O NAM (organização dos Países Não-Alinhados) surgiu na Guerra Fria para defender os interesses de países que não estavam nem na órbita soviética, nem na americana.
Foi o tempo dos grandes líderes do 3º mundo, como Neru, Nasser e Sukarno, que impuseram o movimento como um protagonista importante da política internacional.
Com o fim da Guerra Fria, o NAM perdeu sua principal razão de ser.
Parte dos seus membros tornaram-se opositores da liderança mundial do EUA, parte ficou em cima do muro e ainda alguns aceitaram a hegemonia americana.
No entanto, o NAM nunca deixou de defender as grandes causas dos países que o integram.
Fazendo um balanço da reunião de Teerã, encerrada no sábado, é inegável que o Irã saiu bem.
Conforme afirmou Dina Esfandiary do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos da Grã-Bretanha: “O conclave permitiu ao Irã mostrar que ele tem amigos e parceiros de negócios apesar dos esforços internacionais para isolá-los.”
De fato, enquanto os EUA insistem que conseguiram isolar o país da comunidade internacional, a presença de 120 nações demonstrou que o Irã não está sozinho.
Especialmente porque uma das resoluções do conclave foi apoiar seu direito de produzir energia nuclear para fins pacíficos, inclusive enriquecendo o urânio.
Ora, é exatamente o que os EUA e a Europa não admitem, aplicando sanções pesadas para forçar o Irã a pedir água.
Chama a atenção o fato de que tradicionais aliados americanos aprovaram a moção em favor dos iranianos. Entre eles a Arábia Saudita, o Kuwait, as Filipinas, o Paquistão e até o fiel Bahrein.
Outras propostas aprovadas que contrariam as políticas do Departamento de Estado, foram o apoio à independência da Palestina, à libertação de todos os prisioneiros palestinos, a luta contra a discriminação e a rejeição das sanções unilaterais.
A diplomacia americana esperava a defecção do Egito depois que o Presidente Morsi condenou o regime sírio como opressivo, contra a posição iraniana, favorável a esse seu aliado.
No entanto, o Egito assinou todas as conclusões da chamada “Declaração de Teerã”. E mais: em reunião com o Presidente Ahmadinejad, Morsi reconheceu o Irã como seu parceiro estratégico.
E declarou: “Os sentimentos de fraternidade e amizade entre os povos do Irã e do Egito são mútuos e nós sempre valorizamos o caminho construtivo e progressista do Irã em direção do crescimento e do desenvolvimento.”
O apoio das 120 nações do NAM sinaliza dois fatos pouco agradáveis para a diplomacia americana.
120 nações são 2/3 da Assembléia Geral da ONU. O voto delas impedirá os EUA de conseguir que a Assembléia Geral aprove sanções contra o Irã.
De outro lado, esta maioria garante o reconhecimento da Palestina como estado independente não-membro da ONU.
Claro, o poder de fogo do dólar americano é inegável.
Lembro que no ano passado, quando a Palestina pretendia pleitear seu reconhecimento no Conselho de Segurança da ONU, Obama com um simples telefonema convenceu a majoritariamente muçulmana Bósnia a se omitir.
E assim a Palestina não teria número suficiente de votos para sua proposta ser aprovada.
Mas dobrar um país não é o mesmo que dobrar 120.
Sabe-se que não será por ali que os EUA e Israel pretendem impedir que a causa palestina seja levada a voto na Assembléia da ONU.
Influenciar a Autoridade Palestina com um conjunto de ameaças e benefícios será o recurso utilizado, como, aliás, já foi anunciado off the records.
Se Abbas, o Presidente da Autoridade Palestina, resistir, os países da NAM , formalmente alinhados com os palestinos, deverão garantir sua vitória.