A criatura voltou-se contra o criador.

Hamid Karsai, que preside o Afeganistão graças aos EUA, comunicou que não vê a hora dos americanos se mandarem.

Ele disse ao Secretário da Defesa, Leon Panetta, que prefere que os EUA e a OTAN saiam logo. Não em 2014, como estava acertado, mas, antes, em 2013.

Solicitou também que as forças estrangeiras se retirem para suas bases, deixando as cidades por conta das tropas afegãs.

E, para os americanos ficarem ainda mais chateados, declarou que, se quiserem deixar instrutores e uma força especial quando partirem, vão ter de esquecer os raids noturnos e submeter seu pessoal às leis afegãs.

Esclareceu que o exército afegão está apto a assumir a defesa do país e do governo.

Quanto aos raids noturnos, disse Karsai, eles desrespeitam a santidade dos lares, invadindo casas no meio da noite, prendendo e muitas vezes matando pacíficos afegãos.

Finalmente, depois da partida do grosso das tropas estrangeiras, ele quer que só haja uma lei no Afeganistão: a lei do país.

E Karsai aproveitou o embalo para reclamar da transferência para o Kuwait do sargento que matou 16 pessoas, em plena madrugada.

Diante desta avalanche de más notícias, Panetta só conseguiu dizer estar certo de que EUA e Afeganistão chegarão a um acordo sobre as condições da permanência de militares americanos depois da retirada geral.

Quanto à antecipação da partida das tropas, fez de conta que não ouviu nada.

Não sei se é uma jogada para impressionar os eleitores. Palavras lançadas ao vento e logo esquecidas.

Ou se Karsai pediu muito para, ao menos, conseguir alguma coisa: talvez, o fim dos raids noturnos ou mesmo a saída das forças da OTAN das cidades.

Há uma terceira hipótese: o exército afegão, que até agora matou tanto americanos, quanto talibãs, resolveu mostrar que existe. E exige respeito.