Governo mexicano sabota investigação independente dos 43 estudantes mortos em Iguala.

Em setembro de 2014, 43 estudantes foram mortos a tiros em Iguala por policiais, ajudados por pistoleiros do narcotráfico. Seus corpos misteriosamente desapareceram da cena do crime.

Diante do gigantesco clamor público, o governo Peña Nieto ordenou uma caçada dos criminosos e uma busca dos cadáveres em todo o país.

Logo descobriu-se que foram as autoridades municipais quem ordenaram a prática do crime aos agentes de segurança. No entanto, o tempo foi passando e nada se sabia sobre os corpos das vítimas e os bandidos executores do morticínio.

Suspeitava-se de ligações com figuras importantes da política federal.

Sob pressão popular, o governo nomeou uma comissão de especialistas independentes para colaborarem na elucidação do crime.

Nestes dois anos que passaram, o procurador federal anunciou várias vezes que a polícia tinha desvendado o mistério, sabia o que fora feito dos corpos. Provou-se que nada era verdade.

Numa dessas versões fantasiosas, cinco delinquentes foram acusados pela polícia, sem provas suficientes.

Houve confissões, é verdade, mas obtidas sob tortura conforme revelou um dos cinco, Patrício Reyes Landa, que teria sido submetido a choques elétricos nos testículos, waterboarding e agressões físicas para confessar. “Eles me ameaçaram de me cortar em pedaços e me jogar fora dentro de sacos”, informou Landa.

Em maio, a comissão independente de investigação do crime publicou um relatório que deixa o governo muito mal.

Acusa as autoridades federais da destruição de um tape das câmeras de segurança que mostrava o ataque no ônibus em que vinham os estudantes

O relatório não ficou nisso. Aponta uma série de fatos suspeitos:

– o pedido dos especialistas para inspecionar um dos cinco ônibus em que vinham os estudantes não foi atendido. Em seu lugar foi enviado outro ônibus com aparência semelhante;

– as autoridades demoravam muito para responder às solicitações:

– atrasavam os resultados dos testes;

– recusavam-se a seguir outras linhas de investigação, além da que tinham se fixado inicialmente;

– as autoridades interferiam nas investigações da comissão de especialistas.

Por fim, a comissão independente rejeitou as conclusões da investigação oficial de que os corpos dos jovens teriam sido queimados numa lixeira.

E o caso continua em aberto.

E mais um entre os muitos escândalos que tem manchado a política de segurança de Peña Nieto.

O mais recente foi a apresentação de um video mostrando policiais e soldados torturando uma mulher acusada de cumplicidade com o narcotráfico.
As técnicas usadas pelos dos agentes foram escolhidas porque não deixam marcas físicas. Assim não existem provas das torturas realizadas.

Numa demonstração de que há “algo de podre no reino da Dinamarca”, algumas semanas atrás o governo recusou-se a permitir a entrada no México do relator especial da ONU sobre torturas.

Ele havia publicado no ano passado um relatório afirmando que a tortura no país era generalizada.

Na ocasião, as autoridades negaram tudo.

Mas os números estavam contra elas.

Em 2006, o procurador geral recebeu 23 queixas de torturas praticadas pela polícia e pelo exército.

8 anos depois as queixas se multiplicaram, chegaram a 2.304.

As barreiras impostas pelos órgãos de segurança ao trabalho da comissão de especialistas independentes vão se completar agora.

Foi anunciado que seu mandato não será renovado pelo governo.

Tudo indica que o massacre de Iguala ficará impune.

 

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