Poesia dá prisão perpétua.

O governo do Qatar apresentou-se como paladino da liberdade e dos direitos humanos ao fornecer armamentos às revoluções da Líbia e da Síria contra as ditaduras locais.

Nessa qualidade, o emir que governa o país visitou a Faixa de Gaza, levando seu apoio à luta daquele sofrido povo. E de maneira muito concreta: com uma ajuda de 400 milhões de dólares.

Infelizmente, o Qatar não aplica seus princípios em casa.

O poeta Muhamad AL-Ajani acaba de ser condenado à prisão perpétua por ter, de acordo com as autoridades, insultado o emir que governa o Qatar e encorajado a derrubada do sistema político do país.

Ele publicou na internet um vídeo, no qual aparecia declamando “Jasmim Tunisiano”, poema louvando a revolução popular desse país.

Nesse poema, ele dizia :”Nós somos os tunisianos em face das autoridades repressivas.” E criticava os governos árabes que restringiam a liberdade.

As autoridades consideraram estas palavras um grave insulto ao emir e “incitamento à derrubada do regime”, o que lhe poderia valer até uma sentença de morte.

Os juízes não chegaram a tanto: contentaram-se em condenar o poeta à prisão por toda a vida.

Seu advogado promete recorrer, alegando fatos incríveis que teriam ocorrido no julgamento: “Este juiz fez todo o processo em segredo. Muhamad não teve permissão para se defender e eu não tive permissão para apresentar sua defesa no tribunal. Eu disse ao juiz que precisava defender meu cliente diante de um tribunal aberto e ele me mandou calar a boca.”

Como todos os países do Golfo Pérsico, o Qatar teme que a Primavera Árabe empolgue seu povo. Sua forma de enfrentar essa ameaça no país é reprimir duramente tudo que cheire, ainda que remotamente, a ideias subversivas, como liberdade e democracia.

Da mesma democracia que eles defendem com armas e dólares no exterior.

 

 

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