5 milhões de empregos.

Na área social, todos os programas existentes são mantidos.

A ideia é aperfeiçoar o atendimento médico-hospitalar, criando uma opção pública para os seguros de saúde.

Além disso, propõe-se uma emenda para permitir que o Departamento de Saúde e Serviços Humanos negocie preços com empresas farmacêuticas.

O orçamento dos progressistas claramente opõe-se à ideia de novas aventuras militares americanas, aventando cortes nas despesas para atingir os mesmos níveis de 2006.

Pede também uma mais rápida retirada do Afeganistão e uma auditoria do Pentágono para cortar custos de uma série de programa.

De um modo geral, o “Instituto de Política Econômica” avalia que o orçamento dos representantes progressistas reduziria o déficit público de 7% (como atualmente está previsto) para 1,2% do PIB, em2023.

Melhorar a qualidade de vida dos pobres, reduzir as despesas com armamentos, redistribuir um pouco das grandes fortunas e aumentar o número de empregos, com a desejável redução do déficit parece bom.

Mas não é o que pensa a maioria dos representantes e senadores.

Os republicanos não admitem salvar as finanças nacionais com o sacrifício dos ricos e do Pentágono. Preferem jogar esta carga para os ombros dos pobres.

Afinal, eles estão acostumados a sofrer.

Obama já se prepara para fazer grandes concessões na área social.

Surpreendeu sua declaração ao pessoal do Great Old Party (apelido do Partido Republicano): “É sério, quando eu falo em fazer cortes na rede de segurança social.”

Vai ver era brincadeira quando, na campanha, ele prometia jamais fazer isso.

 

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