Espiões são indivíduos que agem nas sombras e limitam-se a cumprir ordens, sem se envolver em questões políticas.
Assim aprendemos nos livros, matérias jornalísticas e filmes, especialmente os de 007, que continua a aparecer, infelizmente sem a classe de James Bond, o primeiro 007.
Eis que Andrew Parker, o chefe dos espiões ingleses resolve descumprir o script de sua profissão e pontificar sobre questões de política internacional.
Seria melhor cuidar do seu Jaguar, viajar por maravilhosas paisagens do Caribe e da Côte D´Azur, enquanto conquista mulheres incríveis e derrota sinistros vilões, como faz seu colega, 007.
Do contrário não faria feio quando entrevistado pelo The Guardian.
Ele pregou sobre a “ameaça crescente” que a Rússia representava contra os interesses ingleses em todo o mundo.
Segundo Parker, a Rússia se define como oposição ao Ocidente e, apesar de ser uma ameaça secreta durante décadas, tornou-se agora cada vez mais hostil. Como exemplos ele citou as operações de Moscou na Ucrânia e na Síria como provas de que ela está agindo para prejudicar o Ocidente.
Infelizmente para o espião-chefe inglês as coisas que ele cita para justificar sua acusação, mostram exatamente o contrário.
Foram os ingleses e americanos que deram força ao golpe de Estado que derrubou o governo ucraniano, muito próximo a Moscou.
Golpe sim, como diz Geroge Friedman, presidente do insuspeito Think Tank, Stratford: O golpe de Kiew foi o mais clamoroso golpe da hist.[ória.”
Assumiu então um governo hostil que representa uma ameaça à segurança russa por ter fronteiras com o país de Tolstoi. Onde a NATO, em breve, deverá posicionar artilharia voltada para Moscou.
Nesse caso, quem agiu para prejudicar outrem não foram os russos. mas os americanos, com ajuda inglesa.
Quanto à Síria, trata-se de um importante aliado russo no Oriente Médio, onde está localizada uma base naval russa, a única que Moscou tem no mar Mediterrâneo.
Foram os americanos e ingleses que tomaram a iniciativa de apoiar um movimento rebelde contra o governo sírio de Al-Assad.
Ao lado de outros países da constelação americana, como o Qatar e a Arábia Saudita, os EUA e o Reino Unido vem desde então fornecendo armas, treinamento e apoio logístico às forças anti Al-Assad. Inclusive aos terroristas da Nussra, fundada pela al Qaeda.
A Rússia entrou na guerra para defender um governo aliado e, obviamente, sua base naval no estratégico Mar Mediterrâneo.
Claro, seu interesse maior no caso é salvar Assad para manter sua área de influência no Oriente Médio.
Note que nesse caso, agressor foram os americanos e ingleses, que estão apoiando a rebeldia contra o governo de Damasco para enfraquecer a Rússia e seu protagonismo na região.
A entrevista do chefe da espionagem inglesa foi a primeira concedida por alguém desse cargo sobre questões políticas.
Talvez Andrew Parker seja um eficiente chefe de espiões, mas, ao entrar numa praia que não é sua, ele não se saiu nada bem.
Ao criticar os russos, acabou criticando os EUA e o governo da Rainha, indiretamente.
Seria melhor para ele voltar ao anonimato, a sua zona de conforto no escritório do MI5, em Londres, onde poderá errar sem sair nos jornais.
Talvez assim, depois de um certo tempo, ele volte a ser convidado para o chá das cinco no palácio real, do qual deve ter sido excluído depois das impropriedades que andou dizendo.